Adrenalina

Cosmos, estratosfera, voo, liberdade. Vertigem, aceleração, velocidade, adrenalina. Queda, mergulho, regeneração, biografia. Instante, Intensidade, vitalismo. Emoção, corpo, plenitude. Radical, risco, ousado, não convencional. A estética e a sensualidade como marcadores da experiência humana. Flores da nossa (pós)modernidade, valores do tempo presente. Cupra, marca do novo automóvel do grupo SEAT, aposta vigorosamente neste anúncio. Com a participação da atriz Nathalie Emmanuel (A Guerra dos Tronos) e música original de Loyle Carner, o anúncio estreia no intervalo do jogo de futebol entre o Real Madrid e o Barcelona.

As imagens do anúncio lembram a figura de Ícaro. Seguem duas pinturas: uma de Pieter Brueghel (Paisagem com a queda de Ícaro, 1558), a outra de Pieter Paul Rubens (A queda de Ícaro, 1636).
Agarrar o vento e sentar-se ao sol

Cativar o sol e o vento é arte antiga. Arquimedes engenhou, durante o cerco romano a Siracusa, um espelho côncavo cujos raios solares incendiaram os barcos inimigos. O vento soprava nas velas romanas e o sol grego queimava os cascos.
O anúncio The Collectors, da Energy Upgrade California, propõe múltiplas formas, efetivas ou poéticas, de capturar o vento e o sol. Brilhante e original. Belas imagens, bom ritmo, boa música. Um oásis de prazer nas dunas da Internet! Sejam louvadas as energias eólica e solar!
A importância dos objetos

Separados pelo confinamento, avô e neta aproximam-se graças às novas tecnologias e a um pequeno urso de peluche. Os objetos são bons meios de comunicação e comunhão. Uma jangada de afetos. Um anúncio da NOS, pela agência HAVAS Portugal.
Surtos

“O Secretário Adjunto de Estado e da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou na habitual conferência de imprensa para dar conta da evolução da pandemia, que estão identificados 477 surtos em escolas em todo o país, mas este número reflete a situação em todo o território. Um comunicado do Ministério da Saúde indica que nos estabelecimentos de ensino se registavam 68 surtos a 16 de novembro
Portugal tem 68 surtos ativos de infeção em escolas pelo novo coronavírus, de acordo com um comunicado emitido pelo Ministério da Saúde e que corrige a informação prestada esta sexta-feira pelo secretário de Estado da Saúde, que indicou haver 477 surtos ativos em estabelecimentos de ensino quando este número se refere ao total que se verifica no país.
“Os surtos identificados” a 16 de novembro, esclarece a nota do Ministério, “distribuem-se da seguinte forma: 3 na ARS Norte, 11 na ARS Centro, 50 na ARS LVT, 2 na ARS Alentejo e 2 na ARS Algarve, no total de 68 em todo o Continente”” (https://expresso.pt/sociedade/2020-11-20-Covid-19.-Ministerio-corrige-o-secretario-de-Estado-da-Saude-ha-68-surtos-de-infecao-ativos-em-escolas).
Falta ou descoordenação da informação? Divergência de critérios? Ou desaparecimento fugaz de mais de quatrocentos surtos?
Saber, através do Ministério da Saúde, que existem 68 surtos de infeção nas escolas ou saber pela FENPROF, que existiam, a 11 de Novembro, 695 estabelecimentos de ensino com casos de Covid-19 pouco me elucida. O caso mudaria de figura se fossem as escolas as infetadas em vez dos alunos, dos professores ou dos auxiliares. Não se trata, porém, de reparar telhados mas de proteger vidas humanas.
Tropecei, imprudentemente, na palavra “surto”. A partir de que quantitativo começa um surto? Recorri ao glossário do Plano Nacional de Preparação e Resposta à Doença por novocoronavírus (COVID-19), de 2020:
“Surto – Ocorrência de um número de casos de uma doença, superior ao que seria considerado expectável, numa determinada população durante um período de tempo bem definido” (https://covid19.min-saude.pt/wp-content/uploads/2020/03/Plano-de-Conting%C3%AAncia-Novo-Coronavirus_Covid-19.pdf).
Estou esclarecido! Quando contam 68 surtos não sei o alcance. O que gostaria de saber era uma estatística simples e escorreita. Quantos alunos foram infetados com a Covid-19 desde o início das aulas até à presente data? Qual é a curva da evolução das infeções? Qual é a percentagem na respetiva população? E os professores? E os auxiliares?Trata-se de vidas humanas, independentemente de qualquer agregação.
Assim embalados, estes números suscitam suspeitas. Mas estou convicto de que não existe motivo para suspeição. Apenas opções estatísticas! . Aguardava, há uns dias, publicação oficial sobre a Covid-19 nas escolas. Essa informação acabou por ser facultada. Fiquei a saber um pouco mais que nada.
Maçã electrónica. A publicidade é uma arma

