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Português integra projeto de investigação com financiamento de 10 milhões de euros

O projeto de investigação Better work, better workplaces (Melhor trabalho, melhores postos de trabalho) acaba de ser contemplado com um financiamento de 10 milhões de euros pela Comissão Europeia. Dos quatro membros da equipa de investigação, faz parte João Fernando Ferreira Gonçalves (Braga,1991). Os demais membros da equipa são Jason PridmoreJovana Karanovic e Claartje ter Hoeven, da Universidade Erasmus de Roterdão.

Segue um excerto da notícia (Better work, better workplaces: 10 million euros awarded to SEISMEC project by European Commission) divulgada pela própria Universidade:

The interdisciplinary SEISMEC project, led by Erasmus University Rotterdam in collaboration with a multinational consortium of research, industry and civil society partners, has been awarded 10 million euros by the European Commission within the Horizon Europe Programme. SEISMEC aims to shape a future of work that is both productive and enriching, with a focus on creating sustainable work environments that prioritize employee well-being and fulfilment. This exclusive funding under this call highlights the four-year project’s potential to transform workplaces and empower workers in all major European industries.

In this project, EUR researchers Jason Pridmore (ESHCC), Joao Fernando Ferreira Goncalves (ESHCC), Jovana Karanovic (RSM) and Claartje ter Hoeven (ESSB) combine their diverse range of expertise across disciplines to provide valuable insights into empowering workers in today’s technological landscape. By drawing on their interdisciplinary knowledge, the university offers essential perspectives on how to effectively empower workers, thereby contributing to the creation of a sustainable future through the redefinition of workplace practices (Erasmus University Rotterdam, Better work, better workplaces: 10 million euros awarded to SEISMEC project by European Commission; o conjunto da notícia está acessível no seguinte link: https://www.eur.nl/en/news/better-work-better-workplaces-10-million-euros-awarded-seismec-project-european-commission?fbclid=IwAR2Ley-mCSBA7ho7IBHO5XLZGbt0CkU0idrSN_dH5i5ENmujA30K53tDaqQ).

Do projeto SEISMEC – Universidade Erasmus de Roterdão

O verão de 2023 tem-se revelado particularmente compensador para João Fernando Ferreira Gonçalves. Foi também um dos doze “investigadores talentosos e criativos” da Universidade Erasmus de Roterdão a ser agraciado com uma bolsa pessoal Veni (até 280 000 euros) da NWO (“The Dutch Research Council (…) under the responsibility of the Ministry of Education, Culture and Science”). O título do projeto é: Making AI less artificial.

Artificial intelligence has brought exciting innovations to everyday life, but also risks such as discrimination and errors in high stakes decisions such as awarding child benefits or driving a car. This risk often happens because the people who develop these algorithms can make them work very well on the data they have, but not in unpredictable real-world situations that depend on complex human interactions. To solve this problem, this project uses knowledge from the social sciences to improve data and make AI algorithms better at handling unforeseen situations when interacting with humans (https://www.eur.nl/en/news/twelve-veni-grants-rotterdam-researchers?fbclid=IwAR3yJw-_NiVgBXih5Va3-b3l6-yKvJb4nc7j00q-yZrnVMXn_oLeO7_lL6g).

O João pertence, por acaso, à família. Mas, embora os seus estudos se inscrevam no âmbito da Sociologia e das Ciências da Comunicação, não sai ao pai. É mais pragmático, metódico, compenetrado e ousado. Pelos vistos, não lhe faltam instituições para financiar os seus projetos. Em contrapartida, o pai teve, muitas vezes, que ser ele próprio a financiar as instituições envolvidas. A distinção desenha-se, desde logo, no início da carreira: o pai regressou do estrangeiro, da Sorbonne (França), para trabalhar na Universidade do Minho, em Braga; o filho saiu de Braga, da Universidade do Minho, para trabalhar no estrangeiro, primeiro na Universidade de Antuérpia (Bélgica), em seguida na Universidade Erasmus de Roterdão (Países Baixos).

