Humor a sério
O anúncio britânico Audition, do NHS (National Health Service), revela inteligência, humor e, pressupõe-se, eficácia. Está em causa a mobilização para a vacina contra a Covid-19. O anúncio recorre a dois embaixadores, sir Elton John e sir Michael Caine, ambos com sentido de autocrítica.
Elton John participou no filme Tommy (1975), dos The Who, realizado por Ken Russell. Juntam-se duas extravagâncias: Elton John e Ken Russell. Segue um excerto do filme.
Mãos de tesouras

O anúncio Super Bowl ScissorHandsFree, da Cadillac, inspira-se, assumidamente, na figura do Eduardo Mãos de Tesoura, de Tim Burton (1990). O novo Mãos de Tesoura é, seja qual for o contexto, um desastre. Ressalve-se o All-Electric Cadillac LYRIQ, um automóvel sem mãos. Mais uma fábula.
Imundície

Tudo é passível de nos atrair. Até a porcaria. O mau gosto sabe-nos bem. Por exemplo, no carnaval ou nas anedotas. O anúncio Xmess, da Plenty, é um atropelo de imundícies. E o público ri, regala-se, à espera da porcaria que segue.

O baixo faz cócegas ao diafragma até à gargalhada. Não existe obra dedicada ao grotesco que não aborde esta tentação. Nada que resista à arte do papel higiénico. Salva-se, deslocada, a música Love Hurts, dos Nazareth.
A música na publicidade

Quando a música e, eventualmente, a dança são estrelas, o resto perde brilho. São exemplo os anúncios Dairy Dancing, da Pump e Little Angels, da Hyundai. O motivo e a marca podiam mudar, o impacto e a promoção mantinham-se. Repare-se, por último, que a música produz um efeito de união: em Dairy Dancing, as pessoas sintonizam-se; em Little Angels, a música pacifica e gera comunhão dentro e fora da família.
A dança das rãs

A elasticidade das rãs é proverbial, desde as pernas até à língua. Prestam-se à dança, com as devidas sintonias e distâncias. Por que dançam as rãs? Para promover a acessibilidade dos serviços de uma instituição financeira londrina.
Os gatos de Gustavo Rosa


Gustavo Rosa (1946-2013) é um artista plástico brasileiro. Admiro o humor dos seus desenhos singelos e coloridos. Tudo cabe nos seus quadros: pessoas, animais, coisas… Dizem que se assemelha a Aldemir Martins, Di Cavalcanti e Fernando Botero. No meu entendimento, os desenhos de Gustavo Rosa assemelham-se aos desenhos de Gustavo Rosa. Sobretudo, os gatos. São inconfundíveis. Segue uma pequena amostra.
Galeria de imagens: os Gatos de Gustavo Rosa
Androides

L’homme qui veut dominer ses semblables suscite la machine androïde. Il abdique alors devant elle et lui délègue son humanité. Il cherche à construire la machine à penser, rêvant de pouvoir construire la machine à vouloir, la machine à vivre pour rester derrière elle sans angoisse, libéré de tout danger, exempt de tout sentiment de faiblesse, et triomphant médiatement par ce qu’il a inventé. Or, dans ce cas, la machine devenue selon l’imagination ce double de l’homme qu’est le robot, dépourvu d’intériorité, représente de façon bien évidente et inévitable un être purement mythique imaginaire. » (Simondon, Gilbert. 1958. Du mode d’existence des objets techniques. Paris, Éditions Aubier-Montaigne, p. 10).
O Extremo-Oriente habituou-nos a anúncios absurdos e hilariantes. Pela imagem e pela narrativa. O anúncio filipino Band, da RC Cola, é um bom exemplo deste género de grotesco. Os androides, fruto de uma imaginação desinibida, asseveram-se, simultaneamente, desconcertantes, ávidos e cordiais.
Canto paralelo

Altiva ou rasteira, nada escapa à paródia (etimologicamente, “canto paralelo”). Nem sequer as circunspectas campanhas de prevenção rodoviária. O anúncio Drive Safely esmera-se na paródia: imita as técnicas do slow-motion e do rewind; ridiculariza o preciosismo científico (menos exatamente tantas milhas de velocidade e a travagem seria a tempo); e inverte a moral banal (em vez da salvação do bom, salva-se o mau, por sinal, uma caricatura de Hitler). Em suma, conduza à vontade, nem todos os peões são boas pessoas”. Qual a autoria e a intenção deste anúncio? Provavelmente, um vídeo viral. Não obstante, um bom exemplo de paródia.
Fernando e Albertino
Se o meu carro fosse um cavalo

O anúncio australiano Sleeper, da companhia de seguros NRMA, é inteligente, estranho e subtil. Somos convidados a acompanhar a viagem, noturna, de duas crianças e da respetiva mãe, ao volante. Adormecem, mas o carro prossegue caminho. Ficamos tensos à espera do pior. Alimentada pelas imagens, a tensão não abranda. A perturbação avoluma-se com a sensação de não perceber o que se passa, ou seja, porque nada se passa! Naquela noite, os carros conduzem sozinhos. “Enquanto os nossos carros não conduzirem sozinhos, conduza com segurança”. Como Jolly Jumper, o cavalo de Lucky Luke. As campanhas de prevenção rodoviária multiplicam-se na época natalícia..