A Falha Humana
Nunca se produziu tanto homem objeto e tanto homem inválido como durante a Primeira Guerra Mundial. Uma procissão de homens desfeitos, incompletos, à espera de recomposição física e moral. “Os estilhaços da bomba alteraram para sempre a face da arte” (Ades, Dawn, 2000, Conceitos da Arte Moderna, Rio de Janeiro, Zahar, p. 111). Este vídeo presta homenagem a dois artistas alemães: Otto Dix (1891-1969), expressionista; e George Grosz (1892-1959), dadaísta e expressionista. A música recorda Klaus Schulze (Wahnfried 1883, do álbum Timewind, 1975). Este vídeo não incide nem sobre coisas boas nem sobre coisas belas.
Galeria de Imagens de Otto Dix e George Grosz
Métodos e Técnicas de Investigação Social I
Junto uma espécie de manual de métodos e técnicas em ciências sociais cuja primeira versão foi escrita em 1998. Por falta de tempo e de vontade não o publiquei. Pode, mesmo assim, revestir-se de alguma utilidade: Métodos e Técnicas de Investigação Social I
A Mulher, o Homem, o Carro e a Bebida
As relações de género, como todas as relações, conhecem fases e oscilações. Várias figuras podem ser revisitadas no espaço e no tempo. No anúncio da Hiunday, o efeito Axe passa dos desodorizantes para os automóveis. A mulher, tendência Eva, é desejo e tentação a um passo do pecado (ligar HD). No anúncio da William Lawson’s, a mulher, tendência Maria, serva do lar vestida de noiva, é afastada por uma fratria masculina de bebedores de Whisky. Mudam-se os tempos, renovam-se as vontades.
Marca: Hyundai. Título: Upskirt. Agência: Fitzroy, Amsterdam. Holanda, Setembro 2012.
Marca: William Lawson’s. Título: Wedding. Agência: Famous, Brussels. Direção: Koen Mortier. Bélgica, Setembro 2012.
Peter, Paul & Mary
Ir à Sesame Stret, subir a Yellow Brick Road e repousar na Little House on the Prairie, é mais divertido com a música do grupo folk norte-americano dos anos sessenta Peter, Paul & Mary. Seguem os vídeos de três canções: 500 Miles, voz principal de Mary Travers (1962); Early Morning Rain (1965), cantada por Paul Stookey; e Puff the Magic Dragon (1963), por Peter Yarrow. Escavações de arqueólogo (ver figura), de quem está mais para lá do que para cá.
Peter, Paul & Mary, 500 Miles, 1962
Peter, Paul & Mary, Early Morning Rain, 1965, vídeo ao vivo em 1966.
Peter, Paul & Mary, Puff the Magic Dragon, 1963, vídeo ao vivo em 1966.
Caça Palavras
Os videojogos fazem parte da nossa vida e, naturalmente, da publicidade. A par do humor, do corpo, do sexo, dos ídolos e do desporto, os videojogos abrem o seu caminho. Este anúncio da Faber-Castell combina com sucesso o First Person Shooter Game, o Paintball, o alfabeto e o marcador. Quantos livros não manchei com cores pop art para nunca mais os reabrir! Cemitérios de letras pintadas.
Marca: Faber-Castell. Título: Don’t Miss a Word. Agência: Ogilvy , Singapore. Singapura, 2012.
Calexico. The Vanishing Mind
Vai um Calexico acabado de sair?
A crise que a pague quem não pode!
O Zé dos Votos deu ouvidos ao Zé dos Tostões: a crise que a pague quem não a pode pagar. Este é o mais recente ovo de Colombo descoberto pelas elites nacionais! Na reunião do Conselho Permanente da Concertação Social, do dia 24 de Setembro, “o primeiro-ministro afirmou que levava da reunião a necessidade de alargar o esforço a todos. E foi isso que afirmou à saída: a contribuição também do capital e do património, de “impostos directos” e do “esforço que já estava pensado para o reescalonamento do IRS”, afirmou. Aumentar ou reduzir o IVA está fora de questão. A tributação sobre o tabaco irá subir.” (jornal Público, 25.09.2012, pág. 3).
