Um canto a Galiza
Faz tempo que não vou à aldeia. Criança, mal abria as janelas do quarto, a Galiza dava-me bons dias. Mais quatrocentos metros e nascia galego. Aprendi cedo, com a ferrugem dos anos, o que significa a interculturalidade. “Vendo-os assim tão pertinho / A Galiza mais o Minho / São como dois namorados / Que o rio traz separados / Quasi desde o nascimento… (João Verde, Ares da Raya, excerto). Gosto de poesia, de verdades sentimentais. João Verde escreve: “Que o rio traz separados”. O Minho não separa, une! Nas ruas de Melgaço, Monção, Valença, Cerveira e Caminha fala-se tanto português como galego. E come-se bacalhau!
Uma cantiga com a voz de Luz Casal, a gaita-de-foles de Carlos Nuñez e a poesia de Rosalía de Castro é uma Negra Sombra abençoada. Festiva é a interpretação ao vivo de Mar Adentro por Carlos Nuñez. Carregar nas imagens para aceder aos vídeos.
Luz Casal & Carlos Nuñez. Negra Sombra. Poema de Rosalía de Castro.
Levantar uma tempestade
Estava com saudades de uma boa imagem congelada. A técnica, frozen, esteve em moda mas tornou-se rara. Este anúncio indiano é uma ilustração de um movimento humano típico: acelerar, parar, retroceder e recomeçar, para ver devagar.
Um motorista atravessa a multidão festiva a uma velocidade extrema. Com que discernimento as imagens com comportamentos potencialmente perigosos são para as altas autoridades ora um risco ora uma vacina?
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Marca: Pulsar RS200. Título: Raise a storm. Agência: Ogilvy & Mather Mumbai. Direcção: Vijay Sawant. Índia, Janeiro 2016.
De saída
Estamos de saída. “Partem velhos e novos”. “Este parte, aquele parte, e todos, todos se vão”. Para o estrangeiro ou para o purgatório. O mundo não é um baloiço, é um trampolim. Estas duas canções francesas falam da partida. Dos velhos e dos amigos, sem esquecer os que ficam. Duas excelentes prestações ao vivo de Daniel Guichard (Mon vieux, um cover de Jean Ferrat, 1962) e Jean-Jacques Goldman (Puisque tu pars, 1987). Pressinto que não vão gostar. Sempre que se proporciona, insisto em colocar um “tesourinho deprimente” italiano, francês, espanhol ou português. Neste capítulo, não coincido com o Estado Português. O meu mundo é latino e a minha língua não se esgota na tradução. Não é uma “língua à vinagrete”.
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Daniel Guichard, Mon Vieux, original de Jean Ferrat, 1962.
Jean-Jacques Goldman, Puisque tu pars, 1987.
Sexismo na publicidade
We are #Women not objects é um anúncio de denúncia da objectivação das mulheres. Anúncio bem concebido, criativo e com impacto. A figura da mulher objecto persiste na publicidade actual. Fala-se, há mais de meio século, da presença inaceitável da mulher objecto na publicidade. Fica-se, agora, a saber de um novo jeito e com a devida ironia.
Muito apreciava que alguém, uma ONG ou um movimento, se dedicasse a investigar a figura do homem objecto na publicidade. Existe cada vez mais. Um grupo de alunas do curso de licenciatura em Sociologia, da Universidade do Minho, fez um estudo sobre a publicidade de roupa interior masculina e feminina e conclui: “Tal como o corpo feminino, o corpo masculino aparece como um objecto de desejo” (Existem diferenças entre a publicidade de roupa interior masculina e feminina?, Universidade do Minho, Departamento de Sociologia, 2016, pág. 70). Seria, de facto, bem-vindo um projecto de investigação sobre o homem objecto na publicidade. Lograria, com certeza, resultados surpreendentes.
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Anunciante. #WomenNotObjects. Título: We are #WomenNotObjects. Agência: Badger & Winters. USA, Janeiro 2016.
A técnica e a arte
Na era da aceleração técnica, o projecto tecnológico aproxima-se da obra de arte. Não porque a técnica se converta aos cânones da arte (não faz pinturas, esculturas ou instalações), mas porque a própria técnica se assume como arte, apostando na forma tanto quanto na função. O maneirismo que envolve nos anúncios os objectos técnicos é um sinal claro dessa tendência. Tendência que não se cinge à publicidade. Atente-se nos mistos de arquitectura e técnica que albergam museus, fundações e outras construções congéneres. A forma abraça a função. O edifício rivaliza com a colecção ou a exposição. É arte sobre arte. O público assim o entende, demandando os novos roteiros das maravilhas estéticas da técnica. Falar da técnica como arte é insensato e imprudente. É certo que o assunto se entrevê nas páginas do livro de Jürgen Habermas: A Técnica e a Ciência como “Ideologia” (1968). O que não impede que Walter Benjamin, Theodor W. Adorno, Max Horkheimer, Georg Lukacs ou Lucien Goldmann se indignem no paraíso. Paciência! Se Deus morreu, não é o intelectual que o vai substituir.
