Archive | Novembro 2021

Oportunismo simbólico

Se existem Big Ads, o anúncio Sustainability da Mercedes-Benz é candidato. Vento, quase só vento, visível pelos seus efeitos, sob múltiplas formas. O vento permanece um tópico forte do nosso imaginário. Existem três tendências que se afirmam na publicidade atual: a energia, a ecologia e a música “eletronizada”. Destacam-se as três no anúncio. Mas a marca principal reside no sentido de oportunidade: a sobreposição da estrela da Mercedes e da ventoinha da eólica. Ao anúncio, acrescento a interpretação da canção Come Together, dos Beatles, por Lauren O’Connell.

Marca: Mercedes-Benz. Título: Sustainability Initiatives from Mercedes-Benz. Agência: Publicis Emil, Berlin. Direção: Nicolai Fuglsig. Alemanha, março 2021.
Lauren O’Connell. Come Together. Come Together. 2021

Ouvir mais uma vez

Não me importo de ouvir uma, duas, três vezes a canção Je crois entendre encore, da ópera Les Pêcheurs de Perles (1863), de Georges Bizet. A primeira, interpretada por Allison Moyet; a segunda, por Plácido Domingo; e a terceira, por David Gilmour, acompanhado ao violoncelo por Caroline Dale.

Allison Moyet. Je Crois Entendre Encore. Voice. 2004.
Plácido Domingo. Je Crois Entendre Encore. 80 Great Arias. 2021.
David Gilmour. Je Crois Entendre Encore. Live At Pompeii 2017. DVD.

A BBC em Lamas de Mouro e Pomares (Melgaço)

Discovering Portuguese. BBC.

ENCONTREI! Encontrei, finalmente, imagens das filmagens da BBC, no início de setembro de 1987, dedicadas à pastorícia em Lamas de Mouro e à feira de gado cavalar e muar, em Pomares. Integram o terceiro episódio da série Discovering Portuguese, dedicada ao ensino da língua portuguesa. As sequências são poucas e breves.

Cumpriu-me, a pedido de Mário Alves, ser o anfitrião: selecionar e contatar previamente as pessoas, escolher as atividades, os locais e os percursos. Veio uma equipa com uma dezena de profissionais. Cada pessoa entrevistava assinava os direitos e recebia uma quantia em dinheiro. Durante as filmagens, só atrapalhei. No episódio da passagem do gado na ponte de Lamas de Mouro, coloquei-me do outro lado a distância, aparentemente, mais que prudente. Mesmo assim, as cabras e as ovelhas, ao ver-me, estacaram. Nem para a frente, nem para trás. Foi preciso recuá-las e voltar a filmar. A manhã foi suficiente para acabar o trabalho. Almoçámos no restaurante Mané, em Monção. Durante a viagem, a Roberta Fox, apresentadora no vídeo, fez-me companhia no meu carocha 1500 cor-de-laranja, que tinha o vício, para além da gasolina, de, sempre que travava, guinar para a direita. A carta de condução ainda estava fresca. E ela estava com pressa. À tarde, iam filmar a festa de Nª Senhora da Bonança, em Vila Praia de Âncora. Acredito que esta viagem foi a maior aflição da sua estadia em Portugal.

Logo no início do vídeo, aparece a passagem do gado na ponte de Lamas e a feira do gado em Pomares, e, a partir do minuto 19’, a reunião do gado proveniente de várias cortes, característica da vezeira, e a entrevista à pastora. É pouco, mas sempre é uma ponta por onde se pode pegar para tentar aceder a outras partes então gravadas.

Este documentário não vale apenas pela presença de Lamas de Mouro e Pomares. Vale também pelas imagens de outras terras do Norte de Portugal e pelos testemunhos, entre outros, de José Saramago, após a publicação da Jangada de Pedra (1986), e Mário Soares.

BBC Discovering Portuguese 03. By Alan Freeland, Terry Doyle (Editor). BBC, 1987.

Reinvenção

O que foi bem dito, mesmo que esquecido, será repetido. Não me lembro qual foi o otimista que disse isto, mas alguém foi. Esta sentença aplica-se aos anúncios seguintes: o primeiro criou, o segundo retoma. Retoma duas maneiras paradigmáticas de estar no mundo: a reta e a curva. Segue em frente ou vai dar uma curva. O clássico e o barroco.