Desde o Pico, Vila Verde, 19 de agosto de 2023

Deriva

Está a acontecer:

Vestir os nus em vésperas do carnaval

No próximo dia 18, sábado, às 17 horas, apresento a conferência “Vestir os Nus. Censura e Destruição da Arte”, no auditório do museu arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga. Seguir-se-á, às 18 horas, noutra sala, com direito a bebida quente, uma mesa redonda sobre a censura na atualidade, com participação de vários amigos. Junto, como convite, o cartaz. Vai ser um encontro agradável e, estou em crer, compensador. Espero por si!

O Olhar de Deus na Cruz. O Cristo Estrábico

Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecesseis (São Paulo, 2 Coríntios 8:9).

Senhor Santo Cristo dos Milagres. Ponta Delgada. Ilha de São Miguel. Açores. Séc. XVI

Consegui extrair a lição sobre o “Cristo estrábico” (de 29 de novembro) com o som mais nítido. Ao vídeo no YouTube, acrescento a respetiva apresentação (Powerpoint). Fica assim concluído o episódio, grato, da homenagem. Outras atividades esperam: um capítulo, com o Américo Rodrigues, para um livro sobre Castro Laboreiro; a criação, que se arrasta, de um blogue coletivo; e a preparação da aula “Vestir os nus: a destruição e a censura da arte”, prevista para o dia 18 de fevereiro.

Albertino Gonçalves. O olhar de Deus na cruz: O Cristo estrábico. Homenagem, 12.11.2022. Lição (visualizar em 720p)

Para aceder à apresentação em powerpoint, descarregar a partir do seguinte link:

Uma intervenção memorável

Com Jean-Claude Beaudoin, Idália e Odete no dia do naufrágio. Fotógrafo: Jean-Martin Rabot

A estação das homenagens acabou. Terça, dia 29 de novembro, foi uma festa. No ambiente acolhedor do museu D. Diogo de Sousa, foram sábios e generosos os testemunhos dos colegas e amigos, inspiradas e alegres as danças do Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço, virtuosa e tocante a guitarra do Francisco Berény Domingues, franco e caloroso o público, cuidado e oportuno o lançamento do livro Sociologia do Imaginário e reparador o alvarinho de honra. Ritual, a “lição” lembrou vagamente as antigas aulas.

No dia 8 de novembro, por ocasião do 46º aniversário, o Instituto de Ciências Sociais entendeu dedicar-me um momento de “despedida”. Coube a apresentação, inspirada e eloquente, ao colega e amigo Jean-Martin Rabot. Excessivo no elogio, introduziu um momento inesquecível temperado por um humor inconfundível e desconcertante. Somos os membros mais antigos do Departamento de Sociologia. Um par de decanos que partilhou experiências inenarráveis.

Jovens, aproveitamos as férias de Natal para nos deslocar, eu a Paris e ele a Estrasburgo, no carro, um “dois cavalos”, do Jean-Claude Beaudoin, então leitor de francês na Universidade do Minho. Nevava. Nevou, aliás, toda a viagem. Ainda em Trás-os-Montes, uma roda danificou-se num buraco. Tivemos que ir concertá-la a Montalegre. Retomada a estrada, o limpa para brisas regulava-se pelo acelerador: ora mais depressa, ora mais devagar, consoante a velocidade. A neve só desapareceu, com o piso salgado, quando entrámos em França. E assim peregrinámos gelados durante um dia e uma noite. Chegados a Paris, o Jean-Claude Beaudouin perguntou como seria o reencontro para o regresso. Ambos respondemos: “Se não te importas, vamos de comboio”.

Outra vez, estava a jogar matrecos na esplanada do café da minha freguesia, Prado, em Melgaço. Sou um aficionado. No comércio da família, tínhamos matrecos. Em criança, colocavam-me em cima de uma caixa de madeira para jogar. Eis que, ao longe, surgem duas pessoas molhadas da cabeça aos pés, com colete salva-vidas e um remo na mão. Aproximam-se… O Jean-Martin Rabot e o Jean-Claude Beaudoin! Tinham ido estrear o caiaque do Jean-Claude no rio Minho que desastradamente perderam num dos troços que são, agora, atração do rafting. “Malucos, diz um velho, eles não sabiam que o rio tem correntes e remoinhos perigosíssimos!”. Pelos vistos, não. Tiveram a coragem dos ignorantes e a sorte dos inocentes.

