Ave Maria
Hoje fui falar ao Mosteiro de Tibães sobre a capela de São Bento. Tibães, às vezes, põe-me melancólico. E quando estou melancólico, gosto de ouvir música. Deu-me para ouvir três versões da Ave Maria:
– A versão original, de Johann Sebastian Bach, uma das minhas composições preferidas: o Prelúdio nº1 do Cravo Bem Temperado (1722).
– A Ave Maria de Charles Gounod, uma espécie de prelúdio de Bach cantado. A primeira edição, de 1853, chamava-se, precisamente, Méditation sur le Premier Prélude de Piano de S. Bach.
– A Ave Rock Maria de Michael Quatro (In Collaboration with the Gods; 1975) retoma as composições anteriores abusando dos sintetizadores. O álbum é uma raridade.
J. S. Bach, Prelúdio nº1, Cravo Bem Temperado (1722)
Charles Gounod, Ave Maria (1853). Interpretação: Maria Callas.
Michael Quatro, Ave Rock Maria, In Collaboration with the Gods (1975)
Pela nossa saúde
Depois das alheiras e do arroz de cabidela, das salsichas e dos enchidos, da pegada ecológica do atum e do bacalhau, é a vez da diminuição do sal nos restaurantes.
Numa notícia com o título “Restaurantes garantem reduzir sal a partir de 2016 nas sopas e nos acompanhamentos” (Público, 30 Out 2015) lê-se o seguinte:
“Os restaurantes que fazem parte da maior associação do sector, a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp), comprometeram-se a reduzir em 3% a 4% a quantidade de sal na sopa e em acompanhamentos, como o arroz, a massa e as batatas, a partir do próximo ano, informou o director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça (…) As “reduções são imperceptíveis ao paladar”, explica o nutricionista. O objectivo é chegar ao valor de referência de 0,2 gramas de sal por 100 gramas de alimento”.
É uma boa notícia. Há anos, Portugal foi pioneiro na diminuição do sal no pão. Agora, a iniciativa consiste na dessalinização do povo português. É a sina do cidadão do terceiro milénio: paciente e assistido, numa sociedade mais saudável e menos onerosa. Muito se escreveu nos anos setenta sobre o poder médico e a medicalização da sociedade. Recorde-se Michel Foucault, Ivan Illich, Robert Castel e Jean Claude Lachaud. Longe, no entanto, de imaginar que a sociedade se iria converter num laboratório e num hospital gigantescos. São boas medidas, mas são tantas que o quantitativo se torna qualitativo (Hegel). O advento de um mundo novo e de um governo por receita.
Michel Foucault, Histoire de la folie à l’âge classique, Gallimard, 1972.
Ivan Illich, Medical Nemesis, London, Calder & Boyars, 1974.
Jean Claude Lachaud, Le Pouvoir Médical, Paris, Privat, 1975.
Robert Castel, L’Ordre psychiatrique, Paris, Minuit, 1977.
As peúgas são armas de choque
O anúncio Sock ‘m Dead é dirigido pelo norte-americano Robert Rodrigues, realizador de Sin City (com Frank Miller e Quentin Tarantino; 2005) e de El Mariachi (1992), “o filme mais barato da história” (7 725 dólares). O espírito do Halloween paira sobre esta curta-metragem, uma história bem contada com vampiros e peúgas.
Marca: Happy Socks. Título: Sock ‘m Dead. Produção: Troublemaker Studios. Direcção: Robert Rodriguez. Estados Unidos, Outubro 2015.
Pecado mundial
“OMS declara salsichas e enchidos tão cancerígenos como o tabaco”, eis o título da notícia no jornal Expresso de 26.10.2015 (http://expresso.sapo.pt/dossies/diario/2015-10-26-OMS-declara-salsichas-e-enchidos-tao-cancerigenos-como-o-tabaco). “Segundo documento, 50 gramas de carne processada por dia, o equivalente a duas fatias de bacon, aumentam a chance de desenvolver câncer colorretal em 18%” (http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151026_carne_cancer_oms_fn).
Vamos trocar a aparência dos números. Porque os números também falam!
“Existem 42 152 novos casos de cancro colo-rectal estimados em 2013 em França metropolitana (23 226 homens e 18 926 mulheres). A taxa de incidência, normalizada, em 2012 é igual a 38,4 por 100 000 homens e 23,7 por 100 000 mulheres” (http://www.e-cancer.fr/Professionnels-de-sante/Les-chiffres-du-cancer-en-France/Epidemiologie-des-cancers). Seja, 0,000384 e 0,000237, respetivamente. Aplicando o aumento de 18% ao exemplo francês, a incidência sobe, nos homens, de 0,000384 para 0,000453 e, nas mulheres, de 0,000237 para 0,000280. Uma diferença muito inferior a um para 10 000: 0,000069 e 0,000043. Espero não me ter enganado nas contas.
