Primeiro single dos Pink Floyd
Hoje não me apetece elaborar. Fim de mês, fim de férias. Nem mísera crítica, nem piada incógnita. Vou apenas anexar o videoclip da primeira música publicada pelos Pink Floyd: Arnold Layne, single, 1967.
Pink Floyd. Arnold Layne. 1967.
Já agora, no mesmo ano, 1967, a outra grande banda do rock progressivo britânico dos anos sessenta, The Moody Blues, lança o segundo álbum (LP): Days of Future Passed, com Nights in White Satin. Carregar na imagem para aceder.
The Moody Blues, Nights in White Satin, ORTF, França, 1969.
A dança do cabo de vassoura com a zarapilheira
O anúncio francês La Valse à Musette, da Spontex, suscitou polémica por altura do lançamento em 1998 (vídeo 1). É verdade que estamos perante uma paródia, que requer uma leitura de segundo grau. Também é verdade que, apesar da associação do homem ao cabo de uma vassoura, a imagem da mulher resulta sobremodo ridicularizada: uma zarapilheira descartável mergulhada nos estereótipos e preconceitos habituais.
Marca: Spontex. Título: La Valse Musette. Agência: Ogilvy and Mather. Direção: Etienne Chatiliez. França, 1998.
Choveram protestos. Até se questionou a autorização por parte do Conseil Supérieur de l’Audiovisuel (http://www.csa.fr/Espace-Presse/Communiques-de-presse/Confirmation-du-visa-du-film-publicitaire-La-Valse-musette). Três anos mais tarde, o anúncio ter-se-ia deparado com mais obstáculos. Em 2001, as agências de publicidade francesas assinaram um código de boa conduta, publicado pela Autorité de Régulation Professionnelle de la Publicité (http://www.arpp-pub.org/IMG/pdf/Image_de_la_Personne_Humaine.pdf). Entre as onze medidas previstas, constam as seguintes:
– “Quando a publicidade recorre à nudez, convém zelar para que a sua representação não possa ser considerada degradante ou alienante”;
– “A publicidade não deve reduzir a pessoa humana, e em particular a mulher, à função de objecto”.
Marca: Spontex. Título: Test. Agência: Jung von Matt. Alemanha, 1998.
À partida, a Spontex, a agência Ogilvy e a realizadora Etienne Chatiliez nada têm contra as mulheres. Elas compõem, aliás, o público-alvo da campanha. No anúncio Test, publicado no mesmo ano na Alemanha (vídeo 2), a Spontex volta a não ter nada, agora, contra os homens, apenas os reduz a uma esponja imprestável. Para completar o castiçal, em 2000, um anúncio espanhol da Spontex, Vaisselle Érotique (vídeo 3), reduz um casal a um par de luvas excitadas.Com ou sem requinte, a Spontex está convencida que o sexo vende. E não é um caso isolado.
Marca: Spontex. Título: Vaisselle érotique. Agência: Tandem Company Guasch DDB. Espanha, 2000.
A censura e a autocensura existem. Em nome do sagrado, da ordem, da raça, da pátria, dos bons costumes, da protecção dos cidadãos… Outrora, o lápis era azul, agora, o cursor é cor-de-rosa, vermelho, verde… A censura anda por aí! Padroeira das conveniências, tribunal do espírito, jardineira dos valores, alambique da mesquinhez, escudo dos débeis. A censura existe! O sexo, também.
Evasão
Hoje, apetece-me algo bom! Sim! Algo mesmo bom! Para despedir as férias. Apetece-me zarpar para a ilha das pessoas raras. Apetece-me, por exemplo, um Aveillan! Um balsamo para os olhos e para os ouvidos. Que a boca e o tacto são dados à luxúria… Bruno Aveillan dirigiu em 2008 a primeira campanha para a Louis Vuitton: “Where Wil Life Take You”. Sob o signo da travessia. Recebeu 14 prémios internacionais. As imagens são fantásticas. A fotografia é inconfundível. Sequências passageiras despedem-se suavemente. A música é da autoria de Gustavo Santaolalla, vencedor de dois prémios Nobel pela melhor banda sonora dos filmes O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e Babel (2006). Hoje, apetece-me algo bom! Mesmo bom! Uma pitada de evasão com as asas de Bruno Aveillan e Gustavo Santaolalla.
Marca: Louis Vuitton. Título: A Journey. Agência: Ogilvy. Direção: Bruno Aveillan. Produção: Quad. Música: Gustavo Santaolalla. França, 2008.
