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Avaliação dos impactos económicos e sociais da Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Relatórios

O blogue Margens acaba de publicar uma análise das repercussões da Capital Europeia da Cultura em 2012 no desenvolvimento do concelho de Guimarães, volvidos dez anos, da autoria de Samuel Silva, que integrou a equipa, que coordenei, do Instituto de Ciências Sociais responsável, a seu tempo, pela avaliação dos impactos sociais e culturais do evento. Pelo interesse, oportunidade e lucidez, recomendo o artigo E tudo se transforma? (https://margens.blog/2023/04/15/e-tudo-se-transforma/).

Aproveito o ensejo para partilhar dois relatórios, em português e inglês, da avaliação dos impactos económicos e sociais da Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura, publicados em 2012 e 2013: intercalar (fevereiro de 2013) e final (setembro de 2013).

Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Impactos Económicos e Sociais. Relatório Intercalar – Fevereiro 2013 – Universidade do Minho:

Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Impactos Económicos e Sociais. Relatório Final – Setembro 2013 – Universidade do Minho:

Inflação, poder de compra e desigualdades sociais

Evolução do poder de Compra. França, 2015 a 2022. Fonte: Xerfi Canal, 19.01.2023

O Xerfi Canal (https://www.xerficanal.com/) é uma “revista online sobre o mundo da economia, a estratégia e a gestão das empresas”. Publica diariamente um comentário temático conciso e claro, hoje, 19.01.2023, dedicado à evolução recente da relação entre a inflação, o poder de compra e os rendimentos. O foco é a França, mas estou em crer que a análise é extensível aos demais países da União Europeia, incluindo Portugal. Partilho o vídeo, em francês, seguido por uma tradução livre e algo apressada.

Alexandre Mirlicourtois. Un pouvoir d’achat en chute libre? La réalité des chiffres. Xerfi Canal. 19.01.2023

“Sondagem após sondagem, o poder de compra ocupa o primeiro lugar nas preocupações dos franceses. Isso não tem nada de surpreendente uma vez que há meses que os agregados domésticos evidenciam uma degradação clara da sua situação financeira e não aguardam nenhuma melhoria a curto prazo. Os dados do INSEE [equivalente francês do INE] comprovam-no. É verdade que o rendimento real dos franceses embora ameaçado não sofre uma quebra expressiva. Convém equacioná-lo por unidade de consumo de modo a contemplar o fato de, por um lado, se repartir por um número crescente de habitantes e, por outro, de a vida em comum permitir, graças a economias de escala, reduzir determinadas despesas tais como as do alojamento. A evolução da dimensão dos agregados domésticos possui também alguma importância.

Sob esta luz, a tendência resulta menos favorável: o poder de compra baixou 0,6% no ano passado, o que não é muito. Recuando um pouco no tempo, o poder de compra por unidade de consumo mantém-se acima do nível anterior à crise e, recuando ainda mais, o refluxo de 2022 não tem comparação com o registado entre 2011 e 2013. A estatística é, mais uma vez, posta à prova pela experiência da vida quotidiana e surge desfasada da realidade vivida por muitos cidadãos.

Para explicar este hiato, importa reconsiderar o fator atual que mais pesa sobre o rendimento: a descolagem dos preços no consumo. Trata-se de uma inflação geradora de desigualdades profundas. A progressão dos preços não é homogénea e incide, nos dois últimos anos, num núcleo principal, a energia, e num núcleo secundário, a alimentação. Por seu turno, os aumentos dos preços dos produtos manufaturados e dos serviços têm revelado maior contenção. Acontece que a exposição dos agregados domésticos, bastante elevada e muito concentrada, varia significativamente consoante o respetivo nível de vida, devido à estrutura do consumo acentuadamente diferenciada.

A fatura energética é um dos elementos inerentes ao alojamento. Para os mais desfavorecidos representa acima de 6% das suas despesas totais contra menos de 4% no topo da escala. O mesmo sucede no que respeita à despesa alimentar cujo peso diminui à medida que o nível de vida aumenta. A situação pode resumir-se da seguinte forma: a baixo nível de vida, preços altos; a nível de vida alto, preços baixos. Acresce uma amplificação conforme se seja rural ou urbano, por causa da progressão dos preços dos carburantes. Não existe, portanto, apenas um mas vários poderes de compra consoante o grau de exposição ao lote dos consumos mais inflacionistas.