A Apple é um gigante com apetite gigantesco. O que é polémico e gera conflitos. Por exemplo, a “revolta dos 30%” da Epic Games, empresa exímia em lucros, tão chinesa como se fosse chinesa. Em causa está a partilha dos lucros. O anúncio Nineteen Eighty-Fortnite é uma reacção à reacção da Apple: Epic Games has defied the App Store Monopoly. In retaliation, Apple is blocking Fortnite from a billion devices. Visit https://fn.gg/freefortnite and join the fight to stop 2020 from becoming “1984”. Uma paródia de um dos anúncios mais icónicos da Apple: 1984 (ver https://tendimag.com/2017/10/30/o-martelo-da-revolta/). Trata-se de uma boa paródia passível de lograr os efeitos desejados: denegrir e combater a Apple recorrendo aos seus próprios argumentos. A paródia como estilo pode ser hilariante, crítica, popular e, por vezes, criativa. Não costuma ser muito subtil. A publicidade, à semelhança da cantiga de José Mário Branco, é uma arma.
Celebração

Euforia, disforia; disforia, euforia. A sociedade parece bipolar (temerosa, temerária; temerária, temerosa). Mas bipolares são as pessoas.
O anúncio Celebrating You é sentimental: amai-vos uns aos outros, e às novas tecnologias! O anúncio é “um hino à marca”, um hino “politicamente correto”. Convoca as vedetas do aplicativo TiK Tok, mais as figuras do friso ideológico hegemónico atual (em termos de etnia, género, geração, religião, cultura). Tudo muito conciso. Uma espécie de compressão do amor. “Congratulations and jubilations / I want the world to know I’m happy as can be” (Cliff Richards, Congratulations, 1968).
O espírito do vento

In 1989, F1 star Ayrton Senna shattered the lap record at Suzuka driving a McLaren-Honda, when the science of onboard racecar telemetry was still fairly new. In this new film short, Honda technicians took the original data files and, using only sound and light to indicate Senna’s position, reconstructed his flying lap around the historic Suzuka track” (http://www.ayrton-senna.net/sound-of-honda-ayrton-senna-1989/).
Ayrton Senna “regressa” ao circuito de Suzuka, numa iniciativa da Honda.
Fantasmas não faltam na música Spirit in the Night, de Bruce Springsteen (1973). O cantor esquece-se da letra durante um concerto em Barcelona (2002).
Os Manfred Mann’s Earth Band retomam a música de Bruce Sprinsteen no álbum Nightingales & Bombers (1975). Uma versão distinta.
Anjos tecnológicos

Dependentes de computadores, consolas e telemóveis? Com a quarentena, a situação agudiza-se. Prontos para viajar no ecrã mágico? Mãos autónomas e olhar táctil. A casa é uma ponte, os outros são bem-vindos e o tempo é uma pastilha elástica. Será que existem fadas ou anjos electrónicos? O anúncio With love, Jack, da marca de whiskey Jack Daniel’s, oferece uma excelente ilustração do “milagre” tecnológico.
A regra e a originalidade

É nos tempos de crise que se toma o pulso às instituições. Um mar de regras inunda as aulas. Espremidas como limões, vertem burocracia por todos os lados. Na linguagem de Max Weber, o professor deixou de ser uma autoridade carismática, como o profeta, e passou a deter um poder de direcção, de pastor, como o árbitro de futebol. O ensino evolui numa arena cercada por um coliseu de normas. Admito que estou a exagerar, mas a hipérbole afirma-se como um excelente artifício de comunicação. Requisitos, regras, plataformas e ferramentas, o que individualiza o ensino?
Entende a intelligentsia orgânica (para cruzar Karl Manheim e Antonio Gramsci) que uma aula ganha em ter um rosto, nem que seja estampado num ecrã. Concordo! Mas ganha em quê? Em aprendizagem? Duvido. Em “hiperritualização” (Erving Goffman)? Talvez. Todos concordamos que a sabedoria mora na testa, sai pela boca e resplandece nos olhos. Um dia, as aulas oscilarão entre o défice de atenção e o excedente de informação. Entre o défice e o excedente, repousa, recatada, a sabedoria. Normalize-se e certifique-se, que a originalidade é um estorvo.
Uma ovelha negra melancólica não resiste à voz “abrasiva” de Tom Waits.