Genesis
Não oiço falar dos Genesis há bastante tempo. Têm ouvido? Uma das bandas mais marcantes da história do rock… A memória colectiva tem destas coisas: acontece-lhe ser mais cangalheira do que cavalheira. Confesso uma pequena inclinação pelo álbum Selling England by the Pound (1973). Segue a faixa “Dancing with the Moonlit Knight”.
Genesis. Dancing with de Moonlit Knight. Selling England by the pound. 1973.
Dentes brilhantes
A Happydent desenvolveu na Índia, entre 2005 e 2009, uma campanha publicitária luminosa, com um humor absurdo que lembra o surrealismo.
No primeiro anúncio, de 2005, durante uma sessão fotográfica, um homem, que mastiga uma pastilha elástica Happydent, substitui, ao rir, o flash.
O segundo, datado de 2007, é um anúncio monumental. Num palácio, um jovem corre aflito. Entra numa sala, sobe para o candeeiro, mostra os dentes e faz-se luz. Graças ao efeito Happydent, o jantar pode começar.
No terceiro anúncio, de 2009, um pastor perde um cordeiro. As defesas dos elefantes mergulhadas em água com Happydent iluminam a busca nocturna.
Marca: Happydent. Título: Photographer. Agência: McCann Erickson New Dheli. Direção: Abhihit Chaudhuri. Índia, 2005.
Marca: Happydent. Título: Palace. Agência: McCann Erickson Mumbai. Direção: Ram Madhvani. Índia, 2007.
Marca: Happydent. Título: Elephant. Agência: McCann Erickson. Direção: Abhihit Chaudhuri. Índia, 2009.
Dar a mão a uma criança
See the Child. Change the System é uma campanha promovida pela Kids Co para uma petição contra os maus tratos a crianças, as vítimas mais indefesas da sociedade. No anúncio, sobressai, antes de mais, a voz. Vem do além. Não estamos habituados a ouvir vozes do além, esta, no entanto, não pára de se ouvir. Lembra um outro anúncio sobre maus tratos psicológicos a crianças. A voz é parecida (http://tendimag.com/2012/09/17/ninguenizacao/). Caso for a mesma voz, nada de surpreendente. Nos modelos da publicidade, acontece as vozes e as mãos serem mais raras, logo mais repetidas, do que as caras e os corpos.
Anunciante: Kids Co. Título: See the Child. Change the system. Agência: AMV BBDO London. UK, Julho 2012.
Acrescento uma canção que me lembra um amigo, o Miguel Bandeira: Yves Duteil, Prendre un enfant (Joan Baez fez um cover desta música). Enfim, também se faz campanha pela positiva…
Yves Duteil. Prendre un Enfant. Tarentelle. 1977.
Antitabagismos. Uma nota histórica parcelar
O blogue Tendências do Imaginário tem dedicado alguma atenção às campanhas antitabagistas. Por que não alargar os horizontes no espaço e no tempo. Existiram campanhas contra o tabagismo no passado? Com que contornos? As primeiras pesquisas proporcionaram duas surpresas.
A primeira surpresa prende-se com a antiguidade das medidas contra o tabagismo. O tabaco foi introduzido na Europa no séc. XVI. Em 1642, o Papa Urbano VIII emite uma bula segundo a qual “qualquer pessoa que use tabaco pela boca ou nariz, tanto em peças inteiras, desfiado, em pó, quanto fumado em um cachimbo, nas igrejas da Diocese de Sevilha, recebe a pena de excomunhão latae sententiae” (http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/idade-media/moral/640-a-igreja-catolica-e-o-tabagismo-uma-revisao-historica).
Em 1650, o Papa Inocêncio X estende a pena às igrejas de São João de Latrão e de São Pedro, em Roma. A razão revela-se prosaica: evitar que a decoração das igrejas fosse manchada com suco de tabaco e fumaça. Há santos e papas consumidores de tabaco. À luz da Igreja Católica, fumar pode ser nocivo e inconveniente e até condicionado, mas não é pecado. “Um jesuíta foi questionado se era lícito fumar um charuto enquanto orava, e sua resposta foi um inequívoco “não”. No entanto, o jesuíta sutil rapidamente acrescentou que, embora não fosse lícito fumar um charuto enquanto orava, era perfeitamente lícito rezar enquanto fumava um charuto” (http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/idade-media/moral/640-a-igreja-catolica-e-o-tabagismo-uma-revisao-historica).