Marca: Citroen C-Crosser. Título: The New Road. Agência: H paris. Produção: Cosa. França, 2007.
Marca: Alpine. Título: Go Straight. Agência: Havas. Diretor criativo: Stéphane Gaubert. França, Abril 2021.

Um meio entre nada e tudo

Um anúncio magnífico, original na forma e no conteúdo, promovido por uma empresa francesa de navios de cruzeiro.

Anunciante: PONANT. Título: The North Pole, The South Pole, And You. Agência: Fred & Farid Los Angeles. Direção: ACCIDENT. Estados-Unidos, Novembro 2021.

Que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada: um meio entre nada e tudo. Infinitamente afastado de compreender os extremos, o fim das coisas e o seu princípio estão para ele invencivelmente ocultos num segredo impenetrável; igualmente incapaz de ver o nada de onde foi tirado e o infinito que o absorve (Pascal, Pensamentos).

“Não sei quem me pôs no mundo nem o que é o mundo, nem mesmo o que sou. Estou numa ignorância terrível de todas as coisas. Não sei o que é o meu corpo, nem o que são os meus sentidos, nem o que é a minha alma, e até esta parte do meu ser que pensa o que eu digo, refletindo sobre tudo e sobre si própria, não se conhece melhor do que o resto. Vejo-me encerrado nestes medonhos espaços do universo e me sinto ligado a um canto da vasta extensão, sem saber porque fui colocado aqui e não em outra parte, nem porque o pouco tempo que me é dado para viver me foi conferido neste período de preferência a outro de toda a eternidade que me precedeu e de toda a que me segue.
“Só vejo o infinito em toda parte, encerrando-me como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante que não volta.
“Tudo o que sei é que devo morrer breve. O que, porém, mais ignoro é essa morte que não posso evitar.
“Assim como não sei de onde venho, também não sei para onde vou Sei, apenas, que, ao sair deste mundo, cairei para sempre no nada ou nas mãos de um Deus irritado, sem saber em qual dessas duas situações deverei ficar eternamente. Eis a minha condição, cheia de miséria, de fraqueza, de obscuridade (Blaise Pascal, Pensamentos).

Gárgulas Impúdicas (para o livro A Morte na Arte)

Estou a proceder à última revisão do livro A Morte na Arte. O texto Gárgulas Impúdicas, já corrigido, alterado e aumentado, aparece como o primeiro “capítulo” da obra. Segue, como aperitivo, já revisto. Empenhado na revisão do livro, anunciam-se poucas e piores publicações no Tendências do Imaginário.

Gárgulas Impúdicas

Observamos como elementos essenciais na mentalidade deste período [medieval] a formação e divinização de locais empíricos como palácios e catedrais góticas (com sua arquitetura repleta de representações religiosas como as torres altas, “tocando” nos céus; os vitrais, deixando penetrar a “luz de Deus” no interior da igreja; as gárgulas junto às torres, simbolizando a não-penetração do demônio a das forças maléficas dentro dos templos sagrados etc.) (Prado, Daniel Porciuncula, 2000, Uma breve introdução acerca das estruturas mentais no período medieval, Biblos, Rio Grande, 12, 115-121, p. 118).

1. Gárgula da Igreja Matriz de Caminha. Foto de Manuel Passos.

Olhar para cima e deparar-se com um rabo prestes a defecar representa uma experiência insólita mas possível. Em Portugal, existem, por exemplo, gárgulas impúdicas na Sé da Guarda, na Sé de Braga, na Matriz de Caminha, e na Igreja de Nossa S.ª da Oliveira, em Guimarães. Para orgulho local, as gárgulas de Caminha (figura 1) e Guimarães (figura 2) estão de costas viradas para Espanha:

“Em Portugal, prestam-lhes as devidas honras as já aludidas gárgulas, como o famoso “Cu da Guarda” e os seus congéneres da Sé de Braga, da Matriz de Caminha e da Matriz de Escalhão (…), do Castelo de Pinhel ou, ainda, da quimera da torre do relógio de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães (…), muitas delas ainda hoje popularmente aclamadas enquanto expressão de um certo sentimento nacional historicamente ressentido dos acometimentos dos reinos vizinhos. Voltados para Espanha (…) estes exibicionistas (termo importado da historiografia anglo-saxónica para este tipo preciso de figuras (…) seriam então uma provocação além-fronteira” (“Sem medo nem vergonha. Imagens insólitas à margem da escultura medieval”, de Joana Antunes ( Universidade de Coimbra | FLUC |CEAACP | MNMC: https://doi.org/10.14195/2184-7193_10_1).

2. Gárgula da Sé de Braga.

Vigiam-nos um pouco por toda Europa: Espanha, França, Inglaterra, Alemanha… Com o “rabo-ao-léu”, as gárgulas de Braga, Guimarães e Caminha distinguem-se das demais. Estão invertidas, a olhar para baixo, com a cabeça encostada ao contraforte e com o rabo do lado de fora, por onde, em vez de pela boca, a água escorre. Encenam, deste modo, um mundo-às-avessas. Estas três gárgulas entram “no vasto círculo dos motivos e imagens que evocam a substituição do rosto pelo traseiro, do alto pelo baixo. 0 traseiro é o “inverso do rosto”, a “rosto as avessas”” (Mikhail Bakhtin, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: O contexto de François Rabelais, 1.ª ed. 1965, São Paulo/Brasília: Hucitec/Editora Universidade de Brasília, 2008, p. 327). Além do rabo, estas gárgulas minhotas exibem os genitais, cometendo sexo oral.

“Na torre da igreja de Nossa Sr.ª da Oliveira, Guimarães (séc. XVI), podemos observar uma gárgula, posicionada à esquina (…) que representa uma figura masculina a protagonizar uma cena de felatio a si própria, numa estranha posição, de rabo virado para o exterior. E a sua representação é bem explícita, pois é bastante visível para o observador o falo erecto, que o artífice enfatizou exagerando a sua escala” (Catarina Fernandes Barreira, “Contributos para o estudo das gárgulas medievais em Portugal: desvios e transgressões discursivas?”, Lusitania Sacra. 22 (2010) 169-199, p. 190).

3. Gárgula da Igreja de Nossa S.ª da Oliveira, em Guimarães.

Não é apenas na igreja de Nossa Srª da Oliveira que nos oferece esta acrobacia sexual. Encontramo-la, também, na Matriz de Caminha, embora com um falo menos imponente. Na gárgula da Sé de Braga, a mais antiga, o falo não é visível, o que constitui uma exceção estranha nesta série de gárgulas de rabo-ao-léu, no país e no estrangeiro (figura 5). Se não se vê, ou o amputaram ou não está à vista. Não aparenta marcas de intervenção. Evidenciam-se, em contrapartida, duas bolas junto ao queixo, que mais lembram dois testículos do que outras bolas quaisquer, por exemplo, um colar de guizos. Nas gárgulas, o que parece grotesco costuma ser.

“[Na Sé de Braga], “uma gárgula peculiar (…) exibe um par de cornos, olhos muito esbugalhados e um sorriso rasgado, mas irónico e parece ter no sítio do queixo duas bolas penduradas (parecem testículos). Tem as pernas colocadas ao longo do tronco e com a ajuda das mãos, que parecem estar amarradas na zona dos pulsos, abre despudoradamente o ânus para o observador: é a primeira gárgula rabo-ao-léu do panorama nacional” ( Catarina Alexandra Martins Fernandes Barreira, Gárgulas: representações do feio e do grotesco no contexto português. Séculos XIII a XVI, Volume I, Dissertação de doutoramento em Belas Artes, Universidade Nova de Lisboa, 2010, p. 341).

4. Cachorros da Igreja de São Pedro de Cervatos. Cantábria. Espanha.

Nesta perspetiva, o pénis não aparece porque está abocanhado, indiciando, portanto, uma cena de felácio. Em suma, a igreja de N.ª Senhora da Oliveira alberga uma gárgula com um falo ostensivo, a Matriz de Caminha, uma gárgula com um falo discreto, e a Sé de Braga, uma gárgula com um falo pressuposto.

Estas gárgulas de rabo ao léu têm ar de se esborrifar para o comum dos mortais. A fazer fé na alquimia grotesca, fertilizam-nos. A cartografia simbólica do corpo humano desvaloriza o baixo (os pés), o posterior (as costas) e o interior (as entranhas). Estas gárgulas perfazem um cúmulo grotesco: baixeza traseira e incontinente.

“A orientação para baixo é própria de todas as formas da alegria popular e do realismo grotesco. Em baixo, do avesso, de trás para a frente, tal é o movimento que marca todas essas formas. Elas se precipitam todas para baixo, viram-se e colocam-se sobre a cabeça, pondo o alto no lugar do baixo, o traseiro na frente, tanto no plano do espaço real como no da metáfora” (Mikhail Bakhtin, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento, op. cit. p. 325).

5. Gárgula. Igreja de St Pierre de Dreux. França

O que significa tamanha vulgaridade? É costume precisar-se que estas provocações não entram nos mosteiros nem nas igrejas, permanecendo no seu exterior, que se destinam mais a quem vem do que a quem está dentro. Esta espécie de sobrecarga semiótica justifica três reparos. Primeiro, as gárgulas situam-se onde está a sua função básica: o escoamento das águas no topo das fachadas. Segundo, demoníacas e macabras, também se insinuam nos claustros, no coração dos mosteiros que o povo raramente visita em vida e nunca na morte. Terceiro, fantasmagorias congéneres, tais coma as danças macabras, com papas, imperadores, reis e bispos a dar a mão à morte, invadem as paredes, os capitéis e os órgãos dos templos e dos cemitérios dos séc. XV e XVI. Nos edifícios beneditinos, multiplicam-se os sátiros e as carrancas. O próprio diabo é presença habitual na casa do Senhor.

No desfile das gárgulas medievais, a desgraça sexual rivaliza com as ameaças escatológicas. Grotescas, as gárgulas incarnam o pecado, em ato ou em expiação. São exemplos a evitar, numa espécie de catequese pela imagem, que não hesita em convocar a credulidade, o medo e o horror. Idealizam fantasias muito reais nos seus efeitos. Há gárgulas com figuras humanas que representam frades ou freiras que caíram na tentação da carne, da luxúria e da gula. Algumas freiras vestem um manto, de tal modo subido ou aberto, que deixa a descoberto os peitos e as partes genitais. Umas juntam as mãos, em sinal de arrependimento, outras, tapam os seios, outras ainda comprazem-se a tocar e a destapar as partes impróprias.

No Mosteiro da Batalha, edifício português com maior número de gárgulas, destaca-se uma figura de mulher com manto, pé de cabra. os peitos destapados e uma criança na boca. Será uma freira que teve um filho de uma relação inaceitável, eventualmente, com uma autoridade eclesiástica? A mulher engole ou regurgita a criança? Por quê na boca? Os medievais eram imaginativos e exímios cuidadores de símbolos. O gigante Gargântua nasceu pela orelha da mãe, Gargamelle (ver https://tendimag.com/?s=partos+extravagantes). Nesses tempos, acreditava-se que as bruxas comiam crianças, incluindo os próprios filhos.

10. Gárgula no Mosteiro da Batalha.

As bruxas também usavam mantos e cobriam a cabeça. Na Idade Média, as bruxas moravam na cabeça das pessoas. E se a gárgula do Mosteiro da Batalha fosse uma freira bruxa. Seria um excesso de novidade híbrida. Vale, no mínimo, o prazer poético da imagem. Que pretendia a Igreja com tamanhos desmandos no seu próprio seio? Há quem garanta que houve períodos em que a Igreja apostou no combate aos pecados internos. Suspeitava-se que os membros do clero não resistiam ao mal. As gárgulas recebiam e amedrontavam o povo, mas perturbavam também o olhar do clero.

Michel Maffesoli fala em homeopatia do mal, senão da morte, em “reconhecer ‘o que cabe ao diabo’, saber dar-lhe bom uso, para que não sufoque o corpo social”. (Michel Maffesoli, A Parte do Diabo, Rio de Janeiro, Record, 2004 , 2004, p.16). Mikhail Bakhtin releva os interstícios do lado sombrio da criação, o da potência dionisíaca. Entretanto, imunes a hermenêuticas, as gárgulas defecam chuva, a fonte da vida, a seiva do húmus. O bem assimila e assume o mal, a “parte maldita”.

Canto profundo

Uma versão, com voz profunda, ventríloqua, da canção If I Had a Heart, de Fever Ray, pelo irlandês Colm R. McGuinness. Estranha! Lembra o heavy metal mongol (ver https://tendimag.com/2020/04/10/heavy-metal-mongol/). Acrescento a canção original.

Fernando e Albertino

If I Had A Heart (Norse Version) – Fever Ray/Vikings. Cover by Colm R. McGuinness. 2021.
Vikings Theme song – If I had a heart by Fever Ray. 2009.

