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Bons e Simpáticos

Ser bons e simpáticos não basta, pois não? No presente tal como no passado e, provavelmente, no futuro.

Anunciante: Shelter. Título: Good as Gold. Agência: Don’t Panic London. Reino Unido, novembro 2023
Anunciante: Shelter. Título: Brave Face. Agência: Don’t Panic London. Direção: SI&AD. Reino Unido, novembro 2022.

Filhos da Mãe: Les Enfoirés

“Les gens qui rêvent font des révolutions” (Les Enfoirés)

No bar do Instituto de Ciências Sociais, apenas os três funcionários. Com as memórias sentadas à minha volta, apetece-me sentir a nortada no rosto e a generosidade ao alcance dos dedos. Despeço-me rumo a Moledo. Caminho, pasmo e janto sardinhas com alface, tomates e pimentos colhidos na horta do Sr. João. No restaurante, apenas se ouve o zumbido da televisão que, como uma mosca, revolve o mesmo lixo: a comissão de inquérito para lamentar. Em casa, carrego baterias, as baterias da fé. Com os “filhos da mãe” (Les Enfoirés; motherfuckers).

Exemplo raro de generosidade, Les Enfoirés (http://www.enfoires.fr) é um coletivo de artistas criado em 1985 por Coluche com o objetivo de contribuir para a sua principal iniciativa de solidariedade: Les Restos du Coeur. Seguem quatro canções. Uma sequência com trinta interpretações dos Enfoirés está disponível no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=XcmG2RZYxDs.

Coluche, por Catherine Wernette

Didier Barbelivien & Olympe & Stanislas / Les Enfoirés. Elle était si jolie (cover de Alain Barrière, 1963). 2014
Celine Dion & Maurane / Les Enfoirés. Quand on a que l’amour (cover de Jacques Brel, 1956). 1996
Les Enfoirés. Ta Main (cover de Grégoire, Toi+Moi, 2008). 2010
Les Enfoirés. Rêvons. 2023 Enfoirés un jours, toujours. 2023

Imagens da pobreza (com ilustrações e comentário)

Só dei conta, por lapso pessoal, que era suposto escrever o artigo “Imagens da pobreza” (para o jornal Correio do Minho, de 17/06/2023) quando me foi solicitado para edição. Tive que o redigir texto de um dia para o outro. Ultrapassado o limite de 5000 carateres, considerei-o concluído. Ficou incompleto? Sobram sempre assuntos para desenvolver. Mas neste caso, além de incompleto, o texto resultou desequilibrado, tanto no que respeita ao conteúdo como, mais grave, à abordagem. Justifica-se uma crítica. Seguem:

  • O artigo “Imagens da Pobreza”, publicado no jornal Correio do Minho, de 17 de junho de 2023;
  • Uma galeria de imagens correspondente ao artigo “Imagens da Pobreza”;
  • Uma (auto)crítica do artigo “Imagens da Pobreza”;
  • Uma galeria de imagens correspondentes ao texto de crítica do artigo “Imagens da Pobreza”.

Galeria do artigo “Imagens da pobreza”

Comentário ao artigo “Imagens da Pobreza”

A contradição costuma fazer parte da arquitetura do imaginário: a um ponto tende a corresponder um contraponto. No presente artigo, proporcionou-se a pobreza surgir apenas como um mal (necessário, lamentável ou compreensível). De modo algum, como algo positivo. Existem, contudo, imagens favoráveis à pobreza e aos pobres. Por exemplo, algumas vertentes do cristianismo, a começar pelos atos e palavras do próprio Jesus Cristo, que, “sendo rico se fez pobre” (2 Coríntios 8:9): “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu” (Mateus 19:21); “E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19:24). Contam-se às dezenas as passagens da Bíblia que não só apregoam a defesa dos pobres como valorizam a pobreza, por exemplo “Levanta do pó o necessitado e do monte de cinzas ergue o pobre; ele os faz sentar-se com príncipes e lhes dá lugar de honra” (1 Samuel 2:8). Os eremitas, sobretudo dos séculos III a IV e XII a XIII, buscam no isolamento, no despojamento e no desprendimento uma aproximação ao divino e uma condição de salvação. A pobreza e o isolamento extremos propiciam a resistência às diferentes formas de tentação e vício, bem como uma dedicação exclusiva a Deus. Santo Antão é, porventura, a figura mais notória. Descendente de uma família cristã rica do Egipto do século III, deu tudo aos pobres e retirou-se no deserto. Maria Madalena precedeu-o: contra o fim da vida, no deserto, despojada, inclusivamente sem roupa, era “alimentada espiritualmente pelos anjos” (“Maria Madalena: O Corpo e a Alma”: https://tendimag.com/2015/02/09/maria-madalena-o-corpo-e-a-alma/). Enfim, aponta no mesmo sentido o “voto de pobreza” caraterístico das ordens mendicantes, tais como os franciscanos, dominicanos, agostinianos e cartuxos.