Mas este não é o único fator de desigualdade. Subsiste outro mais importante associado à parte do rendimento consagrada ao consumo, logo diretamente impactada pela subida dos preços: 20% dos agregados domésticos mais modestos gastam mais de 97% dos seus rendimentos contra menos de 72% dos mais favorecidos, uma diferença de 26 pontos. Dito de outro modo, a quase integralidade do rendimento dos mais pobres é alocada às despesas quotidianas; em contrapartida, os mais favorecidos conseguem poupar cerca de 30%. O impacto é duplo. Primeiro, os franceses do topo conseguem manter o seu nível de despesas modificando a sua dosagem entre consumo e poupança; segundo, uma proporção dos seus rendimentos é parcialmente preservada pela evolução da remuneração das suas poupanças. Ocorre o contrário quando nos posicionamos no baixo da escala: quando os rendimentos não acompanham até à vírgula, ou quase, a evolução dos preços do respetivo cabaz, torna-se então necessário efetuar cortes claros nas despesas quotidianas porque não existe, ou existe muito pouca, gordura para ajustamento. Apenas um euro em cada três de despesas comprimíveis para estes; um euro em dois para os outros.

Em suma, para uma parte crescente da população rematar o fim do mês acaba por ser impossível sem recurso ao crédito renovável, também chamado crédito permanente ou revolving, modalidade de pagamento, uma espécie de reserva, geralmente associada a um cartão de crédito, cada vez mais mobilizada pelos agrupamentos domésticos para as suas compras correntes, cujas pendências estão em forte crescimento, embora partam de uma base baixa. A outra solução consiste no recurso às contas a descoberto, tendência manifesta no aumento explosivo da curva das contas correntes de débitos que já ultrapassam os 10 bilhões de euros e representam mais de 5% do conjunto dos créditos ao consumo, alcançando o nível mais alto dos últimos 20 anos. Constituem, porém, práticas onerosas que comportam um peso acrescido no orçamento dos agregados domésticos mais modestos. O sobre endividamento, que não parou de recuar desde meados dos anos 2010, corre seriamente o risco, neste contexto, de regressar em força nos próximos meses, apesar de um poder de compra, em aparência, em estado de Resistência.” (Alexandre Mirlicourtois. Un pouvoir d’achat en chute libre? La réalité des chiffres. Xerfi Canal. 19.01.2023: https://wordpress.com/post/tendimag.com/55467. Consultado em 19.01.2023.

It’s the age, stupid! Discriminação etária

Edvard Munch. As quatro idades da vida. 1902. Bergen Kunstmuseum

Uma vez assente a poeira, gostaria de revisitar uma bolha mediática que, pela mão de políticos e da comunicação social, absorveu e preocupou os portugueses.

Jovem de 21 anos sai da faculdade para o Governo e vai ganhar quatro mil euros (Título de artigo, 08 nov, 2022: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2022/11/08/jovem-de-21-anos-sai-da-faculdade-para-o-governo-e-vai-ganhar-quatro-mil-euros/307102/).

Aponta-se o dedo, mediático, a uma “anomalia”: suspeita-se de entorse político. Até que ponto é admissível um jovem de 21 anos ir para o governo ganhar quatro mil euros? Inverto a pergunta: por que é que não é possível? Por causa da idade, por ter 21 anos? Este é o nó da discórdia, os outros argumentos convocados ou são meros corolários ou falácias. Assumir que um jovem de 21 anos não deve ir para o governo ganhar 4 000 euros, brutos, é um preconceito entranhado que se traduz numa discriminação abusiva baseada na idade. E, no entanto, quanta obra notável da história da humanidade empreendida por pessoas com menos de 21 anos na música, na arte e na literatura, na ciência e na técnica, na economia, na política e na guerra! Tal como não existe raça ou género, também não existe idade que diminua, à partida, um ser humano. Esta penalização pela idade, por mais espontânea que seja, nem sempre é bem-intencionada. Neste caso, o denunciante é tão suspeito quanto o denunciado.

A experiência profissional oferece-se, de algum modo, como um corolário da idade, um avatar preconceituoso, logo nem sempre justificado, que dificulta o acesso dos mais jovens à vida ativa. Configura um preconceito considerar mais garantia para a assessoria de um órgão do governo a experiência profissional, seja ela qual for, em detrimento das experiências política e de gestão associativa, sejam elas quais forem.

Em suma, discriminação e preconceito de braço dado.

Nirvana. Smells Like Teen Spirit. Nevermind. 1991. Vídeo oficial

Jovem de 21 anos sai da faculdade para o Governo e vai ganhar quatro mil euros

(…) Um jovem de 21 anos que acabou recentemente o curso de Direito foi contratado para ser adjunto da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, sem ter qualquer experiência profissional.