No centro e no norte da Europa, sob influência do protestantismo, as reacções contra o tabaco são mais duras: várias cidades da Alemanha e da Áustria tomaram medidas drásticas contra o tabaco: “No final de 1600, a proibição do fumo foi instituída na Baviera, em Kursachsen e em certas partes da Áustria. O tabagismo foi proibido em Berlim, em 1723, em Königsberg, em 1742, e em Stettin, em 1744. As penalidades por violar tais proibições podiam ser severas. Em Luneberg, em 1691, a pessoa que fumasse o tabaco dentro dos muros da cidade poderia ser condenada à morte. Em outras regiões, a violação das leis do tabaco podia levar a multas (50 moedas de ouro ou “guldens” em Colônia, por exemplo), espancamentos, expulsão, recrutamento para trabalho forçado ou marcação do corpo com ferro em brasa” (http://estomatologista.blogspot.pt/2012/03/guerra-nazista-contra-o-tabaco-primeira.html).
O terreno já estava preparado quando eclodiu a campanha nazi contra o tabagismo no início dos anos trinta. Esta é a segunda surpresa! Foi a primeira campanha nacional contra o tabagismo promovida pelo Estado, de forma consistente e sustentada.
Germany had the world’s strongest antismoking movement in the 1930s and early 1940s, supported by Nazi medical and military leaders worried that tobacco might prove a hazard to the race“ (Proctor, Robert N., The anti-tobacco campaign of the Nazis: a little known aspect of public health in Germany, 1933–45; http://www.bmj.com/content/313/7070/1450).
O governo alemão fundou organizações específicas dedicadas à luta contra o tabagismo, tais como o Gabinete contra os Perigos do Álcool e do Tabaco e o Instituto para a Pesquisa dos Perigos do Tabaco.
Os cientistas alemães reconheceram a associação entre o consumo de tabaco e o cancro dos pulmões (ver figura 5). A história corrente diz que a descoberta foi feita por cientistas norte-americanos e britânicos nos anos cinquenta! Os cientistas alemães identificaram o impacto do tabaco nas doenças cardíacas, incluindo o enfarte do miocárdio. Assinalaram o risco de redução da fertilidade e a presença de nicotina na lactação. Foi avançada, nessa altura, a noção de fumo passivo (Passivrauchen).
Quais foram as principais medidas antitabaco adoptadas pelo governo nazi?
– Educação sanitária, relações públicas e propaganda;
– Imposição de restrições à publicidade do tabaco: foram proibidos os anúncios que advogassem o carácter inofensivo do tabaco ou que associassem o tabaco à virilidade.
– Proibição de fumar em transportes, escolas e instituições de saúde. Esta proibição estende-se, progressivamente, a vários organismos e espaços públicos;
– Proibição de fumar em público a menores de 18 anos;
– Focalização nas mulheres. Nos anos quarenta, as mulheres grávidas, bem como as mulheres com menos de 25 anos e mais de 55, não tinham direito a cartões de ração para tabaco. As mulheres assumiam um papel chave na reprodução da raça. Frigidez, infertilidade, quebra da fecundidade, poluição na amamentação e a exposição durante a gravidez representavam pontos sensíveis. A fixação na pureza da raça explica o leitmotiv do Presidente da Associação Médica da Alemanha: “as mulheres alemãs não fumam!”

06. Campanha anti-tabaco nazi: “Mães, deveis evitar absolutamente o álcool e a nicotina durante a gravidez e a lactância de vossos filhos. Estes elementos dificultam, danificam e destroem o curso normal da gravidez. Beber suco de frutas”. 1942.
A campanha contra o tabagismo ganha em ser encarada à luz da ideologia e da política de raça. O tabaco é considerado como uma ameaça à pureza e à continuidade da raça. Um obstáculo à perfeição. Segundo a propaganda nazi, o vício do tabaco remonta aos africanos. Foi introduzido e é comercializado pelos judeus. Tem mão do capital internacional e do estilo de vida liberal decadente. O tabaco é um intruso que urge combater.
As campanhas contra o tabagismo não têm cor política cativa. Existem, naturalmente, diferenças, principalmente de foro civilizacional.
Para concluir, duas provocações desmioladas.
As campanhas contra o tabagismo convergem no que respeita aos resultados: costumam ser modestos. Meios e argumentos parecem bater em ventre mole. Na Alemanha nazi, o consumo subiu durante a década de 1930. Sem campanha comparável, os resultados foram melhores em França.
Segundo disparate, de cariz anedótico. Durante a Segunda Grande Guerra, dos três líderes da extrema-direita, Hitler, Mussolini e Franco, nenhum era fumador. Do outro lado, Churchill, Roosevelt, Estaline e Charles de Gaulle, todos fumavam.
