Uma banda no telhado
A genialidade e a extravagância andam muitas vezes de mãos dadas. Os Beatles deram, no dia 30 de Janeiro de 1969, um concerto no telhado do edifício Apple Headquarters, no 3 Saville Road, em Londres. O engenheiro de som foi Alan Parsons, ligado aos Pink Floyd e fundador dos Alan Parsons Project. O efeito foi, no mínimo, perturbador, com a Polícia Metropolitana a intervir. Consta que foi o último concerto público dos Beatles. Seleccionei a canção Don’t Let Me Down (1969).
Nem com excesso de recursos é fácil ser original. Menos de dois meses antes, no dia 7 de Dezembro de 1968, a banda norte-americana de rock progressivo Jefferson Airplane deu um concerto num telhado em Nova Iorque. Foi filmado por Jean-Luc Godard. O efeito? Tudo menos discreto. Seleccionei a canção The House at Pooneil Corners (1968).
The Beatles. Don’t Let Me Down. Ao vivo no telhado do edifício Apple Headquarter, nº 3 Saville Road. Londres, 30 de Janeiro de 1969.
Jefferson Airplane. The House at Pooneil Corners. Ao vivo num telhado em Nova Iorque, 7 de Dezembro de 1968.
Nunca é tarde
A Science World, de Vancôver, no Canadá, publicou, no âmbito de uma campanha em curso, intitulada Now You Know, o anúncio Coffin. A ideia é facultar factos puros e duros. Um anúncio de consciencialização? Pelo sim, pelo não, vou registar a informação e programá-la para o momento oportuno.
Anunciante: Science World at Telus World of Science. Título: Coffin. Agência: Rethink. Direcção: Rob Tarry. Canadá, 2016.
Desafogo
Quando perto não basta e o desejo se enclausura, fantasia e sofrimento. Mas não desespere, se é alérgico à lactose, liberte-se, tome Lactosil, como aconselha o anúncio Vitrine, que retoma a música Unchained Melody do filme Ghost, Do Outro Lado da Vida (1990), na versão dos Righteous Brothers.
Marca: Lactosil. Título: Vitrine. Agência: R.E.F. Comunicação. Direcção: Ale Lucas. Brasil, Março 2016.
Righteous Brothers. Unchained Melody. Live, 1965.
À prova de fantasmas
Tenho andado à volta da figura dos fantasmas. Ainda estou nos primeiros passos. Encontram-se coisas engraçadas, como, por exemplo, este anúncio indiano da Hathi Cement. Um espírito deprimido entusiasma-se e morre pela segunda vez. Pelo meio, temos direito a uma paródia do muito parodiado Odyssey, da Levi’s (ver https://tendimag.com/2011/09/16/libertacao/).
Marca: Hathi Cement. Título: Run. Agênccia: Ogilvy & Mather Mumbai. Direcção: Prasoon Pandey. Índia, 2007.
Era uma vez
O blogue Tendências do Imaginário pode dar a impressão de só atender à despedida dos seres humanos. Mas não, também nascem. E vivem. O filme L’Odyssée de La Vie, de Nils Tavernier, retrata a gestação de um ser humano. As imagens não foram captadas por câmaras, mas construídas, com o contributo da Mac Guff Paris. Segue um excerto do filme.
L’Odyssée de la vie. Realização de Nils Tavernier. Pós-produção: Mac Guff Paris. Transmitido pelo Canal France 2, em Janeiro de 2006. Duração: 1h 23mn. Excerto.
De Profundis
Ir ao fundo, ao abismo, ou ir às alturas, às estrelas? A contracorrente, há quem escave fundo as aparências, os problemas, as coisas… A revista Veja não escusa aprofundar, embora saiba que quanto mais fundo, mais escuro e mais sórdido. Como os peixes, quanto mais tenebrosos, mais feios. The deeper you go, the uglier it gets.
Marca: Veja. Título: Fishes. Agência: ALMAP BBDO Brasil. Brasil, Maio 2016.
Michel Richar Delalande (1657-1726). De Profundis. Grand Motet, S23.
E depois do adeus
Não se brinca com o fogo, com Deus, com os sentimentos, com a sombra… E com a morte? Num anúncio recente, uma viúva bebe chá com as cinzas do marido defunto (O cão que sabia demais). Neste anúncio, um cadáver é alvo de cosmética inconveniente. Sempre se brincou com a morte, realidade demasiado séria. Em tempos, não se brincou tanto quanto parece: as imagens medievais que, agora, consideramos engraçadas, como as danças da morte, não tinham, então, graça nenhuma. A relação actual com a morte é ambígua. Oscila entre o limpo e o sujo: a morte asséptica convive com a morte poluída. Por exemplo, a cremação de um morto e a exibição de cadáveres nos maços de cigarros.
Marca: National Jazz Awards. Título: Death becomes you. Agência: DDB Toronto. Direcção: Josefina Nadurata / James Davis / Jen Walker. Canadá, 2005.
O cão que sabia demais
Som e imagem excelentes num anúncio bizarro e enigmático. O que contém o pote? O que sabe o cão? Quem compra Special Dog?
Marca: Special Dog. Título: Widow. Agência: DM9DDB. Direcção: Lívia Gama. Brasil, Março 2016.
Anglicismos
Ainda criança, a electricidade vinha de Espanha. O peixe fresco vinha de Vigo. As calças de ganga, o pão (cacetes), o bom chocolate e a Coca-cola, proibida em Portugal, também vinham de Espanha. A televisão era a espanhola. Para Espanha, contrabandeava-se, em batelas (pequenas embarcações do rio Minho): café, azeite, sabão, ovos, cobre, prata, ouro… Nós, os transfronteiriços, somos meio espanhóis. Mas nem os espanhóis diziam calças, nem nós, pantalones. Um dia, seriam jeans.
O anúncio Lengua madre solo hay una, da Real Academia de la Lengua e da Academia de La Publicidad Española, é duplamente feliz: porque reage à epidemia dos anglicismos, designadamente na publicidade, e porque não adopta a nossa política da língua.
Anunciante: Real Academia de la Lengua e Academia de la Publicidad Española. Agência: Grey Spain. Espanha, Maio 2016.