Resta incontornável a questão: que tipo de pobreza é a pobreza voluntária?

Galeria do comentário ao artigo “Imagens da pobreza”

Inflação, poder de compra e desigualdades sociais

Evolução do poder de Compra. França, 2015 a 2022. Fonte: Xerfi Canal, 19.01.2023

O Xerfi Canal (https://www.xerficanal.com/) é uma “revista online sobre o mundo da economia, a estratégia e a gestão das empresas”. Publica diariamente um comentário temático conciso e claro, hoje, 19.01.2023, dedicado à evolução recente da relação entre a inflação, o poder de compra e os rendimentos. O foco é a França, mas estou em crer que a análise é extensível aos demais países da União Europeia, incluindo Portugal. Partilho o vídeo, em francês, seguido por uma tradução livre e algo apressada.

Alexandre Mirlicourtois. Un pouvoir d’achat en chute libre? La réalité des chiffres. Xerfi Canal. 19.01.2023

“Sondagem após sondagem, o poder de compra ocupa o primeiro lugar nas preocupações dos franceses. Isso não tem nada de surpreendente uma vez que há meses que os agregados domésticos evidenciam uma degradação clara da sua situação financeira e não aguardam nenhuma melhoria a curto prazo. Os dados do INSEE [equivalente francês do INE] comprovam-no. É verdade que o rendimento real dos franceses embora ameaçado não sofre uma quebra expressiva. Convém equacioná-lo por unidade de consumo de modo a contemplar o fato de, por um lado, se repartir por um número crescente de habitantes e, por outro, de a vida em comum permitir, graças a economias de escala, reduzir determinadas despesas tais como as do alojamento. A evolução da dimensão dos agregados domésticos possui também alguma importância.

Sob esta luz, a tendência resulta menos favorável: o poder de compra baixou 0,6% no ano passado, o que não é muito. Recuando um pouco no tempo, o poder de compra por unidade de consumo mantém-se acima do nível anterior à crise e, recuando ainda mais, o refluxo de 2022 não tem comparação com o registado entre 2011 e 2013. A estatística é, mais uma vez, posta à prova pela experiência da vida quotidiana e surge desfasada da realidade vivida por muitos cidadãos.

Para explicar este hiato, importa reconsiderar o fator atual que mais pesa sobre o rendimento: a descolagem dos preços no consumo. Trata-se de uma inflação geradora de desigualdades profundas. A progressão dos preços não é homogénea e incide, nos dois últimos anos, num núcleo principal, a energia, e num núcleo secundário, a alimentação. Por seu turno, os aumentos dos preços dos produtos manufaturados e dos serviços têm revelado maior contenção. Acontece que a exposição dos agregados domésticos, bastante elevada e muito concentrada, varia significativamente consoante o respetivo nível de vida, devido à estrutura do consumo acentuadamente diferenciada.

A fatura energética é um dos elementos inerentes ao alojamento. Para os mais desfavorecidos representa acima de 6% das suas despesas totais contra menos de 4% no topo da escala. O mesmo sucede no que respeita à despesa alimentar cujo peso diminui à medida que o nível de vida aumenta. A situação pode resumir-se da seguinte forma: a baixo nível de vida, preços altos; a nível de vida alto, preços baixos. Acresce uma amplificação conforme se seja rural ou urbano, por causa da progressão dos preços dos carburantes. Não existe, portanto, apenas um mas vários poderes de compra consoante o grau de exposição ao lote dos consumos mais inflacionistas.