“A tributação sobre o tabaco irá subir”. Qual é a situação atual? “Portugal tem uma das mais elevadas incidências fiscais totais sobre os cigarros na UE-15 e um dos níveis de preços relativos dos cigarros (considerando as disparidades de poder de compra) mais oneroso da UE-15 – para que se perceba, na compra de um maço de tabaco, 80% reverte para impostos” (http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO038508.html, acedido 25.09.2012). A fazer fé nesta informação, quem consumir um maço de tabaco por dia está a depositar, ao preço atual, 1 139 euros, por ano, nos cofres do Estado. Um bom subsídio de férias!
“A tributação sobre o tabaco irá subir”. Houve tempos em que era possível acreditar que este tipo de medida comportava virtudes preventivas. Por exemplo, diminuir as doenças pulmonares obstrutivas crónicas. Desta vez, torna-se impossível sustentar tal pretenção. A nova tributação sobre o tabaco é um imposto destinado a combater o défice. Sem eufemismos.
Não se cobram impostos a coisas. Elas não pagam. Até agora, só se tem cobrado impostos a pessoas. Assim é com a tributação sobre o tabaco; é cobrada a pessoas. Estamos confrontados com um imposto que incide sobre uma categoria determinada de portugueses, os fumadores de tabaco, cuja composição social é conhecida (ver: http://tendimag.com/2012/09/24/os-fumadores-que-paguem-a-crise/). Que atributos económicos, sociais e culturais distinguem os fumadores que justifiquem esta sobrecarga fiscal? Não há argumentos racionais aceitáveis. Pelo menos, num país democrático. Só morais, no pior sentido, e políticos, quando a justeza deixa de ser critério. Trata-se de uma medida arbitrariamente discriminatória. Poderia ter calhado às mulheres, aos homossexuais, aos ciganos, aos alcoólicos, aos ciclistas, aos bebedores de café, aos funcionários públicos… Não, desta vez, são aos fumadores. Indexa, taxa e, com a respetiva moral nas entrelinhas, estigmatiza. Soma e segue.
Sendo esta tributação ostensivamente discriminatória, não configura um caso inequívoco de iniquidade fiscal? Pelo menos, nos termos do parecer do Tribunal Constitucional. Não será um esforço fiscal excessivo no combate ao défice pedido a uma categoria particular de portugueses? Não se estará a ferir o princípio da igualdade perante a Lei? A não ser que, como na quinta de George Orwell, alguns portugueses sejam mais iguais que outros…
“ A entrada de tabaco no mercado português baixou 11 por cento entre 2007 e 2009, o que pode ser um “indicador indireto” da diminuição do consumo, disse à Lusa Mário Carreira, da Direcção Geral da Saúde (DGS) (http://www1.ionline.pt/conteudo/54639-consumo-tabaco-baixou-em-portugal, publicado em 09 de Abril de 2010). Se, ao menos, a subida da tributação sobre o tabaco diminuísse o consumo!… Mas não! A queda do consumo tende a ser pouco significativa. Sem comparação com a queda da “entrada de tabaco no mercado português”. Desce em Portugal, mas aumenta na fronteira espanhola. E o contrabando do tabaco não desarma. E muitos fumadores converteram-se a marcas e a modalidades mais baratas. É provável que estas “compensações” que ocorreram entre 2007 e 2009 também venham a verificar-se em 2013. Aumentar a carga fiscal e recolher menos impostos constitui um efeito perverso, nos últimos tempos, mais que visto. As pessoas não são legos. E Portugal não tem que oscilar entre Sebastião e Pirro: derrotas sem luto e vitórias sem fruto.
Não conheço associações, ordens ou movimentos de fumadores. Não há risco de protestos contra a subida da tributação sobre o tabaco que encham a Avenida dos Aliados ou a Praça de Espanha. A mobilização dos fumadores desfaz-se no ar. A equidade desfaz-se em euros. Para tributar os fumadores não é necessária grande coragem. O fumador é um acossado.
Enquanto coleciona falências de empresas como não há memória, o Zé dos Tostões arma-se em conselheiro do Príncipe. Sugere ao Zé dos Votos que o Zé do Boné (alguém se lembra das suas tiras no Primeiro de Janeiro?) está mesmo a jeito para a tosquia… A ave que simboliza este país não é o galo, ainda menos a Águia, é o abutre. Parece que toda a gente sabe que quem fuma não presta. É uma ameaça pública. Quem fuma que deixe de fumar se quer ser um cidadão como deve ser. Assim manda o processo profilático de higienização social.