Segue, com cumplicidade e gratidão, a intervenção do Jean-Martin Rabot.

Jean Martin Rabot. Apresentação de Albertino Gonçalves. Instituto de Ciências Sociais, 8 de novembro de 2022

(re)encontro

O Departamento de Sociologia da Universidade do Minho, a Câmara de Melgaço e o Centro de Ciências em Comunicação entenderam por bem dedicar-me um momento de convívio na próxima terça, dia 29 de novembro, às 17:30, no museu D. Diogo de Sousa, em Braga. Suspeito que será mais uma festa do que uma cerimónia, menos fim de percurso e mais uma nova fase: “o primeiro dia do resto da vida”. Estou, em boa hora, aposentado, mas não arrumado. Intervêm Carlos Veiga, Manoel Batista, Madalena Oliveira e, em particular, Moisés de Lemos Martins, Álvaro Domingues, Rita Ribeiro, o Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço e Francisco Berény Domingues. Alice Matos e António Joaquim Costa aceitaram moderar. Pelo meio, ensaiarei corresponder com um pequeno arremedo de aula para enganar saudades. Após a apresentação do livro Sociologia Indisciplinada, será servido um alvarinho de honra, com roscas de Melgaço.

Venha! Se é antigo aluno, traga, propiciando-se, um docinho para saborear o reencontro: um charuto, de Arcos de Valdevez; uma queijada, de Barcelos; uma sameirinha ou uma tíbia, de Braga; um miguelito, de Cabeceiras de Basto; um caminhense ou cerveirense, de Caminha ou Cerveira; uma passarinha ou um sardão, de Guimarães; uma fatia de bucho doce, de Melgaço; um biscoito de milho, de Paredes de Coura; um magalhães, de Ponte da Barca; uma castanhola, de Ponte de Lima; uma rocha do pilar, da Póvoa de Lanhoso; um beneditino, de Terras do Bouro; um sidónio ou uma bola de Berlim, de Viana do Castelo; uma broinha de amor, de Vila Verde… Com alvarinho, tudo cai bem!

Pesadelo

Cornelis Saftleven. Tentação de Santo Antão. 1629

“Instituição com números, sem pensamento, com o quotidiano académico a pulsar ao ritmo da máquina, numa desenfreada mobilização tecnológica para o mercado, para a estatística e para o ranking, a Universidade faz, além disso, a entronização dos procedimentos corretivos e ortopédicos, certificando no ensino e na investigação meras rotinas e conformidades, eficiências e utilidades” (Moisés de Lemos Martins, ” Da Universidade de Sokal, Crato e Passos Coelho, à Universidade da ciência como aventura do pensamento”, Correio do Minho (março 2018): https://correiodominho.pt/cronicas/da-universidade-de-sokal-crato-e-passos-coelho-universidade-da-cincia-como-aventura-do-pensamento/9506; consultado em 16/11/2022).

Acordei, sobressaltado e trémulo, de um pesadelo apocalíptico. Tomada por uma vertigem autofágica, a Universidade estava em vias de perder três dos pilares que a caracterizaram durante séculos: a sabedoria, o humanismo e o ensino. A sabedoria para o conhecimento a metro; o humanismo para as novas regras do mercado dos bens científicos; o ensino para a concorrência de outras fontes de aprendizagem tais como as empresas e as plataformas do tipo YouTube. Ainda bem que não sou faraó do Egipto. Tratou-se apenas de um mero sonho ruim, que, no entanto, teve a má sina de me deixar perturbado.

An American Prayer / The End. Jim Morrison. An American Prayer. Music By The Doors. 1978

Notável e notório. A formiga e a cigarra, o galo e a galinha

Moledo, domingo. Proporciona-se um mergulho no adubo humano.

