Cupido e a dança dos esqueletos

Aproxima-se o São Valentim. É tempo de preparar sementeiras. Altura propícia para Cupido se soltar e começar a fazer da suas. Nem sequer os esqueletos escapam! Junto uma animação 3D com um Cupido barroco que me acaba de enviar o Eduardo Pires de Oliveira. Um bom pretexto para recolocar uma dança erótica esquelética. Ambas as animações (mappings) foram produzidas pelo coletivo artístico belga Skullmapping.
Futurismo: tecnologia e ambiente

De vez em quando, A BMW contempla-nos com anúncios de belo efeito estético. Este Forwardism Comes Home não desmerece. Não é fácil demonstrar que um automóvel é amigo do ambiente. Já é menos difícil no que respeita às novas tecnologias. Em termos de consumo, os carros elétricos têm vantagem em relação aos que recorrem a combustível de origem fóssil. Mas, em contrapartida, a fabricação das baterias concorre em sentido inverso. A BMW propõe-se contornar o problema recorrendo à energia solar.
“In 2022, automotive giant BMW Group has forged a global partnership with Emirates Global Aluminium, the UAE’s largest industrial company outside the oil and gas sector, to be the first customer for its new CelestiAL aluminum. The first of its kind, this aluminum is locally produced using solar power generated at the Mohammed Bin Rashid Al Maktoum Solar Park (…) In an electrified vehicle, CO2 emissions from the use phase are much lower, but producing battery cells or aluminium is extremely energy-intensive. The BMW Group not only wants to stop this trend, but also reverse it – and even lower CO2 emissions per vehicle by 20% from 2019 levels” (https://www.adsoftheworld.com/campaigns/forwardism-comes-home).
Escrutinadores e agitadores


Teresa de Sousa, do Público, jornalista desde 1977, que admiro, escreveu hoje uma “Newsletter exclusiva para assinantes”. Venho dizendo, aproximativamente, o mesmo, embora com parcas palavras, voluntariamente, algo enigmáticas. Sem autorização para reproduzir o artigo, remeto para a fonte: https://www.publico.pt/2023/01/24/newsletter/mundo-hoje. Teresa de Sousa começa por interpelar o leitor com um conjunto de interrogações:
Caro leitor, cara leitora, não sei se já lhe passou pela cabeça admitir que algo de errado se passa neste país quando, todos os dias, surge na imprensa mais um “caso” sobre um membro do Governo que, de um modo ou de outro, afecta a sua imagem e a sua credibilidade, dominando quase totalmente o debate público. Teremos o pior Governo do mundo? Os governantes são corruptos? Não há mais nada a acontecer no país? A quem interessa esta situação? A mim, estas dúvidas colocam-se todos os dias. Por isso, decidi partilhá-las consigo ((https://www.publico.pt/2023/01/24/newsletter/mundo-hoje)).
Tenros e ternos


Tenros e ternos, eis um anagrama adequado a estes dois anúncios franceses da McDonald’s, o venerável Le Vélo e o recente Les Amis. Uma ternura comercial, sobre rodas e em conserva.
A Caverna dos Fantasmas de Estimação. The Cinematic Orchestra
Numa poltrona ampla, perto de uma lareira abençoada, pode-se viajar, no inverno, até ao infinito (Hippolyte Laroche)
Há anos que não me expunha assim, tão fora de casa e tão fora de mim. Deixei o mundo penetrar até aos ossos e a expressão soltar-se. Como desfecho, sinto-me massajado, amassado e moído. Surpreendo-me, por drástica que tenha sido a vacina, a desejar o torpor cálido da caverna. Com a visita desta frente nórdica, frio apenas tolero o da música, compassada, suave, minimalista… Etérea!

Por exemplo, a trompete do norueguês Nils Petter Molvær. Ao procurar nos discos, tropecei nos The Cinematic Orchestra. Afins, também servem. Talvez não sejam do agrado de todos, mas não me inibo em partilhar coisas que colidem com o gosto alheio, apenas não partilho aquelas de que não gosto. Acontece colocar música a pensar numa única pessoa, que, porventura, não vejo há uma eternidade e decerto não voltarei a ver. O suficiente. Fantasmas de estimação!
O Príncipe e a Fábula das Abelhas

“Pois, se bem considerado for tudo, sempre se encontrará alguma coisa que, parecendo virtude, praticada acarretará ruína, e alguma outra que, com aparência de vício, seguida dará origem à segurança e ao bem-estar” (Maquiavel. O Príncipe. 1532. Capítulo XV).

Acordei virado do avesso, os pés no lugar da cabeça, e uma insólita tentação de revisitar O Príncipe (1532), de Nicolau Maquiavel, e A Fábula das Abelhas (1714), de Bernard Mandeville. Atordoa-me um turbilhão de dúvidas e perplexidades.
O maquiavelismo é a forma mais maléfica de equacionar a política? E a missão do político ganha em ser aproximada da santidade?