Fumar não presta, é verdade! Quem se aproveita disso, também não.
Os fumadores que paguem a crise
“Patrões querem subir imposto do tabaco para manter corte na TSU: CIP quer manter o corte de 5,75% da TSU paga pelas empresas e, para o compensar, propõe subida de 30% do imposto sobre o tabaco.” Eis uma notícia de primeira página do jornal Público de 24 de Setembro. Na página 6, fica-se a saber que “a CIP pretende manter a redução de 5,75%, “mas encontrando outras formas de compensação que não passem pelo rendimento dos trabalhadores.” Eis uma proposta. E quantificada! Num país tão carente de propostas, é um acontecimento. Descontando as do governo, a última proposta de que me lembro provinha também da área patronal: o despedimento de 100 000 trabalhadores da função pública. Uma proposta que traz a marca das nossas elites, desde o Zé Tostões até ao Zé Votos. Com aquele requinte predador e parasita que tão bem lhes fica. Chuta-se para o lado, tal como o Zé Povinho, e suga-se à maneira. Tudo isto é triste, tudo isto é fado e está há muito caricaturado: enquanto o Zé Povinho fuma (apita), alguém lhe esvazia as algibeiras. Tudo isto é triste, tudo isto existe. E por que não? Os fumadores são gente, mas não são gente como a outra. O pecado entra-lhes pela boca e aloja-se nos pulmões. Têm que pagar uma sobretaxa pelo direito ao fumo. Os judeus na Idade Média também tinham que pagar impostos escorchantes pelo direito à liberdade.
O fumador é gente, naturalmente. Quem sustentaria o contrário? Mas é gente de outra espécie. Por isso se pode argumentar que uma subida de 30% do imposto sobre o tabaco é uma “forma de compensação que não passa pelo rendimento dos trabalhadores”. Só lhes passa pelos brônquios… Segundo um inquérito promovido pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, administrado nos anos 2005 e 2006 e publicado em 2009, em cada 100 fumadores, 52 são trabalhadores ativos, 5 desempregados, 23 reformados, 8 estudantes, 10 domésticos, 2 incapacitados permanentes. Cerca de metade (49,1%) tinha menos de 5 anos de escolaridade; três quartos (75,2%) têm até 9 anos de escolaridade. Eis a mina proposta para encher o poço das empresas portuguesas! E nada “passa pelos rendimentos dos trabalhadores”. Como nada sai da algibeira do Zé Povinho distraído com o apito. É esta a população sobre a qual se pretende fazer incidir uma sobretaxa especial, ou seja, os mais desfavorecidos e os mais fustigados pela crise. Os fumadores que paguem a crise! Escrever estas letras de nada serve. A questão do tabaco foi de tal modo envenenada que, nestes dias, onde há fumo não há juízo.
Live and Let Drink
A Heineken anticipa o novo filme de James Bond (007 – Operação Skyfall, a estrear em Outubro) com uma alucinante paródia, onde nem sequer falta a nova Bond girl, Bérénice Marlohe. Vale a pena carregar em HD (canto superior direito).
Marca: Heineken. Título: Crack the case. Agência: Wieden + Kennedy Amsterdam. Direção: Matthijs Van Heijningen. Holanda, Setembro 2012.
Homjetos
De vez em quando, acontece-me inventar palavras. Na maioria dos casos, já alguém o tinha feito. Por exemplo, “ninguenização”, palavra freia já cunhada no Brasil. Homjeto não significa nada. Nem sequer virando o dicionário do avesso. Mas não dizendo nada, diz o que parece: um misto de homem e coisa. Com a devida sonoridade. Que conste, não existe na internet. Por enquanto, a aberração é minha. Para quê homjeto quando já se diz homem objeto? Porque a expressão “homem objeto” continua a cavar uma dicotomia e a dar primazia ao homem. Não interessa! Seja como for, andamos rodeados, pelo menos desde a Idade Média, de homjetos. Atente-se, por exemplo, nos outdoors que decoram os espaços públicos (ver galeria).