Notável é aquilo que é “digno de nota”, “merecedor de consideração e apreço”; notório, o que é notado, “conhecido por um grande número de pessoas”. Pode-se ser notável sem ser notório; e notório, mas não notável. Numa sociedade da imagem, da rede e do artifício, prevalece o notório. Chegados a esta encruzilhada, apetece reequacionar a fábula de La Fontaine: hoje, quem morre de fome não é a cigarra, notória, mas a, a formiga, notável. A cigarra polariza o reconhecimento. Sendo esta a verdade mundana, importa refundar as pragmáticas, as éticas e as teodiceias.

A propósito da cigarra e da formiga, acode-me a relação entre o galo e a galinha, cantada, com inspiração e humor, por Sérgio Godinho.

Sérgio Godinho. O Galo é o Dono dos Ovos. Pano-Cru. 1978. Ao vivo no Centro Cultural de Belém.

Publiquei, em 2011, uma fábula no ComUm, boletim da Universidade do Minho, com o título “Fábula comUM” (contemplada no Tendências do Imaginário com o título “Fábula das formigas sabichonas”). A Universidade tinha a virtude da homeopatia: sabia digerir o “mal”, a adversidade, expondo-se à crítica mordaz e sarcástica. É certo que as farpas se afogavam na gordura académica. Destilada e delirante, a escrita enferma de um vício que não me larga: discorrer sem explicitar o assunto. O leitor que adivinhe e o resto reverbere. O “segredo” remetia para a implementação da política dos rácios alunos/docentes consoante os cursos, depressa extrapolada, abusivamente, para os departamentos. Um veneno que as universidades, em particular a do Minho, devoraram. Este desvio de uma fórmula de financiamento para uma forma de governo desvirtuou o mundo académico, resultando numa legitimação e num reforço dos interesses e privilégios instalados ou em vias de instalação. Uma deformação que, a par do controverso processo de Bolonha, contribuiu estruturalmente para o atual desequilíbrio institucional das universidades portuguesas.

Para aceder à “Fábula das formigas sabichonas”, carregar na imagem seguinte ou no endereço https://tendimag.com/2011/11/13/fabula-das-formigas-sabichonas/

Desequilíbrio fórmico

A Ave, o casal e a lápide

Lançamento do livro Uma Paisagem Dita Casa, 1 de agosto de 2022. Fotografia: Conceição Gonçalves

Prometi, há dois meses, colocar o capítulo “A ave, o casal e a lápide: as esculturas da porta da igreja de São João Baptista de Lamas de Mouro” logo após o lançamento do livro Uma paisagem dita casa, de João Gigante, integrado no programa Quem somos os que aqui estamos?, do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço. Aconteceu ontem.

Lançamento do livro Uma Paisagem Dita Casa. Melgaço, 1 de agosto de 2022. Assistência. Fonte: Melgaço, Portugal começa aqui

Tenho vindo a afastar-me da nobre missão de facultar ciência. Contento-me com namorar o conhecimento. A autoridade da lição e do relatório cede à desenvoltura da poesia, do conto ou da comédia. Entrego-me ao gozo da descoberta e da escrita e aposto no prazer do eventual leitor. Sem lonjuras nem distâncias, próximo das realidades e dos públicos. “A ave, o casal e a lápide” presta-se a ser lido como um romance policial. Nem sequer foi preciso reordenar as etapas da pesquisa. O texto espelha o percurso efetivo. Constitui um exemplo de investigação tal como sucede. Confesso algum carinho por estas páginas: não pretendem desvendar a realidade, mas acrescentar e valorizar; não contabilizam, satisfazem.

Segue o capítulo “A ave, o casal e a lápide: as esculturas da porta da igreja de São João Baptista de Lamas de Mouro”, in Gigante, João, Uma paisagem dita casa, Ao Norte, 2022, pp. 124-139. Acresce a reportagem da visita, em 2021, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao MDOC.

Cerimónia de encerramento e entrega de prémios do MDOC – Festival Internacional de Documentários. Melgaço, 08 de agosto de 2021. © Mário Ramalho/Presidência da República.