Tiago Alberto Cunha vai ganhar cerca de quatro mil euros brutos por mês.

Segundo a nota biográfica publicada em Diário da República, Tiago acabou o curso de Direito no ano passado, na Universidade do Porto, e este ano ingressou no mestrado na Universidade de Lisboa, na mesma área.

Nas últimas autárquicas foi candidato à Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia pelo Partido Socialista, não tendo no entanto sido eleito. Ocupava o 32.º lugar da lista.

Entre 2020 e 2021, o agora adjunto de Mariana Vieira da Silva foi secretário-geral do Conselho Nacional de Estudantes de Direito (CNED).

Faz também parte da Assmblei de Freguesia de Vilar de Andorinho, em Vila Nova de Gaia.”

(https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2022/11/08/jovem-de-21-anos-sai-da-faculdade-para-o-governo-e-vai-ganhar-quatro-mil-euros/307102/)

Tráfego aéreo

Tráfego aéreo. Poente. Moledo, 05.11.2022. Fotografia: Albertino Gonçalves
Moledo. 05.11.2022. Fotografia: Fernando Gonçalves

Comprar nada como investimento

McDonald’s Spain. The burger that could be. 2022

O anúncio The burger that could be, da McDonald ‘s Spain é um bom exemplo de um elevado sentido de oportunidade e da boa arte de a saber aproveitar. Trata-se de uma campanha que adota um estratagema que está a abrir caminho: convocar, ao mesmo tempo, o ecrã e a vida, interpelar tanto o espetador como o ator, numa mobilização em torno de uma causa emotiva emocionante e inclusiva emergente. Mais um caso de uma iniciativa de consciencialização interessada.

Marca: McDonald’s Spain. Título: The burger that could be. Agência: TBWA Spain. Espanha, agosto 2022.

Maternidade. O cordão umbilical e o ursinho de peluche

Equal Pay Day. The Umbilical Cord. 2022

“Na UE, as mulheres recebem em média 14,1% menos por hora do que os homens. Isso equivale a quase dois meses de salário. É por isso que a Comissão Europeia marca o dia 10 de novembro como um dia simbólico para aumentar a conscientização de que as trabalhadoras na Europa ainda ganham, em média, menos do que seus colegas do sexo masculino (Comissão Europeia – Dia de igualdade salarial: https://ec.europa.eu/info/policies/justice-and-fundamental-rights/gender-equality/equal-pay/equal-pay-day_en; acedido em 11-08-2022).

Entretanto têm ocorrido alguns progressos no cuidar das crianças. O ursinho de peluche Ector, detetor de fumo de tabaco, parece ser um deles. Aproveito para acrescentar a canção Woman, de John Lennon.

Anunciante: Equal Pay Day. Título: The Umbilical Cord. Agência: Mortierbrigade Brussels. Direção: Lionel Goldstein. Bélgica, março 2022.
Anunciante: Roche Italia. Título: Ector The Protector Bear. Patrocínio: WALCE Onlus – Women Against Lung Cancer in Europe. Agência: Integer, Milan, Italy. Direção: Nico Malaspina. Itália, outubro 2018.
John Lennon. Woman. Double Fantasy. 1980.

Alterações climáticas e crise na Idade Média

Da Biblia Pauperum, iluminada em Erfurt por altura da Grande Fome de 1315-1317. A Morte surge como um leão cuja longa calda termina em bola de fogo – o Inferno. A boca aberta, destacada a vermelho, representa a Fome.

