Archive | Junho 2023

Caducidade: a contagem das folhas

“Mover-se como uma folha morta caída da árvore que o vento leva, sem se saber se é o vento que nos leva ou se somos nós que transportamos o vento…” (Michel Jourdan). As folhas despedem-se dos ramos que bradam aos céus, para visitar a terra e as raízes de onde beberam a seiva. As folhas soltam-se avulsas, discretas e anónimas. Mas certos dias, fetichistas, teimamos em contá-las. São dias especiais comemorativos da caducidade. Pois contemos mas por ordem decrescente. Ousemos adolescentar perdidamente, bolinar contra o vento como as caravelas.

Encantados pelas folhas suspensas nas águas cristalinas de M.C. Escher (Three Worlds, 1955), resgatemos três vultos clássicos da floresta musical: Nat King Cole (Autumn Leaves; Unforgettable; e Smile), Emilio Cao (Cain as Follas) e Yves Montand (Les Feuilles Mortes, a versão original, francesa, de Autumn Leaves).

Nat King Cole. Autumn Leaves. 1955
Nat King Cole. Unforgettable. 1951
Nat King Cole. Smile. 1954
Emilio Cao. Cain as follas. Amiga Alba E Delgada. 1992
Yves Montand. Les Feuilles Mortes. Yves Montand à l’Olympia. 1981

Friend of a Friend. A estranha beleza da vida

Ainda vai a tempo de dedicar cinco dedos de música ao orgulho do mês. Com a compositora e cantora contralto Michelle Gurevich, nascida em Toronto, no Canadá, filha de imigrantes russos judeus. Partilha com Rodrigo Leão a canção Friend of a Friend (A Estranha Beleza da Vida, 2021).

Imagem: Parmigianino. Autorretrato em espelho convexo.1523-1524

Michelle Gurevich.  Blue Eyes Unchanged. Let’s Part in Style. 2014
Michelle Gurevich. Fatalist Love. Exciting Times. 2018
Michelle Gurevich. Woman is still a woman. Woman Is Still A Woman (Ralph Ghayad Remix). 2018
Michelle Gurevich. Love from a distance. Ecstasy in the Shadow of Ecstasy. 2020
Rodrigo Leão. Friend of a Friend feat. Michelle Gurevich. A estranha beleza da vida. 2021

Senxualidade

A música e a coreografia estão especialmente vocacionadas para produzir ressonâncias com intensas vibrações. Os vídeos musicais de Nathalie Cardone, francesa de mãe espanhola e pai italiano, apostam num toque de senxualidade, apropriado para uma noite deveras longa.

Nathalie Cardone. Mon Ange. Nathalie Cardone. 1999
Nathalie Cardone. Baïla si. Nathalie Cardone. 1999
Nathalie Cardone. Populaire. Nathalie Cardone. 1999

Imagens da pobreza (com ilustrações e comentário)

Só dei conta, por lapso pessoal, que era suposto escrever o artigo “Imagens da pobreza” (para o jornal Correio do Minho, de 17/06/2023) quando me foi solicitado para edição. Tive que o redigir texto de um dia para o outro. Ultrapassado o limite de 5000 carateres, considerei-o concluído. Ficou incompleto? Sobram sempre assuntos para desenvolver. Mas neste caso, além de incompleto, o texto resultou desequilibrado, tanto no que respeita ao conteúdo como, mais grave, à abordagem. Justifica-se uma crítica. Seguem:

  • O artigo “Imagens da Pobreza”, publicado no jornal Correio do Minho, de 17 de junho de 2023;
  • Uma galeria de imagens correspondente ao artigo “Imagens da Pobreza”;
  • Uma (auto)crítica do artigo “Imagens da Pobreza”;
  • Uma galeria de imagens correspondentes ao texto de crítica do artigo “Imagens da Pobreza”.

