Androides

L’homme qui veut dominer ses semblables suscite la machine androïde. Il abdique alors devant elle et lui délègue son humanité. Il cherche à construire la machine à penser, rêvant de pouvoir construire la machine à vouloir, la machine à vivre pour rester derrière elle sans angoisse, libéré de tout danger, exempt de tout sentiment de faiblesse, et triomphant médiatement par ce qu’il a inventé. Or, dans ce cas, la machine devenue selon l’imagination ce double de l’homme qu’est le robot, dépourvu d’intériorité, représente de façon bien évidente et inévitable un être purement mythique imaginaire. » (Simondon, Gilbert. 1958. Du mode d’existence des objets techniques. Paris, Éditions Aubier-Montaigne, p. 10).
O Extremo-Oriente habituou-nos a anúncios absurdos e hilariantes. Pela imagem e pela narrativa. O anúncio filipino Band, da RC Cola, é um bom exemplo deste género de grotesco. Os androides, fruto de uma imaginação desinibida, asseveram-se, simultaneamente, desconcertantes, ávidos e cordiais.
A bateria fantástica

Um anúncio tailandês grotesco, variante brutesca. Humor de Hollywood, do circo e do imaginário popular. Nada bate certo e tudo se encaixa, nesta procissão de disparates.
Os Punk e as aulas não presenciais

Este semestre dou aulas por teleconferência. Sou uma imagem digital. Os alunos moram algures do outro lado do ecrã. Não ligam as câmaras. Televisão versus rádio. É este o retorno. A participação dos alunos é mínima. Exceto no intervalo. Digo disparates e eles verdades. Recomeçada a aula, arrefece a comunicação. Para a próxima, a aula vai ser toda um intervalo.
Hoje, durante a aula, abordámos o imaginário grotesco. Deu-se o exemplo dos punk. Lembrei-me da banda The Offspring. Seguem três vídeos. O segundo é um caso sério de grotesco.
Cuvídeo

Não estranhe! Pode-se ter razão por linhas travessas. Quantas campanhas não mobilizaram a retaguarda! Contra a Covid, o Cuvídeo. Dê prazer ao rabo. Sente-se no sofá, e salve o próximo. O Channel 4, uma rede de televisão britânica vocacionada para a utilidade pública, apelava, em Abril de 2020, a uma nova modalidade voluntária de confinamento. O grotesco e o sério de mãos dadas.
This is an important public safety announcement, for your arse. If you have buttocks, put them on the sofa. The longer they stay there, the quicker we’ll get through this (Channel 4).
O roubo das caras

Para os lados do Japão, andam a roubar as caras às pessoas! Evite uma aberração facial, recorra à loção para a pele Gatsby. Esta é a mensagem principal do anúncio The Kawaii Tweak Hazard Song. Pelo meio, espalha-se muita imaginação e humor.
Videojogos. Viagem ao coração da emoção

A quarentena justificada pelo coronavírus aumenta o uso e o download de videojogos. O caso da China é ilustrativo:
“Um recém-publicado relatório da consultora App Annie demonstra que o número de downloads de aplicações móveis tem vindo a crescer exponencialmente na China. Ao todo, desde 2 de fevereiro, foram registados mais de 222 milhões de instalações através da App Store, em especial de aplicações de jogos. / De acordo com os dados a que o Financial Times teve acesso, o número médio de downloads registado durante as duas primeiras semanas de fevereiro na China representa um aumento de 40% em comparação com os valores verificados na totalidade de 2019”. (https://tek.sapo.pt/mobile/apps/artigos/coronavirus-quarentena-faz-aumentar-o-download-de-aplicacoes-de-videojogos-na-china).
Vem a propósito o anúncio Feel the power of PlayStation. Abismal, mergulha-nos na angústia, no medo e no choque, provocando uma emoção desconcertante. O importante é o coração, mais precisamente, o aperto do coração. Desagradável mas fascinante, lembra o filme Alien e os biomecanóides de HR Giger. Os anúncios da PlayStation têm vindo a apostar nesta estética da emoção tensa e opressiva (ver o anúncio Head, de 2006: https://tendimag.com/2014/09/18/segredos-da-mente/.
O perfume e o hálito

O Tendências do Imaginário dedicou uma série de artigos a anúncios de perfumes. Lugares mágicos, modelos extra belos e fragâncias sedutoras. Importa dissentir!
O ser humano dá sentido a tudo, e tudo avalia. A começar pelo corpo. É de entendimento comum que existem fenómenos corporais que são bons e outros que são maus. O que sai do corpo tende a ser desagradável: a transpiração, a urina, os excrementos, a mucosidade, a cera, o cuspo, o hálito… Existem, porém, excepções: o parto, a lágrima e a palavra. A alimentação e a respiração são bons exemplos desta dualidade: os alimentos são bons, mas o arroto e vómito são maus; inspirar é bom, expirar, nem por isso. Desçamos, pois, da alteza dos perfumes para a baixeza do corpo.
No anúncio tailandês, da Dentiste, o mau hálito ameaça a interacção humana. Entre modulações e repetições, durante seis minutos, os contratempos do mau hálito são ridicularizados. Com imaginação e desenvoltura. Bizarro, disse bizarro? Estranho. A percepção do corpo dos orientais difere, porventura, da nossa.
Morte divertida

Morrer a rir é um fim de vida que Deus se descuidou de criar. Mas, para nossa salvação, as novas tecnologias e a publicidade emendam a criação divina. Se quer morrer a rir, num hospital ou atolado em areias movediças, contacte a Quibi. Costumo designar este tipo de anúncio como de dupla contorção: o riso do diafragma e o calafrio do baixo ventre.