Saúde e Pobreza – Seminário dia 28 de maio

Segue o convite, com a respetiva apresentação, para o seminário organizado pela EAPN dedicado ao tema “O binómio saúde e pobreza: uma análise de causalidade “, previsto para o próximo dia 28 de maio, no auditório Zulmira Simões da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

Aproveito para acrescentar uma notícia do Diário Minho, do dia 17 de maio, a apresentar o recentemente criado Fórum de Cidadania pela Erradicação da Pobreza, parceiro da EAPN.

Press Release

CONGRESSO NACIONAL – DIÁLOGOS SOBRE POBREZA

Desta vez, em Braga, debate-se “O binómio saúde e pobreza”

“O binómio Saúde e pobreza: uma análise de causalidade” é o tema do terceiro seminário organizado pela EAPN Portugal, promotora do Congresso Nacional – Diálogos sobre Pobreza que já abordou “A Luta contra a pobreza em Portugal: desafios e oportunidades” e “Pobreza, Trabalho e Desigualdades”.

 Desta vez Braga é a cidade escolhida para o encontro que reúne alguns especialistas, dia 28 de maio, no auditório Zulmira Simões da Escola de Medicina da Universidade do Minho. Este congresso nacional – Diálogos sobre Pobreza – composto por 4 seminários realizados em 4 cidades (Porto, Aveiro, Braga, Lisboa) visa comemorar o 30º aniversário da EAPN Portugal, celebrado no passado mês de dezembro, cujas iniciativas se estendem ao corrente ano, contando com o Alto Patrocínio do Senhor Presidente da República.

O direito a um nível de vida adequado para assegurar a saúde e bem-estar de cada pessoa e da sua família, constitui um dos direitos fundamentais inscritos no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948.

A saúde possibilita o desenvolvimento social, económico e pessoal das pessoas, sendo por isso um componente essencial para a qualidade de vida de cada indivíduo. Não obstante, as desigualdades sociais e económicas contribuem frequentemente para diminuir a acessibilidade das pessoas em situação de maior vulnerabilidade a cuidados de saúde que lhes permitam a manutenção de um nível de saúde adequado.

A saúde individual de cada pessoa é, por isso, determinada por um conjunto de fatores políticos, socioeconómicos, culturais, biológicos e comportamentais que podem tanto favorecer como prejudicá-la.

Num país fortemente marcado por desigualdades, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) tem sido um poderoso instrumento de coesão social. A criação do SNS em 1979 veio assegurar o acesso universal, geral e tendencialmente gratuito de todos os cidadãos de Portugal a cuidados de saúde. Volvidos mais de 40 anos desde a sua criação e apesar das conquistas alcançadas pelo SNS – desde as melhorias ao nível da saúde materno-infantil à cobertura e alcance dos cuidados médicos hospitalares em todo o território -,existem ainda diversas lacunas que carecem de solução e que, à luz da atual crise despoletada pela pandemia da COVID-19, foram intensificadas.

Segundo os últimos dados do INE[1], em 2021, 50.2% da população autoavaliou o seu estado de saúde como bom ou muito bom (uma descida de 1.1 p.p. face ao ano anterior). Essa autoavaliação positiva foi mais elevada entre os homens (54.2%) por comparação às mulheres (46.6%); entre a população empregada (65.2%) por comparação à desempregada (50.5%) e entre as pessoas com ensino superior (74.1%) e ensino secundário e pós-secundário (66.2%) por comparação às que detêm apenas o ensino básico (34.1%). Em todos estes grupos verificou-se uma descida relativamente ao ano 2020.

Os dados do INE indicam ainda que se verificou em 2021 um aumento na percentagem de pessoas com 16 ou mais anos que tinham necessidade de consultas médicas não satisfeitas (5.7%), sendo a disponibilidade financeira o principal motivo apresentado para 30% das pessoas que referiram estar nessa situação. Ainda segundo este inquérito, 60% das pessoas inquiridas apontaram “outras razões” como motivo para as necessidades de consulta médica não satisfeitas, com destaque para os motivos relacionados com a crise pandémica COVID-19.

