Bailado de Silhuetas
Uma amiga brasileira enviou-me este vídeo. Não resisto a publicá-lo. Norman McLaren (1914-1917) foi um cineasta de animação particularmente criativo. Ganhou vários prémios, entre os quais o óscar pela curta-metragem Neighbours (1952). Nasceu na Escócia, mas o essencial da sua produção ocorreu no âmbito do National Film Board do Canadá. Pas de Deux (1968) é um vídeo animado por uma delicadeza sublime. Foi agraciado com vários prémios e nomeado para óscar em 1969.
Norman McLaren. Pas de Deux. 1968
Entusiasmo desportivo
Carnavalesco e contagiante, este anúncio da JWT London. Um corpo colectivo cadenciado entrega-se à cunhagem de um medalhão da HSBC comemorativo do Hong Kong’ Seven, um dos momentos desportivos mais importantes da cidade. Para mais informação, ver http://jwt.co.uk/news/hsbc-serious-play-the-mint.html.
Marca: HSBC. Título: Serious Play – The Mint. Agência: JWT London. Direção: Ash Bolland. Reino Unido, Março 2013.
Fotografar o movimento do corpo
A cronografia é um processo de visualização do movimento através de uma sequência de imagens gravadas, com alguma velocidade e a intervalos iguais, numa única superfície fotográfica, proporcionando uma ilusão de tempo e movimento.
O francês Etienne-Jules Marey (1830-1904) e o inglês Eadweard Muybridge (1830-1904) foram pioneiros da cronografia e precursores do cinema.

04. Eadweard Muybridge. Cockatoo in Flight. 1877

05. Marey. Fusil Fotográfico.
Etienne-Jules Marey inventou o “fuzil fotográfico”, um instrumento composto por um disco com orifícios capaz de captar uma imagem a cada passagem, a uma velocidade de doze frames por segundo, todos registados numa única imagem.
A carreira fotográfica de Eadweard Muybridge ocorreu predominantemente nos Estados Unidos. Utilizou uma técnica diferente do fuzil de Marey. Recorria a uma multiplicidade de câmaras dispostas de modo a captar diversas fases do movimento.
Muybridge ficou célebre por ter resolvido a controvérsia em torno da possibilidade de um cavalo a galope pousar ou não, ao mesmo tempo, as quatro patas no chão. Em 1878, fotografou, frame a frame, o galope de um cavalo utilizando 24 câmaras.

10. Corrida de cavalo animada a partir de Muybridge.
Em 1874, Muybridge matou o amante da esposa com um tiro de espingarda, tendo sido absolvido. Philip Glass dedica a Muybridge a música The Photographer – A Gentleman’s Honor (cf. http://www.philipglass.com/music/recordings/photographer.php).
Philip Glass. The Photographer. Act I – A Gentleman’s Honor (Vocal). 1983.

11. Eadweard Muybridge. Mulher descendo as escadas. 1887.

12. Mulher descendo as escadas. Animação a partir de Eadweard Muybridge. Pode ver também em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eadweard_Muybridge_1.gif?uselang=pt
Para além da fotografia e do cinema, Marey e Muybridge tiveram reconhecida influência na arte. Atente-se, por exemplo, no quadro Nu descendant un escalier, de Marcel Duchamp (1911) ou nos quadros Dynamism of a Dog on a Leash (1912) e Ragazza che corre sul balcone (1912), de Giacomo Balla.

