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Músicas surrealizadas 04

Pearl Jam: Life Wasted

A trovoada e a moleza prestam-se a um vídeo musical com fundo de pesadelo a lembrar uma “noite sem fim” abalada por um cortejo frenético de monstruosidades pouco recomendáveis a almas sensíveis. Algo duro, very hard, assim como Life Wasted, dos Pearl Jam, condimentado por meia dúzia de quadros do Max Ernst.

Imagem: Max Ernst. Noite sem fim. 1940

Pearl Jam – Life Wasted. Pearl Jam, 2006

Músicas surrealizadas 03

Björk: Tabula Rasa, Mutual Core e Body Memory

Max Ernst. O Triunfo do Surrealismo. 1937

Björk recorre com frequência a vídeos surreais que se destacam pela diversidade e pelo apuro técnico e estético. Entre os mais marcantes consta All is Full of Love, realizado por Chris Cunningham em 1999. Seguem três vídeos relativamente recentes, os dois primeiros com imagens digitais e o terceiro a partir de um espetáculo ao vivo. Todos apostam no efeito de disformidade.

Björk – Tabula Rasa. Utopia. 2017. Realizado por Tobias Gremmler
Bjöork – Mutual Core. Biophilia. 2011. Realizado por Andrew Thomas Huang
Björk – Body Memory. Utopia. 2017. Stage visuals of Björk’s Cornucopia tour. Pelo artista visual Tobias Gremmler, 2021.

Músicas surrealizadas 02

Regina Spektor. Laughing With

Não há como bater o ferro enquanto está quente. Segue o segundo vídeo da série “músicas surrealizadas”: Laughing With, do álbum Far, editado em 2009, de Regina Spektor, cantora, compositora e pianista de origem russa radicada nos Estados Unidos. Convoca, sobretudo, obras do belga René Magritte (1898-1967) e do holandês Maurits C. Escher (1898-1972).

Regina Spektor – Laughint With. Far. 2009

Músicas surrealizadas 01

Rufus Wainwright. Across The Universe

Quatro vídeos musicais inspirados no surrealismo prolongaram a conversa do último sábado sobre os maneiristas: Sledgehammer (Peter Gabriel, So, 1986); How Does It Make You Feel (Air, 10 000 Hz Legend, 2001); Otherside (Red Hot Chili Peppers, Californication, 1999); Hearts A Mess (Gotye, Like Drawing Blood, 2006).

René Magritte. Golconda. 1953

Vou iniciar, em jeito de entretenimento e à semelhança da “Sociologia sem palavras”, uma série com vídeos musicais em que a presença, ou a influência, do surrealismo é notória. Chamar-lhe-ei Músicas surrealizadas. Para inaugurar: Rufus Wainwright, Across The Universe (I Am Sam, 2002).

Rufus Wainwright. Across The Universe. I Am Sam. 2002. Cover dos Beatles (19

Espantalhos

Max Ernst. Birds also Birds, Fish, Snake and Scarecrow. c. 1921

Quase não vejo televisão. Ligo-a sempre num “canal de notícias”. Não tarda alguém a misturar notícia e opinião com ares de não saber o que diz. Às vezes, até duvido da boa fé. Por exemplo, ainda ontem um telejornal apresentou de uma forma deveras insólita, parcial e perversa os resultados do concurso para médicos de medicina geral e familiar. Talvez a informação e a urgência excedam as disponibilidades de jornalistas. Alérgico a influenciadores intrusivos, desligo o televisor, razão por que, não mudando, religo fatalmente um canal de notícias. Prefiro ler alguém que não pretende pensar por mim mas fazer-me pensar. Por exemplo, o Eduardo Lourenço:

“Um pensador não é um homem que pensa, mas sim um homem que faz pensar. Um criador não é um homem que sonha, mas um homem que faz sonhar. Ser grande pensador ou grande criador é fazer pensar e sonhar uma inumerável sucessão de homens e de tempos. Esta condição original dos pensadores e dos poetas explica o mistério aparente do triunfo histórico das obras obscuras, das sinfonias incompletas, das estátuas partidas. Toda a grande obra é obscura e incompleta e essa obscuridade e imperfeição são a sombra necessária à visão do sol contínuo que lhes constitui o cerne.” (“A arte ou as estátuas partidas”, Agosto de 1954, Da Pintura. Lisboa: Gradiva, 2017, pp. 120-121).