A dignidade humana
Acompanho pouco, e mal, a política. O suficiente para sentir alguma apreensão. Sou do tempo em que se exigia a um político generosidade, encarada como atributo do poder. A magnanimidade era cognome de rei. Hoje, assevera-se ingénuo associar generosidade e poder. Emergem, em contrapartida, outros atributos. Espera-se que um político seja ambicioso, em termos pessoais. Melhora a imagem do poder e do político? Ganha-se em desempenho? Beneficiam os cidadãos? Do ponto de vista ético, entre generoso e ambicioso, não há que hesitar.
O respeito pela dignidade humana é um desígnio emblemático das chamadas democracias ocidentais. Conheceu interregnos dignos de memória. Setenta anos após a Segunda Grande Guerra e vinte e cinco anos após a queda do Muro de Berlim, continua a cair poeira sobre a dignidade humana. Nesta amnésia pragmática, inquietam-me mais os cidadãos do que os políticos. Esta deriva do poder e da sensibilidade social expressa-se na propaganda. A propaganda não é exclusivo do Estaline, do Hitler e demais ditadores. A propaganda não nos esquece. E nós esquecemos a besta que somos.
Seguem três anúncios de sensibilização da responsabilidade do Ministério da Saúde Canadiano, no âmbito da campanha Quit the Denial. O mínimo que se pode dizer é que atingem o alvo.
Anunciante: Canadian Health Ministry. Título: Social Farter. Agência: BBDO Toronto. Canadá, 2013.
Anunciante: Canadian Health Ministry. Título: Ear Wax Picker. Agência: BBDO Toronto. Canadá, 2013.
Anunciante: Canadian Health Ministry. Título: Social Nibbler. Agência: BBDO Toronto. Canadá, 2013.
A minha ciência é tua
A Science World (Vancouver, Canadá) desenvolve uma política de comunicação assente num entendimento peculiar da responsabilidade social da ciência. Empenha-se em despertar não só a atenção mas também a curiosidade dos cidadãos para a ciência.
Science World is a not-for-profit organization dedicated to engaging British Columbians in science and inspiring future science and technology leadership in our province (http://www.scienceworld.ca/).
Habituei-me a aprender com os canadianos. Entre os cientistas sociais que mais prezo, três são canadianos: Gregory Bateson, Marshall McLuhan e Erving Goffman. Seleccionei três vídeos e nove cartazes ilustrativos do carácter franco, estimulante e provocador das campanhas promovidas pela Science World.
Anunciante: Science World. Título: Boardroom. Agência: Rethink Communications Inc. Direção: Michael Downing. Canadá, 2004.
Anunciante: Science World. Título: Airport Security. Agência: Rethink. Canadá, 2012.
Anunciante: Science World. Título: Positively Painful. Agência: Rethink. Direção: Chris Woods. Canadá, Agosto 2014.
- 01. Scence World
- 02 Science World
- 03. Science World
- 04 Sciene World
- 05 Science World
- 06 Science World
- 07 Science World
- 08 Science World
- 09 Science World
A vida é feita de pequenos nadas
Há anúncios que se assemelham a pequenos documentários. A Stella Artois produziu uma série, Perfectionnists, que vai no sexto episódio. Retive o segundo (The Real Hawk Eye) e o último (Sandman).
A série Perfectionnists corrobora a ideia desenvolvida por Howard S. Becker no livro Art Worlds (1982). Confinar o estudo da arte aos grandes actores (criadores, galerias, museus, críticos) é menosprezar boa parte da actividade que torna a arte possível: a manutenção do palco, o afinador do piano, o vendedor de telas… Todo o mundo parece ser pouco para que uma obra de arte aconteça. Fazem falta pessoas, mas também meios. Não é, por exemplo, qualquer espaço que pode acolher a instalação “Inopportune: Stage One”, de Cai Guo-Qiang, com nove automóveis suspensos (ver figura). Teve lugar no Massachusetts Museum of Contemporary Art, em 2004, e no Guggenheim Museum de Nova Iorque, em 2008. Raros espaços museológicos reúnem as condições necessárias.
O que vale para a arte vale também para o desporto. Estes dois anúncios incidem sobre duas actividades discretas mas decisivas: o falcão que afasta as aves dos courts de Wimbledon e o cuidador dos bunkers nos campos de golfe.
Marca: Stella Artois. Título: Rufus. Agência: Mother, London. UK, Junho 2014.
Marca: Stella Artois. Título: Sandman at the Open Championship. Agência: Mother, London. UK, Julho 2014.
E o Sérgio Godinho, cantor que, com pequenos nadas, encheu os dias de muita gente.