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Músicas surrealizadas 03

Björk: Tabula Rasa, Mutual Core e Body Memory

Max Ernst. O Triunfo do Surrealismo. 1937

Björk recorre com frequência a vídeos surreais que se destacam pela diversidade e pelo apuro técnico e estético. Entre os mais marcantes consta All is Full of Love, realizado por Chris Cunningham em 1999. Seguem três vídeos relativamente recentes, os dois primeiros com imagens digitais e o terceiro a partir de um espetáculo ao vivo. Todos apostam no efeito de disformidade.

Björk – Tabula Rasa. Utopia. 2017. Realizado por Tobias Gremmler
Bjöork – Mutual Core. Biophilia. 2011. Realizado por Andrew Thomas Huang
Björk – Body Memory. Utopia. 2017. Stage visuals of Björk’s Cornucopia tour. Pelo artista visual Tobias Gremmler, 2021.

Músicas surrealizadas 02

Regina Spektor. Laughing With

Não há como bater o ferro enquanto está quente. Segue o segundo vídeo da série “músicas surrealizadas”: Laughing With, do álbum Far, editado em 2009, de Regina Spektor, cantora, compositora e pianista de origem russa radicada nos Estados Unidos. Convoca, sobretudo, obras do belga René Magritte (1898-1967) e do holandês Maurits C. Escher (1898-1972).

Regina Spektor – Laughint With. Far. 2009

Músicas surrealizadas 01

Rufus Wainwright. Across The Universe

Quatro vídeos musicais inspirados no surrealismo prolongaram a conversa do último sábado sobre os maneiristas: Sledgehammer (Peter Gabriel, So, 1986); How Does It Make You Feel (Air, 10 000 Hz Legend, 2001); Otherside (Red Hot Chili Peppers, Californication, 1999); Hearts A Mess (Gotye, Like Drawing Blood, 2006).

René Magritte. Golconda. 1953

Vou iniciar, em jeito de entretenimento e à semelhança da “Sociologia sem palavras”, uma série com vídeos musicais em que a presença, ou a influência, do surrealismo é notória. Chamar-lhe-ei Músicas surrealizadas. Para inaugurar: Rufus Wainwright, Across The Universe (I Am Sam, 2002).

Rufus Wainwright. Across The Universe. I Am Sam. 2002. Cover dos Beatles (19

Espantalhos

Max Ernst. Birds also Birds, Fish, Snake and Scarecrow. c. 1921

Quase não vejo televisão. Ligo-a sempre num “canal de notícias”. Não tarda alguém a misturar notícia e opinião com ares de não saber o que diz. Às vezes, até duvido da boa fé. Por exemplo, ainda ontem um telejornal apresentou de uma forma deveras insólita, parcial e perversa os resultados do concurso para médicos de medicina geral e familiar. Talvez a informação e a urgência excedam as disponibilidades de jornalistas. Alérgico a influenciadores intrusivos, desligo o televisor, razão por que, não mudando, religo fatalmente um canal de notícias. Prefiro ler alguém que não pretende pensar por mim mas fazer-me pensar. Por exemplo, o Eduardo Lourenço:

“Um pensador não é um homem que pensa, mas sim um homem que faz pensar. Um criador não é um homem que sonha, mas um homem que faz sonhar. Ser grande pensador ou grande criador é fazer pensar e sonhar uma inumerável sucessão de homens e de tempos. Esta condição original dos pensadores e dos poetas explica o mistério aparente do triunfo histórico das obras obscuras, das sinfonias incompletas, das estátuas partidas. Toda a grande obra é obscura e incompleta e essa obscuridade e imperfeição são a sombra necessária à visão do sol contínuo que lhes constitui o cerne.” (“A arte ou as estátuas partidas”, Agosto de 1954, Da Pintura. Lisboa: Gradiva, 2017, pp. 120-121).

Segue a canção “Paranoimia” dos Art of Noise. “Paranoimia” resulta da junção de “paranoia” e “insónia”: estar com medo e incapaz de dormir. Há quem ande a semear “paranoimia”, insegurança e desassossego, talvez para colher avatares do Big Brother e admiráveis mundos novos.

The Art of Noise. Paranoimia. In Visible Silence. 1986. Com Max Headroom, Paranoimia, 2017
Queen. Radio Ga Ga. Bohemian Rhapsody. 1984
Roger Waters. Amused to Death. Amused to Death. 1992

O mundo maluco e algo mais

Salto de assunto em assunto com a ligeireza de um comentador de caixinha mágica. Acabo uma conversa sobre surrealistas e maneiristas, logo inicio um capítulo, com prazo para o do Dia da Nação, sobre a implementação de zonas industriais no interior do País. Entretanto, relaxo: ontem, a Deriva, uma iniciativa do curso de mestrado em Comunicação, Arte e Cultura; hoje, passagem pelo blog e massagem musical. Procuro um CD adormecido há anos e encontro o Trading Snakeoil for Wolftickets, do Gary Jules, editado em 2001. Seguem “o mundo maluco”, “a janela quebrada” e “algo mais”.

Gary Jules c/ Mylène Farmer. Mad World. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001. Timeless 2013 Live DVD
Gary Jules. Broke Window. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001
Gary Jules. Something Else. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001

Fruta

Sara Bernardo

Ontem, segunda, dia 22 de maio, foi alterada a data, para as 18 horas de sábado, dia 27, dos próximos encontros de futebol do S.L. Benfica e do F.C. Porto. Está em jogo a conquista, e a celebração, do título. Como é possível que uma decisão que interfere expressivamente na atividade de um País seja tomada de segunda para sábado? Os maneiristas afinal estavam certos: a razão, a estabilidade e a previsibilidade valem pouco; a vida depende do destino, do acaso, do último lançamento de dados.

A conversa sobre o surrealismo e o maneirismo começa, precisamente, no mesmo dia apenas uma hora antes. A divulgação foi iniciada na quinta-feira passada. Até então não teria custado antecipar o encontro uma hora, para as 16:00. Perde-se a vontade de projetar e promover o que quer que seja. Para compensar, o público, embora provavelmente mais reduzido, será, por filtragem, cinco estrelas.

Imagem: Giuseppe Arcimboldo, Cabeça reversível com cesta de frutas , 1590

Num país retangular que não cuida de se cuidar, o mais avisado é desviar a atenção. Por exemplo, para o rio, o mar, a brisa, as nuvens, as sereias, as amazonas e as musas. E fruta, muita fruta! Maçãs, melancias, maracujás. Com a espanhola Sandra Bernardo.

Sandra Bernardo. Fruta. Trópico ideal. 2018

Desorientação

Os contrapoderes andam agitados, incisivos e imaginativos. Das pulgas fazem elefantes. Com a arte da comichão e do coçar.

Distinguem-se várias propensões, umas, por exemplo, apostadas na correção e no resgate, outras na transgressão e na renovação. Para onde oscilamos? Coexistindo, algumas tendência podem dominar as demais. A dominação torna-se hegemónica quando os dominados adotam a linguagem dos dominantes. Em que estado estamos? Enfim, poderão os contrapoderes aspirar à hegemonia?

Convido, a despropósito, ao confronto de algumas músicas de duas bandas britânicas com registos divergentes: energia, senão entusiasmo, dos Orchestral Manoeuvres In The Dark, dos anos 1980, e apelo, senão súplica, dos London Grammar, dos anos 2010.

Imagem: René Magritte. Reprodução proíbida. 1937

Orchestral Manoeuvres In The Dark. Electricity. Orchestral Manoeuvres in the Dark. 1980
Orchestral Manoeuvres In The Dark. Enola Gay. Organisation. 1980
London Grammar. Nightcall. If You Wait. 2013
London Grammar. Hey Now. If You Wait. 2013

O tempo que falta

Je l’aime tant, le temps qui reste… (Serge Reggiani, Le temps qui reste, 2002)

Je n’ ai pas peur de la route / Faudra voir, faut qu’on y goûte (Noir Désir, Le vent nous portera, des Visages, des Figures, 2001)

Quarenta alunos da Academia Sénior de Braga deslocaram-se a Melgaço a semana passada. Visitaram o Espaço Memória e Fronteira, o Solar do Alvarinho, as Termas, a Torre de Menagem e o Museu do Cinema. Tive o prazer de fazer de guia. Foi um bom momento. Como se diz, um momento bem passado. Sobra ainda o tempo que falta. Para viver, naturalmente!

Serge Reggiani. Le temps qui reste. Autour de Serge Reggiani, 2002
Mea Culpa Jazz. Le vent nous portera (cover de Noir Désir). 2017

Crime e Arte

Bernardino Mei. Orestes matando Egisto e Clitemnestra. 1654

A religião do crime envenena tanto quanto a da virtude

Laure Conan (1845 – 1924)

Nos últimos dias, desapareci praticamente das redes sociais. Estou a preparar duas comunicações: uma para o Seminário Crime e Arte, no dia 15 e 16 de maio, terça, no Auditório Nobre da Escola de Direito da Universidade do Minho, intitulada “A ambivalência do crime na arte”, com duração prevista de 20 minutos, a outra, que mais me (pre)ocupa, no dia 27 de maio, sábado, no Auditório do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, intitulada “Os antepassados do surrealismo: o maneirismo”, que ultrapassará os 60 minutos. Absorve-me a construção dos elementos audiovisuais: em consonância com o tema, vai relevar mais de um espetáculo do que de uma conversa, mais parente da arte do que da ciência. Prevê o visionamento de seis apresentações com fundo musical, bem como de videoclips, anúncios e publicações originais dos séculos XVI e XVII.

Anexo o cartaz do III Seminário Crime e Arte, Aproveito o ensejo e o intervalo para acrescentar o vídeo musical da canção “Bonnie and Clyde”, de Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot (1968).

Serge Gainsbourg & Brigitte Bardot. Bonnie and Clyde. Serge Gainsbourg, Initials B. B., 1968 / Serge Gainsbourg & Brigitte Bardo, Bonnie and Clyde, 168.

Celtitude

Vaso decorativo celta. Bronze. Séc. III AC. Brno, Museu Moraviano

Trata-se de uma mensagem nascida na Bretanha que se tornou universal. Criou um imaginário celta. Fala-se desta música há séculos mas a Bretanha inventou o conceito do género, de cujo imaginário vários países se alimentam. O interceltismo é um sentimento. Os instrumentos da família da cornamusa proporcionam um laço, e a celtitude seria como que um esperanto do Atlântico. Tudo viria da península ibérica (Carlos Nuñez, “La celtitude est une sorte d’espéranto de l’Atlantique”, jornal Le Monde, 02.08.2015)

Ao norte! Ao norte! Ainda mais ao norte, que não há jeito de escapar aos roedores redentores da humanidade, preocupante ameaça de peste moral.

Junto à foz do rio Minho, “de mãos dadas com a Galiza”, ressoam resquícios reconfortantes de celtitude, uma espécie de âncora alada. Ressoam, ao longe, algumas melodias provenientes da Bretanha. Nesta amostra de canções tradicionais, interpretadas pelo “venerável” Alan Stivell, que as resgatou, e pela “jovem” Nolwenn Leroy, que as revitaliza. A velha e a nova guarda, lado a lado.

Aos remos! Aos remos, marinheiros, que o mar está crispado e os faróis ofuscados.

Alan Stivell. Son Ar Chistr. Reflets. 1970.
Nolwenn Leroy. Tri Martelod. Bretonne. 2010. Ao vivo
Alan Stivell & Nolwenn Leroy. Bro Gozh. Ao vivo no Olympia, em 2012
Alan Stivell. Brian Boru. Brian Boru. 1995. Ao vivo no “Bretagnes à Bercy”, em 1999