Assediam-me fantasmas, pouco católicos, que subjugam as más consequências às boas intenções. Por exemplo: a perversidade apologética da honestidade; o cortejo de sentenças espetaculares antecedentes a investigações e julgamentos arrastados; o coro mediático como júri e a massa como patíbulo; os magistérios e os ministérios como mistérios previsíveis; a legislação do nojo político como nojo da legislação política; a realidade refém da aparência, a suspeição erigida em regra e a confiança em exceção; a vigilância das marionetas e a invisibilidade dos cordéis; a desgraça da política e a glória do oportunismo; a desvalorização dos cargos visando a excelência dos ocupantes; a navegação sem norte aspirando abarcar, assim, o mundo; o homem sem qualidades à espera do salvador iluminado; o povo a marinar no lume brando do populismo: e mais uma orgia de aporias e paradoxos gastos e recorrentes. Em suma, um simulacro transgénico que coteja contrários: puritanismo e irresponsabilidade, soberba e miopia, com inestimável incidência no destino da sociedade. Segue o poema A Fábula das Abelhas, de Bernard Mandeville, merecedor de atual e redobrada consideração.
Ousadia serena para almas céticas

O artigo anterior contemplou a cantora Angel Olsen. Quem escuta Angel Olsen arrisca ocorrer-lhe Sharon Van Etten. Partilharam, aliás uma música: “Like I Used To” (1991). Nascida em Belleville, New Jersey, em 1981, Sharon Van Etten editou o seu primeiro álbum, “Because I Was In Love”, em 2009. Desde então publicou cinco álbuns: Epic (2010), tramp (2012), Are We There (2014), Remind Me Tomorrow (2019) e We’ve Been Going About This All Wrong (2022).
Com uma voz ligeiramente rouca, as “suas músicas “Suas são sinceras sem serem excessivamente sérias; sua poesia é franca, mas não aberta e sua voz elegante é envolta em suficiente tristeza para não soar muito pura ou confiante”. A elegância de uma ousadia serena. E alguma intimidade sombria. Dedico estas quatro músicas, uma por álbum por data decrescente, às almas céticas que dobram os anos como quem muda de pântano.
Recomendo o artigo “Santuário da Boa Morte, Correlhã, Ponte de Lima”, um texto curioso com imagens magníficas, de Eduardo Pires de Oliveira, no blogue margens: https://margens.blog/2022/12/30/santuario-da-boa-morte-correlha-ponte-de-lima/
O riso da velha grávida (margens)
Coloquei um artigo com características pouco habituais no blogue margens. É enorme, original, surpreendente e irreverente. Um regresso lúdico, mas aplicado, ao grotesco mais delirante e desconcertante. Espreite! Basta um click no endereço ou na imagem seguintes: https://margens.blog/2022/12/19/o-riso-da-velha-gravida-revisto-e-aumentado/.

Prenda de Natal. As imagens também rezam

Durante a Baixa Idade Média, a experiência e o sentimento do religioso alteraram-se. Acentua-se a humanização do divino. O céu e o inferno aproximam-se da vida quotidiana. A relação com o sagrado intensifica o sensorial e o emocional. Implementa-se a oração no espaço privado. As imagens, utilizadas para a difusão da doutrina da Igreja, afirma-se, também, como mediação na comunicação com o Além. O prazer da imagem expande-se e diversifica-se. Este é o contexto em que aparecem e se multiplicam, a partir do séc. XIII, os livros de horas, suportes da oração em privado. Dispendiosos, de fabrico demorado em oficinas especializadas, são inicialmente uma exclusividade da realeza, da alta nobreza e do alto clero. Prezados, símbolos de estatuto, preservados na esfera privada e motivo de colecionismo, sobreviveram à destruição que vitimou outros tipos de obras de arte. Só na Bibliothèque Nationale de France, na British Library e na Morgan’s Library, os exemplares contam-se aos milhares. Rica e minuciosamente ilustrados, sobressaem como fontes documentais do quotidiano e do imaginário medievais.

Jean de Vallois, Duque de Berry (1340-1416), colecionador “compulsivo” de obras de arte e “curiosidades” possuía vários livros de horas. Entre estes, os célebres Les Grandes Heures de Jean de Berry (1407-1409) e Les Très Riches Heures du Duc de Berry (1413-1416). É convidado a “folhear” o primeiro na galeria seguinte com a lista completa das páginas capitulares. No conjunto, o volume tem 126 folhas ilustradas (39,7 × 29,5 cm). O artigo Horae ad usum Parisiensem. Antecipação medieval do surrealismo acrescenta uma seleção das figuras fantásticas das margens do livro.
Galeria de imagens: Páginas capitulares do livro de horas Les Grandes Heures de Jean de Berry






















Fonte: Bibliothèque Nationale de France: https://gallica.bnf.fr/
A descarga (download) integral de Les Grandes Heures de Jean de Berry (78.2 MB) está disponível no seguinte endereço (link): https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b520004510/#
Se após a “leitura” das imagens das Grandes Horas de Jean de Berry sobrar algum tempo, pode ainda assistir ao concerto de música sacra espanhola (Llibre Vermell de Montserrat e Cantigas de Santa Maria), na catedral românica de Elne, durante o festival de radio France et Montpellier Languedoc-Roussillon 2013, com interpretação da Maîtrise de Radio France e Les Musiciens de Saint-Julien. Para aceder a este concerto, carregar na imagem seguinte ou no endereço https://margens.blog/2022/12/25/prenda-de-natal-os-anjos-tambem-cantam/, do blogue Margens. Aproveite a folga para perder tempo. Há quem preencha o vazio a fazer posts. Não é exemplo. É vício.

De criação recente, cozido no mesmo forno, o blogue margens é parceiro do Tendências do Imaginário. Embora com vocações e composições diferentes, apostam na simbiose e na complementaridade, sem inibição de mútua remissão. O custo desta dança resume-se a um clique.
Maquilhagem da Alma
You can leave now if you want to
I’ll still be around
This parade is almost over
And I’m still your clown
(Angel Olsen. Woman. My Woman. 2016)

O anúncio “quase perfeito” She, da J&B, lembra o vídeo musical Every Time the Sun Comes Up, da Sharon Van Etten: ênfase na idade, nas rugas, na maquilhagem (vídeo 1). She, o nome da canção célebre que acompanha o anúncio, lembra ainda uma outra canção, homónima, da jovem norte-americana Alice Phoebe Lou (vídeo 2). Por seu turno, Alice Phoebe Lou, quando canta She, lembra uma fada Sininho impetuosa (vídeo 3).
Sharon Van Etten