O anúncio italiano Mechatronic Harmonies, da Wittenstein, é um exemplo desta aspiração estética. Depurado, estilizado, a marca só no fim aparece discreta e fugidia. Lembra E.C. Escher, Wenzel Jamnitzer e outros gravuristas maneiristas dos séculos XVI e XVII. Estranho? Nem por isso. A inovação e o arcaísmo costumam encontrar-se nas dobras do destino.
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Marca: Wittenstein. Título: Mechatronic Harmonies. Agência: Negrini & Varetto. Direcção: Luigi Pane. Itália, Janeiro 2016.
A técnica e a vida
Há anúncios cujos pormenores são cinzelados ao milímetro e ao segundo. O anúncio Experience Amazing, da Intel, é, de facto, uma experiência assombrosa. Uma cascata de imagens pontuada pela 5ª Sinfonia de Beethoven. Cada fragmento oferece-se como uma janela para um mundo assinado pela Intel: arte, música, dança, desporto, moda, videojogos, máquinas, aeronáutica, corpo, próteses, saúde, natureza, performances, ficção, computadores, multimédia, cinema, animação… A sequência final relativa ao vestido com borboletas é magnífica. Fragmento após fragmento, constrói-se o “impossível”. A utopia do diálogo entre a técnica e a vida. Com a Intel inside.
Marca: Intel. Título: Experience Amazing. Agência: McGarryBowen New York. USA, Janeiro 2016.
Dali virtual
O Dali Museum de St. Petersburg, Florida (USA), reúne a maior colecção de obras de Salvador Dali fora da Europa. Para promover a exposição consagrada à relação entre Salvador Dali e Walt Disney, inaugurada em Janeiro de 2016, o museu produziu um vídeo, intitulado Dreams of Dali, dedicado à obra Reminiscência Arqueológica do Angelus de Millet (1935). O resultado é um vídeo de realidade virtual 360º, ao mesmo tempo onírico e imersivo. Desloque o rato do computador para mover o olhar na imagem. Segue o vídeo Dreams of Dali, acompanhado pelo vídeo de apresentação do Dali Museum de St Petersburg.
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Dreams of Dali. Dali Museum in St. Petersburg. Agência Goodby Silverstein & Partners (California). USA, Janeiro 2016.
Salvador Dali Museum: an Inside Look at the Art and Architecture of The Dali, por Seamus Payne (Thecoolist.com). USA, Janeiro 2016.
Esfera de intimidade
A propósito do espaço pessoal que envolve os indivíduos, Emile Durkheim fala em “muralha de honra” e Georg Simmel em “esfera de intimidade”. Edward T. Hall estuda as distâncias interpessoais em dois livros: A Linguagem Silenciosa (1959) e A Dimensão Oculta (1966). A intrusão em determinado espaço pessoal gera, no mínimo, desconforto. A forma e a dimensão do espaço pessoal varia consoante a cultura, o estatuto social e as circunstâncias. Os anúncios do Seat Altea (Espanha, 2006) e da VLCC (2015) convocam, cada um a seu modo, a noção de esfera de intimidade. O anúncio da Seat recorre à expressão “espaço vital”, mas é uma expressão de triste memória.
Marca: Seat Altea. Título: Bubbles. Agência: Atletico International Barcelona. Direcção: Stylewar. Espanha, 2006.
O sabor dos sentimentos
A Coca-cola tem um novo slogan. Após sete anos a borbulhar felicidade, é a vez de Taste the Feeling (na campanha brasileira, “sinta o sabor”). Acabam de sair seis anúncios. Um acontecimento no mundo da publicidade. Ainda é cedo para tomar o pulso. A tendência aponta para os laços, os sentimentos e as sensações. O que atrai e o que separa as pessoas. O amor sucede à felicidade. Subsistem aspectos que pouco ou nada mudaram: no planeta Coca-cola só vivem jovens. São tão queridos! Tão gostosos! “So very tasty”. Os adultos ou não existem ou são dispensáveis.
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Marca: Coca-cola. Título: Supermarket. USA, Janeiro 2016.
Marca: Coca-cola. Título: Under pressure. Agência: Ogilvy & Mather. USA, Janeiro 2016.