“A Grande fome de 1315-1317 na Europa (também datada entre 1315-1322) foi a primeira de uma série de crises sociais em larga escala que atingiram a Europa no início do século XIV, causando milhões de mortes por um grande número de anos, marcando assim o fim de um período anterior de prosperidade no continente durante o século XIII. Iniciando com um tempo ruim na primavera de 1315, a alteração climatológica acabou por provocar quebras universais das colheitas entre a primavera de 1315, que se acentuaram no verão de 1316 até ao verão de 1317. A Europa não se recuperou totalmente até 1322. Foi um período marcado por níveis extremos de crimes, doenças, mortes em massa e infanticídio. Houve consequências para a Igreja Católica, os Estados nacionais, a demografia do continente a sociedade europeia como um todo. A grande fome de 1315 contribuiu para potencializar as futuras calamidades do século XIV. (…) Para a maioria das pessoas não havia o suficiente para comer e a vida era relativamente curta. Atendendo aos registos respeitantes à Família Real Britânica, a melhor e mais abonada da sociedade, a expectativa de vida média em 1276 era de 35,28 anos. Entre 1301 e 1325, durante a Grande Fome, reduziu-se para 29,84 anos. Durante a peste negra, caiu para 17,33 anos (…) Na primavera de 1315, chuvas caíram chuvas acima do normal na maior parte da Europa. Na primavera e no verão, continuou chovendo e a temperatura manteve-se fria. Nestas condições, os grãos não germinavam. (…) As taxas de produção de trigo (o número de sementes que uma pessoa poderia consumir por semente plantada) estavam em queda desde 1280 (…) Numa situação de bom tempo, a taxa era de 7:1, enquanto nos anos ruins descia até 2:1, isto é, para cada semente plantada, duas sementes eram colhidas, uma para o ano que vem, e uma para alimentação. Por comparação, a agricultura moderna possui taxas de 200:1 ou mais (..,) Os alimentos para os animais não podiam ser curados, deixando de existir ração para o gado. Os preços dos alimentos começaram a subir. Os preços na Inglaterra dobraram entre a primavera e o meio do verão. O sal, a única maneira de curar e preservar a carne, era difícil de obter, porque a água não evaporava com o tempo húmido: subiu de 30 para 40 xelins. Na província da Lorena, o trigo subiu 340% e os camponeses não tinham com que pagar o pão. As reservas de grãos para emergências de longo prazo estavam confinadas aos nobres e lordes. (,,,) Na primavera de 1316, continuava chovendo sobre uma população europeia desprovida de energias e reservas para se sustentar. Todos os segmentos da sociedade, dos nobres aos camponeses, foram afetados, especialmente os camponeses, que representavam 95% da população, e não possuíam suporte social. Para prover algum alívio, o futuro foi sacrificado, matando animais de reprodução, consumindo sementes de plantação, abandonando as crianças (…)  e negando alimentos aos idosos para dar hipóteses de sobrevivência às gerações jovens. As crónicas da época descrevem muitos incidentes de canibalismo. (…) O pico da fome foi atingido em 1317 quando o tempo húmido terminou. Finalmente, no verão, o tempo regressou ao padrão normal. As pessoas estavam tão enfraquecidas por doenças como pneumonia, bronquite e tuberculose, e muitas das reservas de sementes haviam sido consumidas, que apenas em 1325 os níveis de alimentos voltaram para condições relativamente normais anteriores à fome. (…) É estimado que entre 10%-25% da população de muitas cidades e vilas pereceram. Enquanto a Peste Negra (1338-1375) mataria mais em números reais, para muitos, a Grande Fome foi pior como calamidade social: a peste aniquilava uma área em alguns meses, a Grande Fome castigou durante anos, arrastando o sofrimento das pessoas que morriam lentamente de fome, enfrentavam canibalismo, infanticídio e crime descontrolado.” (A partir de Wikipedia, Grande Fome de 1315–1317: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Fome_de_1315%E2%80%931317. Acedido em 19/07/2022).

When God saw that the world was so over proud,
He sent a dearth on earth, and made it full hard.
A bushel of wheat was at four shillings or more,
Of which men might have had a quarter before….
And then they turned pale who had laughed so loud,
And they became all docile who before were so proud.
A man’s heart might bleed for to hear the cry
Of poor men who called out, “Alas! For hunger I die …!” (Poema de Eduardo II, c. 1321).

Imagem: Grandes Heures de Jean de Bérry. Séc. XIV-XV.

E se tentássemos…

Federación Mexicana de Sordos. Tik Tok Teachers. 2022.

De 20 a 24 de junho decorreu em Cannes o maior festival internacional de publicidade. A agência DDB México conquistou um Leão de Ouro, correspondente ao primeiro lugar na categoria Creative Data Grand Prix, com o anúncio Data Tienda, e um Leão de Bronze, com o anúncio Tik Tok Teachers, na categoria Social & Influencers.

No anúncio Data Tienda, a We Capital diagnostica um problema de exclusão social na sociedade mexicana: as mulheres que não recorrem ao crédito registado (através de cartões de crédito ou de instituições financeiras) não têm acesso a empréstimos devido à falta de historial. Não obstante, possuem uma longa prática de recurso ao crédito mas fora do circuito bancário. Compram a fiado com pagamento regular, por exemplo, a lojistas. A We Capital criou uma base de dados que contempla estas “operações financeiras” até ao presente ignoradas.