Nos nossos dias, grassa uma obsessão pela alimentação. Alimentação pela boca, pelos ouvidos e pelos olhos. Sais de fruto, para sempre! Certo é que tanto adoramos a alimentação como a tememos.
Ao nível do planeta, especialmente em África, o mais preocupante é a falta de alimentação. A fome. Segundo a FAO (The State of Food Insecurity in the World: http://www.fao.org/3/a-i4030e.pdf), em 2012-2014, havia 803 milhões de pessoas subnutridas, ou seja, 11,3% da população mundial.
Morram as salcichas, pim! Morram os enchidos, pum! Viva a música, pim, pam, pum! Ave Mundi, pam!
Crianças ciganas
Sem rodeios, nem artifícios, este anúncio centra-se nas crianças ciganas, na sua imagem e na sua voz, nas suas dificuldades e nos seus sonhos. Bem informado, sabe o que nos importa saber. Inteligente e empático, convida a ver e a ouvir com a razão e o coração. É um anúncio de sensibilização dirigido à consciência que temos, ou talvez não. Un anuncio muy sencillo. Gracias!
Anunciante: Fund. Secretariado Gitano. Título: La Leonor real y otros niños reales. Agência: DDB España. Direcção: Rebeca Díaz. Espanha, Outubro 2015.
Cosmética
Ele ou ela? Uma questão de cosmética? Eis a magia da liquidez: mergulha-se mulher e sai homem; e vice-versa. O anúncio High School Girl?, da Shisheido, embora não o explicite, lembra a figura do andrógino, cara ao imaginário japonês.
As marcas de moda evidenciam-se pela qualidade dos anúncios. Este é um bom exemplo. Para aceder ao making of: https://www.youtube.com/watch?v=CM_uPPvXUXs.
Marca: Shisheido. Título: High School Girl? Japão, Outubro 2015.
O suplício da intimidade

Pieter Brueghel the Elder. The Wedding Dance, c. 1566. Será que no séc. XVI os homens também tinham problemas com a roupa interior?
Acontece aos homens sentir desconforto nas partes indiscretas. Segundo o anúncio da Tommy John, o incómodo provém da roupa interior. Experimente a marca! Alívio imediato. As partes baixas foram, desde sempre, uma tentação, humorística, da publicidade. Mais do que as partes altas: honoráveis, corretas e notórias. O caldeirão vende mais que o ceptro.
Marca: Tommy John. Título: The Big Adjustment. Agência: Preacher. Direcção: Guy Shelmerdine. Estados Unidos, Outubro 2015.
A Cruz de Ferro
Em tempos de clouds e megabases, existem cópias de filmes que se perdem irreparavelmente. Há cerca de dois anos, a Câmara Municipal de Melgaço pretendeu projetar o filme A Cruz de Ferro (1968). Realizado por Jorge Brum do Canto, o filme foi rodado e estreado em Castro Laboreiro. A ideia era replicar a estreia: no mesmo local, com lençóis a servir de ecrã… Infelizmente, não se encontrou uma única cópia utilizável. Nem sequer na Cinemateca. O filme A Cruz de Ferro é mais um pássaro Dodo!
[Post scriptum: encontrou-se, entretanto, uma cópia em bom estado. Ver: https://www.youtube.com/watch?v=28HstNqSgb8].
O vídeo Film is Fragile, do British Film Institute, aborda, precisamente, a necessidade urgente de preservar as cópias dos filmes. O resultado condiz com a reputação da produtora The Mill.
Anunciante: British Film Institut. Título: Film is Fragile. Produção: The Mill. Reino Unido, Outubro de 2015.
A passo de tartaruga
Tendências do Imaginário ultrapassou as 400 000 visualizações. Nunca mais chega ao meio milhão! O número de visitantes ascende a 81 470. A distribuição por países pouco se altera, ressalvando o aumento episódico da Espanha (ver http://tendimag.com/2015/05/04/350-000-visualizacoes/). “Clicar” no gráfico para melhor visualização.
O mundo não se esgota em números. Também tem pautas e notas. Saiu há dias um cd do Jean-Michel Jarre: Electronica 1: The Time Machine. A faixa 3, Close your eyes, é uma parceria com os Air. Gosto dos Air. Gostei, a seu tempo, nos anos setenta, do Jean-Michel Jarre. Em 1979, assisti a um concerto na Place de la Concorde, em Paris. Não o vi e mal o ouvi. Saí a meio.