Viver em situação de pobreza tem claramente um impacto na saúde das pessoas. A autoavaliação que as pessoas que vivem numa situação de pobreza fazem da sua saúde é claramente menos positiva quando comparada com a população que não está nessa situação. Em 2021, 50.2% da população total avaliava o seu estado de saúde como muito bom ou bom. Já quando se considerava a população em risco de pobreza, este valor descia para 37,2%. No caso das avaliações do estado de saúde como razoável estas são superiores na população em situação de pobreza (41.4%) quando comparado com a população total (36.6%). O mesmo se verifica quando existem limitações na realização de atividades devido a problemas de saúde prolongados: em 2021, 44.5% da população em situação de pobreza referia ter limitações na realização de atividades devido a problemas de saúde e 14.1% apontavam limitações severas.

A saúde mental é outra dimensão central à vida das pessoas. Segundo os dados apontados pelo Inquérito Europeu da Saúde (EHIS) de 2014 do Eurostat, cerca de 31% da população admitia ter necessidades de cuidados médicos não-satisfeitas ao nível da saúde mental por motivos financeiros. Mais recentemente, o relatório da OCDE “A New Benchmark for Mental Health Systems” estimava que cerca de 64% da população em idade laboral em Portugal apresentava[2] necessidades de cuidados médicos não-satisfeitas ao nível da saúde mental por motivos de transporte, financeiros e de tempo de espera[3]. Estes dados não surpreendem e são um claro reflexo do sub-investimento que existe ao nível dos cuidados de saúde mental no SNS e que se manifestam sobretudo numa carência de recursos humanos especializados.

Se tivermos em conta o impacto da COVID-19 na saúde mental verificamos que, em 2021, 26.6% da população com 16 ou mais anos referiu o efeito negativo da pandemia na sua saúde mental. Um efeito mais gravoso para as mulheres (30.2%) do que para os homens (22.4%); com pouca diferença entre a população com idades entre os 16 e os 64 anos (26.8%) por comparação à população com 65+anos (25.9%); um impacto significativamente elevado para a população em situação de desemprego (33.7%) por comparação à empregada (25.5%).

Também nesta dimensão viver em situação de pobreza é um fator de maior vulnerabilidade: só em 2021, devido à pandemia, 29,6% da população com 16 anos ou mais em risco de pobreza referiram um impacto negativo da pandemia de COVID-19 na sua saúde mental, menos 3 p.p. quando comparado com a população total (26,6%)[4].

A acessibilidade à saúde é afetada também pelas desigualdades geográficas em termos de cobertura dos serviços. Existem um conjunto de assimetrias regionais em termos de cobertura da rede hospitalar e especialidades médicas que impactam o acesso à saúde da população, em particular a mais vulnerável.

Se as fragilidades apontadas no acesso e cobertura do SNS nas diferentes dimensões analisadas eram um facto incontornável pré-pandemia, à luz da atual crise despoletada pela paralisação do SNS causada pela pandemia da COVID-19 e a intensificação de patologias do foro mental, é de prever que estas fragilidades se acentuem e tragam efeitos na saúde dos portugueses ainda difíceis de quantificar. É, igualmente, previsível que estas fragilidades continuem a afetar de forma desproporcional as pessoas em situação de maior vulnerabilidade económica e social. É, por isso, imprescindível colocar a dimensão da saúde e da saúde mental na agenda de discussão do combate à pobreza.

O documento que servirá de ponto de partida para o debate apontará algumas recomendações para o futuro.

No sítio dedicado à iniciativa em https://congresso2022.eapn.pt encontrará o programa do evento, com todos os intervenientes e temas a abordar.

+ info:

EAPN Portugal

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[1] INE, Estado de Saúde, Rendimento e Condições de Vida 2021, 25 de fevereiro de 2022. Disponível em : https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=544264379&DESTAQUESmodo=2

[2] Os dados apresentados pela OCDE neste relatório, publicados em 2021, são relativos ao período entre 2012 e 2016, não sendo possível discriminar com precisão a que ano os mesmos se referem.

[3] OECD. A New Benchmark for Mental Health Systems. (2021). https://doi.org/https://doi.org/10.1787/4ed890f6-en

[4] INE, Estado de Saúde, Rendimento e Condições de Vida 2021, 25 de fevereiro de 2022. Disponível em : https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=544264379&DESTAQUESmodo=2