“A We Capital venceu o Creative Data Grand Prix deste ano com “Data Tienda”, um anúncio sobre inclusão financeira que visa ajudar as mulheres mexicanas a aceder ao crédito. É um caso de um novo pensamento para resolver velhos problemas.
A grande maioria das mulheres no México (83%) não tem histórico de crédito, o que afasta oportunidades de iniciar negócios ou obter independência financeira por meio de pedidos de empréstimos. As mulheres não possuem cartões de crédito tradicionais ou outros registros, mas recorrem a empréstimos em lojas locais.
Criado com a DDB México, o anúncio apresenta uma iniciativa da We Capital. A empresa internacional de investimentos lançou o Data Tienda, um centro de informações financeiras, que recolhe informações de crédito de milhões de mulheres mexicanas através das contas de lojistas locais” (Rafael Canton e Jess Zafarris, An Ad About Giving Women in Mexico Access to Credit Wins Creative Data Grand Prix: https://www.adweek.com/agencies/data-tienda-wecapital-creative-data-grand-prix-cannes-2022/#. Acedido em 28/06/2022).

Anunciante: We Capital. Título: Data Tienda. Agência: DDB Mexico. México, junho 2022.

O anúncio Tienda aborda uma desigualdade de acesso a bens e serviços, o crédito, decorrente de uma exclusão de acesso à comunicação e à informação. A exclusão da informação é decisiva numa nova era histórica que Alain Touraine (La Société post-industrielle, 1969) e Daniel Bell (The Coming of Post Industrial Society, 1973) classificaram, há meio século, como uma “sociedade da informação”.

De exclusão social trata também o anúncio Tik Tok Teachers. Existe um excessivo desconhecimento das línguas gestuais, um défice de literacia no que respeita à comunicação entre surdos e ouvintes na sociedade atual. Federación Mexicana de Sordos decidiu aproveitar as potencialidades da plataforma Tik Tok para promover um extenso dicionário de língua gestual criado e animado pelos próprios utilizadores (acima de ” 3.4 milhões de professores ao vivo” em poucos dias).

“Enseñar lengua de señas a la población mexicana en general es la mejor forma de incluir a más de 8 millones de sordos en la sociedad, pero con solo 10 profesores en todo el país, es una tarea casi imposible. / Por eso el día nacional del sordo, lanzamos: TikTok Teachers. Un reto totalmente orgánico con el que pasamos de 10 profesores a 3.4 millones de profesores en vivo, nos convertimos en tendencia durante 4 días y creamos el primer diccionario de lengua de señas en TikTok que reúne en un solo hashtag las 1.300 palabras que conforman el diccionario original” (Tik Tok Teachers: https://www.youtube.com/watch?v=BoGrmumvouU&t=5s. Acedido em 28/06/2022).

Anunciante: Federación Mexicana de Sordos.Título: Tik Tok Teachers. Agência: DDB Mexico. México, junho 2022.

“Não temos petróleo, mas temos ideias” foi o slogan adotado em França no rescaldo da crise petrolífera de 1973. Uma ideia consistiu na introdução da mudança anual da hora com o objetivo de baixar o consumo de energia. Mão é apenas por causa do petróleo que fazem falta ideias. Revelam-se, também, decisivas para promover a inclusão social. Afortunadamente, existem muitas. Algumas tornaram-se célebres, como os “Restaurantes do Coração”, criados pelo ator cómico Coluche em França em 1985. Hoje, os “Restos du Coeur” congregam, no país, 11 delegações regionais e perto de 2 000 centros de atividades.

Sem ideias criativas, as boas intenções, e respetivos dispositivos e recursos, correm o risco de redundar em insucesso e desperdício. Para uma intervenção de inclusão social consequente, importa:

  • Conhecer
  •                os promotores e suas motivações
  •                as populações alvo, as suas condições e estilos de vida;
  •                o que está em jogo, os falsos pretextos e as perversidades;
  •                as dificuldades e os obstáculos previsíveis;
  • Envolver
  •                apostar em pontes, plataformas e parcerias;
  •                trabalhar menos para (os excluídos) e mais com (eles);
  •                aproveitar as dinâmicas existentes, sobretudo endógenas.
  • Potenciar
  •                oportunidades;
  •                vontades;
  •                a inovação e a criatividade;
  •                os recursos, mormente os media e as novas tecnologias.

Para intervir, não basta querer, convém conhecer, envolver e potenciar. E evitar soluções palacianas e a tentação de “levar a corte à aldeia”. Importa, por último, sondar, sinalizar e disseminar as iniciativas exemplares, de modo a replicá-las e inspirar outras afins. E se tentássemos… incluir.

P.S. Não esquecer a avaliação, a partilha e a disseminação, caso se justifique.