Mas este não é o único fator de desigualdade. Subsiste outro mais importante associado à parte do rendimento consagrada ao consumo, logo diretamente impactada pela subida dos preços: 20% dos agregados domésticos mais modestos gastam mais de 97% dos seus rendimentos contra menos de 72% dos mais favorecidos, uma diferença de 26 pontos. Dito de outro modo, a quase integralidade do rendimento dos mais pobres é alocada às despesas quotidianas; em contrapartida, os mais favorecidos conseguem poupar cerca de 30%. O impacto é duplo. Primeiro, os franceses do topo conseguem manter o seu nível de despesas modificando a sua dosagem entre consumo e poupança; segundo, uma proporção dos seus rendimentos é parcialmente preservada pela evolução da remuneração das suas poupanças. Ocorre o contrário quando nos posicionamos no baixo da escala: quando os rendimentos não acompanham até à vírgula, ou quase, a evolução dos preços do respetivo cabaz, torna-se então necessário efetuar cortes claros nas despesas quotidianas porque não existe, ou existe muito pouca, gordura para ajustamento. Apenas um euro em cada três de despesas comprimíveis para estes; um euro em dois para os outros.

Em suma, para uma parte crescente da população rematar o fim do mês acaba por ser impossível sem recurso ao crédito renovável, também chamado crédito permanente ou revolving, modalidade de pagamento, uma espécie de reserva, geralmente associada a um cartão de crédito, cada vez mais mobilizada pelos agrupamentos domésticos para as suas compras correntes, cujas pendências estão em forte crescimento, embora partam de uma base baixa. A outra solução consiste no recurso às contas a descoberto, tendência manifesta no aumento explosivo da curva das contas correntes de débitos que já ultrapassam os 10 bilhões de euros e representam mais de 5% do conjunto dos créditos ao consumo, alcançando o nível mais alto dos últimos 20 anos. Constituem, porém, práticas onerosas que comportam um peso acrescido no orçamento dos agregados domésticos mais modestos. O sobre endividamento, que não parou de recuar desde meados dos anos 2010, corre seriamente o risco, neste contexto, de regressar em força nos próximos meses, apesar de um poder de compra, em aparência, em estado de Resistência.” (Alexandre Mirlicourtois. Un pouvoir d’achat en chute libre? La réalité des chiffres. Xerfi Canal. 19.01.2023: https://wordpress.com/post/tendimag.com/55467. Consultado em 19.01.2023.

E as crianças?

Save the Children

As realidades abordadas nestes três anúncios da Save the Children não são inauditas. De vez em quando, os meios de comunicação social fazem-lhe alusão. Save the Children Fund é uma organização internacional não governamental de defesa dos direitos da criança, ativa desde 1919, com sede em Londres.

Anunciante: Save the Children. Título: Save the Survivors. Agência: POL. 2022.

Anunciante: Save the Children. Título: Save the Children. Agência: POL. Direção: Niels Windfeldt. 2022.

Anunciante: Save the Children. Título: Survivors. Agência: Landia. Direção: Francisco Paparella. 2019.

Pobreza: A importância das palavras

Junto o artigo “Pobreza: A importância das palavras”, publicado no jornal Diário do Minho (terça-feira, 20 de setembro de 2022, pág. 8) de que sou autor. Para escutar enquanto lê, a canção Ces gens-là, de Jacques Brel.

Jacques Brel. Ces gens-là. Ces gens-là. 1966.

Anúncios de bolso

Com poucas imagens se ilustra muito. Publicidade vintage.

Anunciante: Bancos de alimento. Título: Palomas. Agência: McCann Erickson. Direção: Mario Garcia. Espanha 1999.

Para aceder ao segundo anúncio, carregar na imagem seguinte.

Anunciante: Journée Mondiale du Refus de la Misère. Título: Donnons la parlole aus pauvres. Agência: TBWA. França, 1998.