Pela nossa saúde
Depois das alheiras e do arroz de cabidela, das salsichas e dos enchidos, da pegada ecológica do atum e do bacalhau, é a vez da diminuição do sal nos restaurantes.
Numa notícia com o título “Restaurantes garantem reduzir sal a partir de 2016 nas sopas e nos acompanhamentos” (Público, 30 Out 2015) lê-se o seguinte:
“Os restaurantes que fazem parte da maior associação do sector, a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp), comprometeram-se a reduzir em 3% a 4% a quantidade de sal na sopa e em acompanhamentos, como o arroz, a massa e as batatas, a partir do próximo ano, informou o director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, Pedro Graça (…) As “reduções são imperceptíveis ao paladar”, explica o nutricionista. O objectivo é chegar ao valor de referência de 0,2 gramas de sal por 100 gramas de alimento”.
É uma boa notícia. Há anos, Portugal foi pioneiro na diminuição do sal no pão. Agora, a iniciativa consiste na dessalinização do povo português. É a sina do cidadão do terceiro milénio: paciente e assistido, numa sociedade mais saudável e menos onerosa. Muito se escreveu nos anos setenta sobre o poder médico e a medicalização da sociedade. Recorde-se Michel Foucault, Ivan Illich, Robert Castel e Jean Claude Lachaud. Longe, no entanto, de imaginar que a sociedade se iria converter num laboratório e num hospital gigantescos. São boas medidas, mas são tantas que o quantitativo se torna qualitativo (Hegel). O advento de um mundo novo e de um governo por receita.
Michel Foucault, Histoire de la folie à l’âge classique, Gallimard, 1972.
Ivan Illich, Medical Nemesis, London, Calder & Boyars, 1974.
Jean Claude Lachaud, Le Pouvoir Médical, Paris, Privat, 1975.
Robert Castel, L’Ordre psychiatrique, Paris, Minuit, 1977.