Galeria do artigo “Imagens da pobreza”

Comentário ao artigo “Imagens da Pobreza”

A contradição costuma fazer parte da arquitetura do imaginário: a um ponto tende a corresponder um contraponto. No presente artigo, proporcionou-se a pobreza surgir apenas como um mal (necessário, lamentável ou compreensível). De modo algum, como algo positivo. Existem, contudo, imagens favoráveis à pobreza e aos pobres. Por exemplo, algumas vertentes do cristianismo, a começar pelos atos e palavras do próprio Jesus Cristo, que, “sendo rico se fez pobre” (2 Coríntios 8:9): “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu” (Mateus 19:21); “E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19:24). Contam-se às dezenas as passagens da Bíblia que não só apregoam a defesa dos pobres como valorizam a pobreza, por exemplo “Levanta do pó o necessitado e do monte de cinzas ergue o pobre; ele os faz sentar-se com príncipes e lhes dá lugar de honra” (1 Samuel 2:8). Os eremitas, sobretudo dos séculos III a IV e XII a XIII, buscam no isolamento, no despojamento e no desprendimento uma aproximação ao divino e uma condição de salvação. A pobreza e o isolamento extremos propiciam a resistência às diferentes formas de tentação e vício, bem como uma dedicação exclusiva a Deus. Santo Antão é, porventura, a figura mais notória. Descendente de uma família cristã rica do Egipto do século III, deu tudo aos pobres e retirou-se no deserto. Maria Madalena precedeu-o: contra o fim da vida, no deserto, despojada, inclusivamente sem roupa, era “alimentada espiritualmente pelos anjos” (“Maria Madalena: O Corpo e a Alma”: https://tendimag.com/2015/02/09/maria-madalena-o-corpo-e-a-alma/). Enfim, aponta no mesmo sentido o “voto de pobreza” caraterístico das ordens mendicantes, tais como os franciscanos, dominicanos, agostinianos e cartuxos.

Resta incontornável a questão: que tipo de pobreza é a pobreza voluntária?

Galeria do comentário ao artigo “Imagens da pobreza”

Algures num recanto do mundo: Keren Ann

Nascida em 1974 em Israel, Keren Ann é cantora, compositora, produtora e engenheira. Mora em Paris, Telavive e Nova Iorque. Interpreta viola, piano e clarinete. Filha de pai judeu russo e de mãe javanesa holandesa, viveu até em Israel e na Holanda até se deslocar aos 11 anos com a família para Paris. É um consolo escutá-la. Canta em francês e inglês. Seguem, primeiro, três canções em francês.

Keren Ann. Ailleurs. La Disparition. 2002
Keren Ann. Au coin du monde. La Disparition. 2002
Keren Ann. Le sable mouvant. Not Going Anywhere. 2003

Ramos e achas

Cortar ramos e lançar achas para a fogueira: podar ou castrar árvores?

As pessoas resistem a ideias novas. Acontece dizerem que só passados vários dias começaram a achar determinadas ideias interessantes. Pois é, só lhes dão valor quando já estão velhas nas suas cabeças.

Sobre Agnes Obel, escrevi: “é uma cantora, compositora e pianista dinamarquesa. As suas canções são despojadas, quase intimistas. Parece soprar uma chama que não quer apagar” (https://tendimag.com/2020/11/06/agnes-obel/). Seguem três canções, incluinto “Fuel to fire”.

Agnes Obel. Fuel to fire. Aventine. 2013
Agnes Obel. Riveerside. Philharmonics. 2010
Agnes Obel. Dorian. Aventine. 2013. Recorded in Berlin at Heimathafen Neukölln.

Um passarão numa gaiolinha

Patrick Watson

Troco, naturalmente, dicas. Uma amiga perguntou-me, hoje, se conhecia Patrick Watson, o intérprete e a banda, do Canadá, em particular as músicas “Je te laisserai des mots” (2010) e “The great escape” (2006). Tomara conhecimento através da filha  [uma geração que aprende com a seguinte]. Claro, até está no Tendências. Mesmo assim, verifiquei. Nada… Mas nos marcadores, sobravam cinco canções para, como é hábito, colocar três. Esqueci-me! Acontece com tanta frequência que nem sequer relevo. Explica, por exemplo, por que, em doze anos e 3 896 artigos, os Coldplay só aparecem uma única vez, por sinal, à boleia do Claude Debussy (https://tendimag.com/2021/04/18/arabescos/). Mas nunca é tarde para reparar. Seguem as outras três canções: “Lighthouse”, “Here Comes The River” e “Big Bird in a Small Cage”. Acresce “Can’t Stop Staring At The Sun,” pela originalidade sonora, pela qualidade da coreografia e por ser um bom exemplo de vídeo musical surrealizado.