Segue a canção “Paranoimia” dos Art of Noise. “Paranoimia” resulta da junção de “paranoia” e “insónia”: estar com medo e incapaz de dormir. Há quem ande a semear “paranoimia”, insegurança e desassossego, talvez para colher avatares do Big Brother e admiráveis mundos novos.

The Art of Noise. Paranoimia. In Visible Silence. 1986. Com Max Headroom, Paranoimia, 2017
Queen. Radio Ga Ga. Bohemian Rhapsody. 1984
Roger Waters. Amused to Death. Amused to Death. 1992

O mundo maluco e algo mais

Salto de assunto em assunto com a ligeireza de um comentador de caixinha mágica. Acabo uma conversa sobre surrealistas e maneiristas, logo inicio um capítulo, com prazo para o do Dia da Nação, sobre a implementação de zonas industriais no interior do País. Entretanto, relaxo: ontem, a Deriva, uma iniciativa do curso de mestrado em Comunicação, Arte e Cultura; hoje, passagem pelo blog e massagem musical. Procuro um CD adormecido há anos e encontro o Trading Snakeoil for Wolftickets, do Gary Jules, editado em 2001. Seguem “o mundo maluco”, “a janela quebrada” e “algo mais”.

Gary Jules c/ Mylène Farmer. Mad World. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001. Timeless 2013 Live DVD
Gary Jules. Broke Window. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001
Gary Jules. Something Else. Trading Snakeoil for Wolftickets. 2001

O vício de descobrir

Salvador Dali. A Descoberta da América por Cristóvão Colombo. 1959

Descobrir, descobrir, descobrir… Não-sei-quês e quase-nadas inesperados. Descobrir sem repouso. Dias sonhados e noites despertas, a fio, a escapar à sombra. Só ou acompanhado, mas a sair de si, desamarrar, derivar e perder-se. Distorcer ecos e ressonâncias. Rasgar o selo da perfeição. Descobrir e descobrir-se, exorbitar mesmo quando o corpo encolhe. E agradecer. Hoje, a tendência aponta para encobrir e desencobrir, desvendar, o que é diferente. Uma coisa é um rio turbulento, outra um pântano turvo. Descubra, descubra-se [salvo seja] e não hesite em abraçar o outro, manancial de surpresas, como a inquieta mas discreta guitarra de Juan José Robles. A música é um cúmplice infinito.

Juan José Robles. El Árbol Torcido. In-Quietud. 2019
Juan José Robles. Auroro. In-Quietud. 2019
Juan José Robles. Polka Ibérica. In-Quietud. 2019

Deriva

Está a acontecer:

Libera

“O mundo pula e avança / Como bola colorida / Entre as mãos de uma criança” (António Gedeão).

Libera. Locus Iste, Visions, 2005
Libera. Always with you. Visions, 2005
Libera. Sing forever. Visions, 2005

Fruta

Sara Bernardo

Ontem, segunda, dia 22 de maio, foi alterada a data, para as 18 horas de sábado, dia 27, dos próximos encontros de futebol do S.L. Benfica e do F.C. Porto. Está em jogo a conquista, e a celebração, do título. Como é possível que uma decisão que interfere expressivamente na atividade de um País seja tomada de segunda para sábado? Os maneiristas afinal estavam certos: a razão, a estabilidade e a previsibilidade valem pouco; a vida depende do destino, do acaso, do último lançamento de dados.

A conversa sobre o surrealismo e o maneirismo começa, precisamente, no mesmo dia apenas uma hora antes. A divulgação foi iniciada na quinta-feira passada. Até então não teria custado antecipar o encontro uma hora, para as 16:00. Perde-se a vontade de projetar e promover o que quer que seja. Para compensar, o público, embora provavelmente mais reduzido, será, por filtragem, cinco estrelas.

Imagem: Giuseppe Arcimboldo, Cabeça reversível com cesta de frutas , 1590

Num país retangular que não cuida de se cuidar, o mais avisado é desviar a atenção. Por exemplo, para o rio, o mar, a brisa, as nuvens, as sereias, as amazonas e as musas. E fruta, muita fruta! Maçãs, melancias, maracujás. Com a espanhola Sandra Bernardo.

Sandra Bernardo. Fruta. Trópico ideal. 2018