Gárgula exibicionista

Um comentário, bem-vindo, no Tendências do Imaginário alerta para uma falha no artigo Gárgulas impúdicas (https://tendimag.com/2014/08/10/gargulas-impudicas/): nada menos do que a gárgula mais que impúdica da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães. No artigo “Gárgulas em Guimarães”, no blogue PROSIMETRON (http://prosimetron.blogspot.com/2012/05/gargulas-em-guimaraes.html), figura a respetiva fotografia, acompanhada pelo seguinte texto:

Esta gárgula da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira tem uma história. Mas a imagem vista do solo não se pode mostrar dado que as gárgulas só servem para escoar água… o resto é paisagem.

Gárgula. Igrej_ de Nossa Senhora da Oliveira. Guimarães.

O artigo Gárgulas Impúdicas (https://tendimag.com/2014/08/10/gargulas-impudicas/) contempla apenas uma pequena parte das gárgulas existentes. Demonstra-o o artigo “Sem medo nem vergonha. Imagens insólitas à margem da escultura medieval”, de Joana Antunes ( Universidade de Coimbra | FLUC |CEAACP | MNMC: https://doi.org/10.14195/2184-7193_10_1). Acrescentando uma magnífica fotografia da gárgula da Colegiada, escreve:

“Em Portugal, prestam-lhes as devidas honras as já aludidas gárgulas, como o famoso “Cu da Guarda” e os seus congéneres da Sé de Braga, da Matriz de Caminha e da Matriz de Escalhão (…), do Castelo de Pinhel ou, ainda, da quimera da torre do relógio de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães (…), muitas delas ainda hoje popularmente aclamadas enquanto expressão de um certo sentimento nacional historicamente ressentido dos acometimentos dos reinos vizinhos. Voltados para Espanha – de onde não virão, afinal, nem bons ventos nem bons casamentos, mas de onde terá vindo uma boa parte da mão-de-obra que as criou – estes exibicionistas (termo importado da historiografia anglo-saxónica para este tipo preciso de figuras, tal como clarificado por Linquist, 2012: 325) seriam então uma provocação além-fronteira”.

Quimera exibicionista. Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães. Fonte: Joana Antunes, Sem medo nem vergonha. Imagens insólitas à margem da escultura medieval (https://doi.org/10.14195/2184-7193_10_1).

O que foi descoberto deu, a seu tempo, prazer, o que, entretanto, se descobrir não dará, certamente, menos.

Ex

Ex-filha, ex-estudante da Sorbonne, ex-supermodelo, ex-primeira-dama…

Carla Bruni
Carla Bruni. Quelqu’un m’a dit. Quelqu’un m’a dit. 2002.
Carla Bruni. Tout le monde. Quelqu’un m’a dit. 2002.
Carla Bruni. Ypur lady. Carla Bruni. 2021.

Memórias

Bach. A paixão segundo São João.

Quarenta e cinco anos depois, voltei a ver o filme Mirror (O Espelho) de Andrei Tarkovski, estreado em 1975. Vi-o, então, em Paris, na companhia de um amigo, o jesuíta colombiano Marino Troncoso, que estava a fazer a tese de doutoramento com Claude Bremond sobre o escritor Mejía Vallejo. Na REDIB, Red Iberoamericana de innovación y Conocimiento Científico, pode ler-se este apontamento:

Enseñar literatura para Marino Troncoso fue siempre un compromiso con la vida, con el arte y con la expresión de lo “radicalmente humano”; compromiso de enseñar y/o afirmar una mirada sobre el hombre, sobre el mundo, sobre nosotros mismos, sobre nuestras oscuridades y sobre nuestras regiones luminosas (https://redib.org/Record/oai_articulo721388?lng=pt).

Faleceu, entretanto. Um dos principais auditórios da Pontificia Universidad Javeriana, em Bogotá, tem o seu nome. O filme Mirror termina com o coro de abertura Herr, unser Herrscher (Senhor, Senhor nosso), de A Paixão Segundo São João, de Bach. Segue a mesma interpretação do filme, dirigida por Karl Richter. Em memória do Marino Troncoso.

Coro de abertura: Herr, unser Herrscher (Senhor, Senhor nosso), de A Paixão Segundo São João, de Bach (1724). Direção de Karl Richter, com a Orquestra Bach de Munique, em 1971.