Patrick Watson – Lighthouse. Adventures in Your Own Backyard. 2012
Patrick Watson – Here Comes The River. Wave. 2019
Patrick Watson – Big Bird in a Small Cage. Wooden Arms. 2009. CBC Music’s First Play Live
Patrick Watson – Can’t Stop Staring At The Sun. A Mermaid in Lisbon. 2021

Sensibilidade

Quando as palavras não sonham, as notícias não prestam, a música não dança, as pessoas não se abraçam, as sombras não se escondem, os minutos não passam e o depois não chega… segue os pássaros ou bebe um anúncio bem cheio, sem gelo, do Bruno Aveillan. Perde-te em Nova Iorque ou descobre AluLa. Sente! Sente os rostos, as mãos, os objetos e o que mais se oferecer.

Marca: Tiffany & Co. Título: Love (in) New York (Fashion Film). Agência: Ogilvy NY. Direção: Bruno Aveillan. 2022
AluLa, The World’s Masterpiece. UNESCO World Heritage Site. Agência: Leo Burnett KSA, Riyadh. Produção: QuadDireção: Bruno Aveillan. Arábia Saudita, 2021

Hórus e Nut

Estou a escrever coisas sérias sobre realidades pesadas. Quase mais números do que letras. Entretanto, o prazer joga às escondidas.

Aproveito os intervalos para espairecer. Sento-me num tapete voador. Na Galiza, colho uma música no ninho de uma meiga. Inspiro-me e parto para o Antigo Egipto ao encontro do olho do deus Hórus na escuridão da deusa Nut.

Imagem: Nut, deusa egípcia do céu no túmulo de Ramsés VI

Baiuca – Olvidame (feat. Aliboria). Misturas. 2019

André Soares em Viana do Castelo

O próximo sábado oferece uma excelente oportunidade para saborear um folhadinho de camarão aquecido, revisitar a Igreja de Nossa Senhora da Agonia sem ser para trabalhar, folhear as imagens de um belo livro, ouvir o Eduardo Pires de Oliveira e jantar à beira-mar.

No próximo dia 17 de junho (sábado), na Igreja de Nossa Senhora da Agonia (Viana do Castelo), pelas 17.30 horas, é apresentado o livro “André Soares em Viana do Castelo”, de Eduardo Pires de Oliveira. Nesta publicação, o autor dá nota do conjunto excepcional de retábulos deixados pelo arquiteto setecentista na cidade Viana do Castelo, nomeadamente o da capela de Nossa Senhora do Rosário, na Igreja de São Domingos, o da Capela da Casa da Praça e os que se mantêm na nave e capela-mor da Igreja de Nossa Senhora da Agonia. A edição de autor, composta por 254 páginas, apresenta fotografia de Adelino Pinheiro da Silva, Ricardo Janeiro e Agnès de Gac e inclui um estudo do douramento do Retábulo de Nossa Senhora do Rosário, assinado por cinco investigadores na área da Conservação e Restauro. 

Eduardo Pires de Oliveira, reputado investigador de História da Arte e especialista em André Soares, é doutorado em História de Arte pela Universidade do Porto, Investigador Integrado no ARTIS, Académico Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes (Lisboa) e autor de centenas de estudos sobre Arte e a região minhota.

A organização do evento é do Centro de Estudos Regionais, constando no programa a atuação do Coro desta associação cultural.

Muito nos honraria se aceitasse o nosso convite.

José Carlos Magalhães Loureiro