Tenros e ternos


Tenros e ternos, eis um anagrama adequado a estes dois anúncios franceses da McDonald’s, o venerável Le Vélo e o recente Les Amis. Uma ternura comercial, sobre rodas e em conserva.
Identidade, alteridade e virtualidade

A publicidade pode ser instrutiva. Acontece com os anúncios “New Dawn”, da Hyundai, e “Un-Australia”, da Meat & Livestock Australia, que ilustram duas noções elementares das ciências sociais, que passo a resumir.

O valor de uma palavra provém do carácter distintivo dos seus usos virtuais. Simplificando, uma palavra vale quando permite dizer algo que as outras palavras não conseguem (a partir de F. Saussure, Cours de Linguistique Générale, 1916).
A identidade não remete para uma essência mas decorre da relação com os outros, com a alteridade. Simplificando, somos o que somos menos pelas semelhanças e mais pelas diferenças (a partir de C. Lévi-Strauss, L’ Identité, 1977).
Comparsas

Simplesmente diferentes, incondicionais da cerveja Borsodi, paladinos da frescura alheios à boçalidade alheia.
Aproveito para sugerir a visita a dois artigos: Quando o vigiado se torna vigilante e Albert Camus: sinónimo de liberdade.
Queima-santos

Ontem à noite vi o filme Diamantino (2018), de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, que uma colega amiga, a Isabel Macedo, teve a gentileza de me proporcionar. Mais um caso em que o humor e a fantasia se insinuam como via de acesso à realidade! Quase premonitório.
No rescaldo do Mundial de Katar, surpreendi-me a cogitar sobre o poder do pontapé. Um único pontapé é capaz de consagrar ou humilhar, de promover um jogador, ou uma equipa, a herói divino ou reduzi-lo a figurante desgraçado. No Mundial, foram muitos, demasiados, os jogos decididos por desempate por grandes penalidades. Até a final! Manifesta-se assombroso o alcance planetário de um simples pontapé! Pontapé na bola; pontapé no mundo! Resulta resplendor ou apagamento, anjo ou besta. Fenómeno pouco lógico, porventura mágico-religioso. Em verdade vos digo, a sensatez humana não vale um tostão.
Eutirox é um medicamento incómodo. Tomado de manhã em jejum, convém aguardar meia hora até ao pequeno almoço. No intervalo, acontece recostar-me a ouvir música e voltar a adormecer. Momento propício a sonhos que o acordar costuma recordar.
Hoje, em sonho, regressei à infância, irritado com a nomeada de queima-santos atribuída aos residentes de Prado (São Lourenço), minha terra natal. Desviado o olhar para o mapa, os limites da freguesia começam a expandir-se até coincidir com o País, Portugal (Santa Maria), agora travestido de “mátria” de queima-santos! Novo salto até à Alumiada a S. Tomé, na freguesia de Penso, em Melgaço. Fachos de palha de centeio incendeiam a noite (ver vídeo 3). Os participantes acabam por se juntar numa fogueira colossal (vídeo). Mas, em vez de São Tomé, aparecem São Cristiano e São Fernando, consumidos pelas chamas como o boneco, também de palha, do “entroido” de Castro Laboreiro. Tomados por uma fé avessa a falhas (pecados? traições?), atentos aos profetas da comunicação social, os queima-santos sentam-se à volta da fogueira, à espera de novas epifanias, novos êxtases e novas santificações.
Acordei envergonhado com o meu subconsciente.
Há vinte anos escrevi um artigo dedicado ao futebol. Desde então muita água correu; o texto permaneceu enxuto. Permito-me recolocá-lo.
Para uma carreira de sucesso
Dizes-me, esqueço. Ensinas-me, lembro-me. Envolves-me, aprendo (Benjamin Franklin)

O anúncio tailandês “Work Work Work”, para a agência de formação e emprego Kasiskorn Career, é uma espécie de versão oriental atual do livro The Way to Wealth, de Benjamin Franklin (1758): contempla alguns conselhos práticos para ter sucesso no trabalho. Com imaginação e humor.
Falar com imagens

Quer-me parecer que os orientais possuem o dom da argumentação com imagens. E não com quaisquer imagens! Com imagens fantásticas e delirantes. Convocam imaginários absurdos e logram um efeito mais consequente e convincente do que a própria realidade do real. As campanhas de sensibilização da Thai Health Promotion Foundation são um bom exemplo.
A imaginação infantil ao poder

“A imaginação ao poder” (palavra de ordem de Maio 68)
O Halloween já passou, o Natal está à porta. A imaginação infantil ao poder, tanto nos Estados-Unidos (onde a Toys’R’Us tem sede) como na Rússia (onde a S7 Airlines tem sede)!
Humor Batráquio. Estupidez e Esperteza

“Nunca atribuas à malícia o que pode ser explicado pela estupidez humana” (Robert A. Heinlein)
“Nunca subestimes o poder da estupidez” (Robert A. Heinlein)
O perigo espreita, o turista inventa e a seguradora promete. O anúncio Frog, da companhia de seguros argentina Turismocity, confronta-nos, mediante um discurso simples com final inesperado, com uma interrogação: a esperteza enxerta-se na estupidez?
Há muito que ando tentado a partilhar o ensaio satírico As Leis Fundamentais da Estupidez Humana de Carlo M. Cipolla (1988). Nunca é tarde.
Plenitude afetiva

A relação entre pai e filha nem sempre é fácil, mas pode propiciar, com a ajuda da tecnologia HP, momentos inesperados de satisfação e plenitude afetivas. Um pouco à margem no anúncio Little Moments, da HP, resulta surpreendente a figura da “mãe”, quase reduzida ao papel, decisivo mas discreto, de fotógrafa.