13. Marcel Duchamp, Nu Descendant un Escalier. Première version. 1911

14. Giacomo Balla. Dynamism of a Dog on a Leash. 1912

15. Giacomo Balla. Ragazza che corre sul balcone. 1912
Galeria de imagens:
- 02. Eadweard Muybridge. Study of human’s movements. 1870 ca.
- 03. Étienne-Jules Marey, Bird Flight, Pelican, 1886
- 04. Eadweard Muybridge. Cockatoo in Flight. 1877
- 05. Marey. Fusil Fotográfico.
- 06. Étienne-Jules Marey. Homme qui marche. 1890 a 1891.
- 07. Marey. Running. 1882
- 08. Muybridge. Pole vaulter. 1887
- 09. Eadweard Muybridge. The Horse in Motion. 1878
- 13. Marcel duchamp, Nu Descendant un Escalier. Première version. 1911
- 14. Giacomo Balla. Dynamism of a Dog on a Leash. 1912
- 15. Giacomo Balla. Ragazza che corre sul balcone. 1912
Discriminação de género
Transferir um atributo típico de uma figura para outra de que é atípico representa uma solução clássica de humor. Por exemplo, o cabelo da mulher para o homem. Mas, para além da confusão de género, estamos perante um anúncio a um shampoo “masculino” que parodia e caricatura os anúncios a shampoos “femininos”. Para salvaguarda da masculinidade…
Marca: Dove. Título: Slow. Agência: Ogilvy. Direção: Carlão Busato. Brasil, Março 2013.
O Sonho e a Multiplicidade
O Sonho
“Se sonhássemos todas as noites a mesma coisa, ela nos afectaria tanto quanto os objectos que vemos todos os dias; e, se um artesão estivesse certo de sonhar, todas as noites, durante doze horas, que é rei, creio que ele seria quase tão feliz quanto um rei que sonhasse, todas as noites, durante doze horas, que era um artesão. (…) a vida é um sonho um pouco menos inconstante” (Blaise Pascal, Pensamentos).
A Multiplicidade (sugestão de Álvaro Domingues)
“Alguém poderia objetar que quanto mais a obra tende para a multiplicidade dos possíveis mais se distancia daquele unicum que é o self de quem escreve, a sinceridade interior, a descoberta de sua própria verdade. Ao contrário, respondo, quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode sercontinuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. Mas a resposta que mais me agradaria dar é outra: quem nos dera fosse possível uma obra concebida fora do self, uma obra que nos permitisse sair da perspectiva limitada do eu individual, não só para entrar em outros eus semelhantes ao nosso, mas para fazer falar o que não tem palavra, o pássaro que pousa no beiral, a árvore na primavera e a árvore no outono, a pedra, o cimento, o plástico” (Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milénio).
O Sonho e a Multiplicidade
É um privilégio aprender com os alunos. Este vídeo, Chorus, publicado no grupo de facebook do curso de mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, convoca o sonho e a multiplicidade: “A chorus of women are borne from the movements of a single dancer in this dreamlike pas de trente-deux. In the tradition of Marey and McLaren, Michael Langan and Terah Maher combine music, dance, and image multiplication to create a film that enhances our perception of motion. ‘Choros’ delivers a visually mesmerizing narrative in three movements, following a dancer’s (Maher) experience of discovery, euphoria, and rebirth through this surreal phenomenon. Featuring music from Steve Reich’s ‘Music for 18 Musicians’” (texto de presentação do vídeo).
Chorus, dirigido por Michael Langan e Terah Maher, com música de Steve Reich. 2011, 13 minutos.
Solidariedade desfocada
Portugal produz excelente publicidade de sensibilização. Este print para a AMI, da Y&R, é um bom exemplo. O texto constitui uma chamada de atenção notável.
Anunciante: AMI. Título: Look at me. Agência: Y&R Lisbon. Portugal, 2011.
Erros de bom aluno

Rafael Bordalo Pinheiro. Depois das eleições (O António Maria, 1880)
Portugal está a errar. De um modo sofrido, sustentado, consistente e autodestrutivo. Errar assim não é pecado, nem fado. É ser bom aluno. À europeia. Portugal merece a ajuda de quem o ajuda a errar. Somos um dos países mais envelhecidos da Europa, mas somos jovens. Nos quatro minutos do vídeo A Beleza da Simplicidade, promovido pelo Turismo de Portugal (2011; ver, no mínimo, em 720p), não aparece uma única pessoa de idade. Só jovens. É impressionante! Somos jovens bons alunos. Ainda temos muito para errar…
E pronto! Com 86 palavras e 428 caracteres, quase se escreve uma poesia.
Anunciante: Turismo de Portugal. Produção: Krypton. Direção: Rogério Boldt. Portugal, Maio 2011.
A Institucionalização da Felicidade
A Felicidade, eu conheci-a, era uma senhora de idade, de boas famílias, alta e magra, que morava junto à igreja da minha aldeia. Chamá-la pelo nome era um regalo. Hoje, é o Dia Internacional da Felicidade. É-se feliz? Para sempre, nos contos de fadas. Está-se feliz? Muitas vezes. Há quem meça a felicidade dos povos… Mais complicado do que abraçar as nuvens. Mas há quem acredite nestes ícaros da objectividade forçada… E quem devore os números e os regurgite. Hoje é o dia internacional da felicidade. Quem diria! Seguem:
– uma entrevista ao Jornal de Notícias sobre a “felicidade dos portugueses”, publicada hoje (para aceder ao artigo, carregar na imagem ou no seguinte endereço: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3118437&page=-1).
– um vídeo musical dos Fleetwood Mac (Don’t Stop. Rumours, 1977), não para proporcionar felicidade, mas um pouco de alegria. A resolução do vídeo deixa a desejar, mas a qualidade do conteúdo compensa.
O ecrã não é uma janela
Este anúncio da marca Brian Atwood abusa de um efeito: exibir até aos limites do oculto, de um oculto imaginável. Apetece aproximar o olhar do ecrã para vislumbrar um pouco mais, para alargar o campo de visão. Mas não! O ecrã não é uma janela. E a Eva Herzagova está a passar do outro lado. Quando muito uma janela de Alberti uma vez terminado o quadro. O ecrã funciona como um quadro, como um quadro animado. Tem limites rígidos. Há modalidades de imersão que escapam a interatividade ecrânica.
Amanhã é o dia internacional da felicidade. Já podem começar a treinar!
Marca: Brian Atwood. Título: Brian Atwood Spring 2013. Agência: Hsi advertising agency. Direção: Mert and Marcus. Reino Unido, Março 2013.
O outro lado do muro
A publicidade é ávida por temas sociais marcantes e simbólicos. É o caso do derrube do muro como promessa de libertação. Neste anúncio, La Chute du Mur, os demolidores são citadinos bem aparentados e a libertação, um carro. Sinais dos tempos. A música, Sounds of Silence, está bem escolhida e bem aproveitada.
Marca: Renault. Título: La chute du Mur. Agência: Publicis Conseil. Direção: Ne-o. França, Março 2013.