A BBC em Lamas de Mouro e Pomares (Melgaço)

ENCONTREI! Encontrei, finalmente, imagens das filmagens da BBC, no início de setembro de 1987, dedicadas à pastorícia em Lamas de Mouro e à feira de gado cavalar e muar, em Pomares. Integram o terceiro episódio da série Discovering Portuguese, dedicada ao ensino da língua portuguesa. As sequências são poucas e breves.
Cumpriu-me, a pedido de Mário Alves, ser o anfitrião: selecionar e contatar previamente as pessoas, escolher as atividades, os locais e os percursos. Veio uma equipa com uma dezena de profissionais. Cada pessoa entrevistava assinava os direitos e recebia uma quantia em dinheiro. Durante as filmagens, só atrapalhei. No episódio da passagem do gado na ponte de Lamas de Mouro, coloquei-me do outro lado a distância, aparentemente, mais que prudente. Mesmo assim, as cabras e as ovelhas, ao ver-me, estacaram. Nem para a frente, nem para trás. Foi preciso recuá-las e voltar a filmar. A manhã foi suficiente para acabar o trabalho. Almoçámos no restaurante Mané, em Monção. Durante a viagem, a Roberta Fox, apresentadora no vídeo, fez-me companhia no meu carocha 1500 cor-de-laranja, que tinha o vício, para além da gasolina, de, sempre que travava, guinar para a direita. A carta de condução ainda estava fresca. E ela estava com pressa. À tarde, iam filmar a festa de Nª Senhora da Bonança, em Vila Praia de Âncora. Acredito que esta viagem foi a maior aflição da sua estadia em Portugal.
Logo no início do vídeo, aparece a passagem do gado na ponte de Lamas e a feira do gado em Pomares, e, a partir do minuto 19’, a reunião do gado proveniente de várias cortes, característica da vezeira, e a entrevista à pastora. É pouco, mas sempre é uma ponta por onde se pode pegar para tentar aceder a outras partes então gravadas.
Este documentário não vale apenas pela presença de Lamas de Mouro e Pomares. Vale também pelas imagens de outras terras do Norte de Portugal e pelos testemunhos, entre outros, de José Saramago, após a publicação da Jangada de Pedra (1986), e Mário Soares.
Caro Albertino
Ainda bem que conseguiste desencantar este documento audiovisual da BBC. Excelentes sequências consagradas às práticas na pastorícia “comunitária” em terras alto-minhotas e alto-transmontanas. E as duas entrevistas que as acompanham, com José Saramago e com Mário Soares, constituem também elas documentos excecionais sobre as visões relativamente convergentes das realidades rurais do norte expostas por essas duas eminentes personalidades do país “modernizador”, cada qual partindo de projectos políticos claramente rivais se não mesmo antagónicos. Mesmo assim vejo ainda espaço para visões mais entranhada dessas realidades ancestrais e imemoriais, por exemplo aquelas para as quais o nome de Miguel Torga se impõe de si próprio, como uma evidência. Aliás não faltam no TI textos e excertos das obras do poeta que mostram isso mesmo. Boa continuação;
Abraço,
FM
Caro Fernando! Como sempre, certeiro. O Miguel Torga, a par do Padre António Vieira, é o meu Pascal português. Andou por terras de Melgaço e Castro Laboreiro. Escreve-o no seu Portugal. Andava enfastiado com tanto verde no Minho “bovino”. Só começou a respirar de alívio a caminho de Castro Laboreiro, caprino, com os olhos naqueles rochedos que não param de chorar. Um grande abraço.