Quando um cego chora

Pieter Bruegel. A parábola dos cegos. 1568

O domingo é sagrado, dia de ansiolíticos e antidepressivos naturais. Há quem combine uns e outros. Na vida quotidiana também se entrelaçam (Norbert Elias e Eric Dunning, A busca da excitação, 1986). Por exemplo, durante um espectáculo de futebol as doses alternam-se (Albertino Gonçalves, Vertigens, 2009). Domingo é dia de compensação. Mais vale jogar à sueca em casa do que labirintar no poker de massas. Gosto de namorar o passado. O passado não para de crescer! O presente não o agarro e o futuro não o conheço. O meu passado é um contrabandista: atravessa as fronteiras do tempo. O domingo é dia de música. Música ultrapassada. Um rosário de pérolas barrocas, amuleto contra os carneiros de Panurgo (François Rabelais, Pantagruel, c. 1532). Já coloquei no Tendências do Imaginário a canção When a blind man cries, dos Deep Purple (https://tendimag.com/2015/10/01/when-a-blind-man-cries/). Uma espécie de gata borralheira para o Ritchie Blackmore, a música foi editado num single em 1972. Esperou pelos anos noventa para subir aos palcos e figurar nas antologias. A versão de 1999 de Ritchie Sambora, ex Bon Jovi, pouco difere do original. Mas o vídeo musical é pedagógico. Ensina que 1) não existem abraços electrónicos; 2) Os média podem estimular abraços; 3) Por detrás dos média, há sempre alguém; e 4) os sonhos existem e são humanos.

Só agora, concluído o texto, me apercebi, enquanto procurava um vídeo com melhor resolução, que esta curta-metragem foi escrita e realizada por um português: Nuno Rocha, para a LG Portugal. Pontes.

Richie Sambora (Deep Purple cover) – When A Blind Man Cries | LG — «Momentos». Guião e realização de Nuno Rocha. 2010.

Tags: , , , , , , ,

Leave a Reply

%d bloggers like this: