Baforada sombria. Não nos deixes, valor!
Les hommes et les femmes, ou bien se dévorent rapidement dans ce qu’on appelle l’acte d’amour, ou bien s’engagent dans une longue habitude à deux. Entre ces extrêmes, il n’y a pas souvent de milieu. Cela non plus n’est pas original. À Oran comme ailleurs, faute de temps et de réflexion, on est bien obligé de s’aimer sans le savoir (Camus. La Peste. Impressão de 1955, p. 15).
On eût dit que la terre même où étaient plantées nos maisons se purgeait de son chargement d’humeurs, qu’elle laissait monter à la surface des furoncles et des sanies qui, jusqu’ici, la travaillaient intérieurement. Qu’on envisage seulement la stupéfaction de notre petite ville, si tranquille jusque-là, et bouleversée en quelques jours, comme un homme bien portant dont le sang épais se mettrait tout d’un coup en révolution! (Camus. La Peste, p. 26).

Às vezes, cobre-me o negrume de escritos que não visito há quase meio século. E releio. Por exemplo, o primeiro capítulo do romance A Peste (1947), de Albert Camus. Aqueles ratos! Tantos ratos… Um prenúncio mais que somático. E ressoam as palavras e os acordes tétricos dos Aguaviva. Alegorias? Metonímias?
Re-vira-voltas. Sílvia Pérez Cruz
Com o visual pensamos, com o acústico nos sentimos
A vida é feita de viragens. Quando regressei a Portugal nos anos oitenta, a tónica passou de estimulado para estimulante; com o advento do milénio, a vocação académica emagreceu para profissão universitária; e, recentemente, a devoção à sociologia, acompanhada pela música e pela arte, a devoção à música e à arte, acompanhada pela sociologia.
Durante a infância, a sombra da Espanha pairava por todos os cantos. O olhar para lá se estendia e a eletricidade de lá provinha. O contrabando ia e vinha. Até o apito do comboio da outra margem anunciava o tempo: consoante se ouvia mais ou menos, assim faria chuva ou sol. A televisão era a espanhola. Para assistir a um jogo de futebol com equipas portuguesas, deslocávamo-nos a Castro Laboreiro. Pelo menos, em duas novidades, o progresso chegou primeiro ao monte do que à ribeira: nas antenas e nas eólicas. Tenho raízes transfronteiriças, regadas com calda gaulesa. No entanto, o Tendências do Imaginário tem-se dedicado pouco à música destes países. Nunca é tarde para emendar. Por vias travessas, reencontrei a música de Sílvia Pérez Cruz, mui rara compositora e intérprete catalã.

“Sílvia Pérez Cruz é uma grande voz. Diria mais! É uma grande voz que sabe cantar. “Pequeño Vals Vienés” baseia-se na música que Leonard Cohen compôs (Take This Waltz, 1986) para o poema Pequeño Vals Vienés, de Federico García Lorca. Os gostos tendem a cruzar-se. São as tais afinidades electivas. Ontem. Leonard Cohen, hoje, Sílvia Pérez Cruz. Dancemos, não de lado, mas de frente” (https://tendimag.com/2016/03/29/valsa/).
Para tomar o gosto, meia dúzia de canções, dispostas por ordem cronológica.
Virtualidades pouco virtuosas

Cada vez se torna mais complicado distinguir a realidade do imaginário. Por vezes, somos mais estimulados pela cópia do que pelo original. Tomamos, inclusivamente, como reais realidades que nunca existiram. Jean Baudrillard fala em hiper-realidade. Estes três anúncios da Fotoprix são duplamente dúbios: pela ilusão e pela mensagem. Virtualidades pouco virtuosas.
Sombras frias
A memória de estar entre os que vão morrer é uma ferida latente

Três canções de morte sem luto e de luto sem morte dos Aguaviva, grupo catalão dos anos setenta que ainda escuto com calado respeito.
Ah pon tu cuerpo a tierra tierra tierra
Y siembra siembra siembra siémbrate
en el cuenco del ojo tierra tierra, cuerpo a tierra.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(A tierra, tierra, pon tu cuerpo a tierra)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(Tierra tierra gitano tierra comba)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(Paraíso gitano luna siembra siembra)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(siembra gitano siembra sombra)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(A tierra pon tu cuerpo a tierra muerta)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(Muerta gitano la esperanza muerta)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(Gitano la esperanza muerta muerta)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon
Pon tu cuerpo a tierra pon a tierra pon
(y la esperanza muerta muerta muerta)
Siembra sombra siembra sombra a tierra pon.
En la limosna de las manos tierra
En la lengua el escupitajo
Escúpeles con asco el asco de tu tierra muerta
Pon tu cuerpo a tierra
Canciós del que está quieto
Aquí se está quieto
Pero el mundo sigue girando.
Aquí se mueven los pájaros, pero están quietos
Y el mundo sigue girando
Yo estoy quieto
Pero el mundo dentro de mí esta girando
Qué saben esos caballos, estas dulces campanillas
Estos perros y este largo sollozo de la paloma?
Qué el hombre que va en el aire galopando?
Se mueven, pero están quietos,
Y el mundo sigue girando
La Víspera
Escrito está en un papel
que me fusilan al alba.
Si yo supiera de letra
te escribiría una carta.
Pero nunca fui a la escuela
porque fui pastor de cabras.
Dice el cura que hoy aquí…
esta sociedad me mata.
¿Y quién es la sociedad
que me mata por la espalda?
¿Por qué me dieron paga
cuando crío, sin que fuera
una carga pa mi casa?
Si maté al amo aquel día
era porque me robaba.
Más me valiera haber muerto
a aquel que lo autorizaba.
Y porque se haga justicia
y la paz reine en España,
me ha dicho el jefe de aquí
que me fusilan al alba.
Anúncio quase perfeito

De qualquer ângulo, o anúncio “She/Abuelo”, da J&B Spain, é quase perfeito. Só não é perfeito porque a perfeição não existe.
De sapatilhas em Melgaço

ZXM, Zapatillas pxr el mundo, um canal do YouTube dedicado à viagem, ao lazer e ao turismo, visitou Melgaço. Este vídeo de 21 minutos em espanhol foi um dos resultados.
Quem são os Zapatillas por el Mundo?
Albert y Ana
Pues si… somos Zapatillas por el mundo.
Para los que aún no nos conozcáis nuestros nombres son Ana y Albert un par de aventureros que un dÍa decidieron viajar juntos por el mundo y por la vida.
Tras algunos viajes juntos y casi 20 años dedicados al mundo del marketing y de la comunicación, un día decidimos contarle al mundo lo que nuestros ojos veían y creamos nuestro canal de YOUTUBE, desde entonces, la cámara siempre nos acompaña para captar momentos en formato vídeo para después contar las experiencias, las historias de aquellos lugares que visitamos.
Hoy, viajamos arropados por ti que a través de la pantalla nos acompañas día a día. Y es que una de las cosas que más nos gusta, es poder inspirarte, a viajar, conocer nuevos destinos y lugares, vivir nuevas experiencias… y todo esto de una forma amena y muy cercana, mostrándote toda la información que necesitas para emprender este viaje que tienes entre ceja y ceja ((https://zapatillasporelmundo.com/nosotros/).
Aleluia

Ao Jean Martin Rabot que conheci há 40 anos em Paris na casa do Michel Maffesoli.
No regresso de uma aula ao doutoramento em Estudos Culturais, aguarda-me uma surpresa agradável: um atalho para a canção Una Noche Más, de Yasmin Levy. A terceira sugestão de Rui Rito, após a música Born Free, de Giovanni Marradi (https://www.youtube.com/watch?v=KBtYWkxOOCA), e a canção Et si tu n’existais pas, de Joe Dassin (https://www.youtube.com/watch?v=Ueba8LaflnE). Trata-se de um gesto raro que me sensibiliza. Ao Tendências do Imaginário e à minha página no facebook falta-lhes o oxigénio da reação dos visitantes. Nem sombra de reciprocidade. Os artigos parecem dar sumiço num monstruoso buraco negro, sem ressonância.

Desde janeiro de 2011, com 3 758 artigos e 1 228 271 visualizações, o Tendências do Imaginário mereceu 1 156 comentários, 968 circunscritos a apenas sete pessoas, somando uma 785. No facebook, uma dúzia de “gostos” num artigo, quase sempre pelos mesmos amigos, já satisfaz. Escrevo para um público que, eletronicamente, não corresponde. Como se houvesse alguma intimidação ou toxicidade. Uma sugestão ergue-se como uma flor no deserto, a mais improvável e encantadora.
Escutar Yasmin Levy aproxima-se de uma revelação. Lembra, com a devida modéstia, a madalena da Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, ou a espreguiçadeira de Hans Castorp no sanatório da Montanha Mágica, de Thomas Mann. Escutei de enfiada até às tantas da madrugada uma trintena de canções. Desconhecia Yasmin Levy. Ainda bem. Neste mar de ignorância, uma descoberta é uma jangada, uma oportunidade de sabedoria. Demasiado recente, o parco conhecimento da obra de Yasmin Levy dificulta a seleção das músicas. Segue, portanto, uma incontinência de cinco vídeos.

Nascida em Israel, em 1975, Yasmin Levy é filha de um folclorista turco, Yitzhak Levy, (…) que colectava canções em ladino (a língua dos judeus da Península Ibérica). A obra de Yasmin inclui músicas em ladino, espanhol, hebraico, árabe e turco (…) O jornal Guardian considerou Yasmin “uma das melhores cantoras do Médio Oriente” (…) Numa mescla de música cigana (flamenco) com instrumentos como o alaúde, o violoncelo, e o piano e uma maneira moderna de cantar, ela deu nova vida a letras muito antigas, vindas dos bairros judeus habitados pelos descendentes dos exilados de Portugal e Espanha no século XVI” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Yasmin_Levy).
Meigas

Existem momentos em que o contexto, os astros, as afinidades e as predisposições se conjugam para transformar a comunicação em comunhão, a porta em ponte, o limite em prolongamento, a cara em carinho e o saber em conhecer (do latim cognoscere, de com, junto, mais gnoscere, saber, ou seja, saber em conjunto). As pessoas, os gestos e os pormenores parecem apostados em entrelaçar as mãos. Não sei por que estou a escrever estas palavras. Deve ter sido algum pirilampo que passou pelo teclado.
Serões do Medo. Melgaço. 21.10.2022
Regressei de Melgaço com os ouvidos cheios de testemunhos de experiências sobrenaturais: acompanhamentos, aparições, sinais, bruxas e meigas. Proporciona-se a canção Túa nai é meiga e, por acréscimo, Alalá Das Mariñas, ambas de Uxía.
Anúncios de bolso
Com poucas imagens se ilustra muito. Publicidade vintage.
Para aceder ao segundo anúncio, carregar na imagem seguinte.
