Sociologia sem palavras 18. Cinema
Há momentos impressionantes, como a sequência final do filme Blade Runner. O autómato salva o inimigo humano. À chuva, meio nu, ensanguentado, um prego cravado numa mão e uma pomba branca na outra, senta-se e despede-se com palavras e um sorriso, descaindo-lhe a cabeça para a direita. Como previam os circuitos. A pomba voa em direcção ao céu, como a alma dos justos nas iluminuras medievais. Diógenes procurava o homem com uma candeia acesa em pleno dia. Convém não desistir. Onde está o humano? Onde está o autómato? E o sagrado, o sagrado onde está? Vale a pena (re)ver o filme.
I have… seen things you people wouldn’t believe…
Attack ships on fire off the shoulder of Orion.
I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate.
All those… moments… will be lost in time, like tears… in… rain.
Time… to die…
Sociologia sem palavras 18. Cinema. Ridley Scott. Blade Runner. 1982. Excerto.
Correr sentado
A publicidade anda zoófila. “A lebre e a tartaruga” é uma fábula de Esopo (séc. VI a.C), retomada por La Fontaine, no século XVII, e pela Mercedes, no século XXI. Cada versão propõe a sua moral.
Moral de Esopo: “Quem segue devagar e com constância sempre chega à frente”.
Moral de La Fontaine: “De nada serve correr, é preciso partir a tempo”.
Moral da Mercedes: “Correr sentado descansa as pernas”.
Marca: Mercedes. Título: Fable. Agência: Merkley + partners (New York). Direcção: Robert Stromberg. USA, Janeiro 2015.
Solidariedade animal
Este anúncio da Budweiser é tão sweet, que lhe acrescento un soupçon de sel.
“Fizestes o caminho do verme ao homem, e muito, em vós, ainda é verme. Outrora fostes macacos, e ainda agora o homem é mais macaco do que qualquer macaco” (Nietzsche, Assim falou Zaratustra).
Marca: Budweiser. Título: Lost Dog. Agência: Anomaly. Direcção: Jake Scott. USA, Janeiro 2015.
A Padroeira das Cabeleireiras
Estou a preparar um artigo dedicado a Santa Maria Madalena. Não tenho tido tempo disponível para o terminar. Como penhor, deixo a imagem de uma escultura do início do século XIV: Madalena penitente, retirada no deserto, nua, com o cabelo a cobrir o corpo (Igreja Notre-Dame d’Écouis, França).
Interrogação
Qual é o motivo por que nos sentimos tão satisfeitos quando alguém tem os mesmos gostos que nós? Por exemplo, a canção Royals, da Lorde. Afinidade eletiva? Por que nos sentimos extasiados quando alguém nos fala de algo que nunca faremos? Por exemplo, descer, numa cápsula submarina, a Fossa do Mindanao (ponto oceânico nas Filipinas com 10 540 metros de profundidade). Disparidade projetiva? E se, na escuridão da Fossa do Mindanao, colocarmos os auscultadores para ouvir a canção Royals?
E que sentimos ao ver dois automóveis a fazer patinagem artística?
Este vídeo foi enviado pela Joana Ferraz Ribeiro. Uma gentileza.
Sergei Romanchikov. Tango on Ice.
A exceção
É raro, mas hoje, depois de ontem, não resisto a escrever um texto politizado.
“Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou? Se acontecer achá-la, em verdade vos digo que se regozija mais por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram” (Mateus 18:10-14).
“The world is full of rules, be the exception. Challenge all givens!”
Marca: Audi. Título: Swim. Agência: Venables Bell & Partners. Direcção: Matt Aselton. USA, Janeiro 2015.
Homens do lixo
Alguém havia de se lembrar deles. Em boa hora. Com dignidade. Imagem com valor acrescentado. A diversidade humana passa pela publicidade, num mundo comunicacional cada vez mais dedicado a marretas e clones.
Marca: Mizuno. Título: Invisible Runners. Agência: F/Nazca Saatchi & Saatchi. Direcção: Fabricio Brambatti. Brasil, Janeiro 2015.
Humor frutado
“L’homme n’est ni ange ni bête, et le malheur veut que qui veut faire l’ange fait la bête” (Blaise Pascal, Pensées).
“O homem nem é anjo nem é besta, e o infortúnio dita que quem quer fazer de anjo faz de besta”.
Humor macabro destilado nos alambiques da consciencialização rumo a uma prevenção provavelmente eficaz entre os humanos. Qual será a opinião dos vermes?
Anunciante: Canadian Cancer Society. Título: Operating room. Agência: Rethink. Direcção: Michael Schmidt. Canadá, Janeiro 2015.