História de um melro que morreu por ser feliz

Um melro costuma fazer ninho no quintal. Atarefado, tem-se saído bem com os gatos. Pior destino teve “o melro” do Guerra Junqueiro, vítima da vingança do Velho Padre Cura, num extenso conto em verso que o meu avô recitava de cor. Segue a digitalização do poema “O Melro” a partir da segunda edição ilustrada do livro A Velhice do Padre Eterno (1ª edição: 1885). Segue o respetivo pdf,
Quem fala em melros, pode falar em rouxinóis. Porque a opressão e a maldade não têm pouso exclusivo. Ao melro raptaram-lhe os filhos; ao rouxinol da Cantilena de Francisco Fanhais cortaram quase tudo.
Com imagens pode dizer-se muito. Com poucas imagens pode, por vezes, dizer-se ainda mais. Na curta-metragem dos bauhouse, sopra-se no medo e na esperança até que explodem como tiros e bombas. Porque as nossas asas são tão frágeis como as dos pássaros.
Mãos exiladas

Há mais de um ano que não dava um passeio. Hoje, visitei o Museu D. Diogo de Sousa, atraído pela valiosa Coleção Bühler-Brockhaus. Vale a pena! Creio que também vale a pena espreitar, pelo prazer visual, o vídeo Mãos Exiladas e a respetiva galeria de imagens, com desenhos de Albrecht Dürer e esculturas de Auguste Rodin.
Galeria de imagens: Mãos Exiladas – Dürer & Rodin

























Pornografia alimentar

Bocadas, umas grotescas, outras delicadas. Um prazer glutão ao ritmo do hino da alegria. Quase uma orgia num autocarro. Um banquete rodoviário. A gula em movimento.
Indecisão

Começar a semana com uma música é uma boa prática. Para a música do lado A, Lonely Boy, falta-me energia; para a música do lado B, Nocturne, falta-me a tranquilidade. O mais avisado é não começar a semana.
Arabescos

O arabesco, de origem islâmica, é um entrançado decorativo com predomínio de formas geométricas. Na origem, não contemplava figuras humanas (ver figuras 1 a 3). Encontram-se obras precursoras no Império Romano e na Grécia Antiga (ver figuras 4 a 6). Os grotescos aproximam-se dos arabescos (ver https://tendimag.com/2012/02/12/desgravitar-sem-conta-peso-e-medida/).
1. Santa Sofia de Constantinopla. Séc VI. 2. Painel decorativo. Sé. IX. 3.-Grande mesquita de Kairouan. Tunísia. 4-Pella. Grécia. Séc. IV aC. 5.-Mosaico romano. Séc. III. 6.-Mosaico romano. Termas de Diocleciano. Roma.-Séc. III.
O arabesco inspira a música. A composição Arabesque, de Claude Debussy, é uma referência. Os Coldplay publicaram, recentemente, uma canção intitulada Arabesque.
A música na publicidade

Quando a música e, eventualmente, a dança são estrelas, o resto perde brilho. São exemplo os anúncios Dairy Dancing, da Pump e Little Angels, da Hyundai. O motivo e a marca podiam mudar, o impacto e a promoção mantinham-se. Repare-se, por último, que a música produz um efeito de união: em Dairy Dancing, as pessoas sintonizam-se; em Little Angels, a música pacifica e gera comunhão dentro e fora da família.
Os gatos de Gustavo Rosa


Gustavo Rosa (1946-2013) é um artista plástico brasileiro. Admiro o humor dos seus desenhos singelos e coloridos. Tudo cabe nos seus quadros: pessoas, animais, coisas… Dizem que se assemelha a Aldemir Martins, Di Cavalcanti e Fernando Botero. No meu entendimento, os desenhos de Gustavo Rosa assemelham-se aos desenhos de Gustavo Rosa. Sobretudo, os gatos. São inconfundíveis. Segue uma pequena amostra.
Galeria de imagens: os Gatos de Gustavo Rosa
Um mandamento novo

As pessoas de diferentes culturas não só falam diferentes linguagens como, facto possivelmente mais importante, habitam diferentes mundos sensoriais (Hall, Edward T., 2003, La Dimensión Oculta, Buenos Aires, Siglo XXI, ed. original 1966 , p. 8).
Jean Michel Folon. The Topsy-Turvy Economy. 1978. Jean Michel Folon. Aguarela sem título.
O Covid-19 criou um mandamento novo: afastai-vos uns dos outros. Apela a um socialização responsável. A publicidade aderiu à sensibilização. Seguem dois anúncios da Heineken em que a cerveja rima com convívio desaproximado.
Os especialistas do gosto

Quem gosta mais de ti do que tu? Quem gosta mais do que tu gostas? Quem te estuda e prevê? Centros de investigação, empresas de marketing, agências de publicidade, políticos, sociólogos, psicólogos, semiólogos… A missão? Conhecer para seduzir, conhecer para antecipar. Bernard Cathelat e o CCA (institut d’étude des Socio-Styles de Vie)) são um bom exemplo : dedicam-se à cartografia e à infografia dos comportamentos e das tendências sociais. E vendem os resultados (Cathelat, Bernard, Socio-Life Styles Marketing, the new science of identifying, classifying and targeting consumers, Probus Publishing, Chicago, 1994). O livro A Distinção (1979), de Pierre Bourdieu, oferece-se como uma bíblia do estudo dos gostos e dos estilos de vida.
Num catálogo online, os produtos piscam-te o olho, parecem escolhidos a pensar em ti. Numa loja de roupas, há peças que estão à tua espera. Parece bruxedo, uma nova espécie de “feiticismo da mercadoria” (Karl Marx, O Capital, 1867). Jean Baudrillard fala em “estatuto miraculoso do consumo” (A Sociedade de Consumo, 1970). O Youtube sugere alternativas, “expressamente para nós”. Os cookies ajudam. Já dizia a rainha santa Isabel: “são bolachas, Senhor!”. Que conforto haver especialistas capazes de gostar por nós. Nada novo sob o sol da inteligência, trata-se de uma verdade gasta, mais gasta do que as calças de um cowboy. Ferrugem da sociologia litúrgica. Ninguém esconde, ninguém disfarça. O anúncio espanhol ADN, da empresa Adolfo Dominguez, proporciona uma ilustração desinibida. A verdade despida.
“ADN combina dos tipos de inteligencia. Un algoritmo que crea un perfil con tu estilo al completar un test online. Y un equipo de estilistas que saben lo que te queda bien”.