O burro e a cenoura

“Aquele que faz de burro não deve admirar-se que os outros montem nas suas costas” (Provérbio chinês).

Guillaume de Digulleville (1295-1380), Pèlerinage de vie humaine; Pèlerinage de l'âme.

Guillaume de Digulleville (1295-1380), Pèlerinage de vie humaine; Pèlerinage de l’âme.

Cartaz do Carnaval de Loulé foi proibido de ser publicitado nos écrans das caixas multibanco. O que está em causa é uma caricatura

Cartaz do Carnaval de Loulé de 2014

Desconcerta-me ver as pessoas e as organizações empenhadas em correr atrás de uma cenoura. Onde estão os princípios, a função, a vocação e a missão? Só cenouras! O motivo é a cenoura, a motivação cenoura é. Somos heterodeterminados por artifícios que nos aguçam os dentes e nos hipnotizam a vontade. Pouco me entusiasma ver pessoas focadas em cenouras, ainda menos ver burros montados em cima de burros, homens em cima de homens e burros em cima de homens. Uma hierarquia asnática! É verdade que urge descentralizar, desconcentrar, desintoxicar e desburocratizar, mas não nos esqueçamos de desasneirar, desjericar e desburricar. Somos inteligentes? Somos burros? Acontece-nos ser espertos, daquela esperteza que faz a Terra girar à volta da Lua. Dêmos graças a Deus pelas orelhas que nos calharam em sorte.

Psalter-fragment (The Hague, KB, 76 F Courtesy of the Medieval Illuminated Manuscripts

Psalter-fragment (The Hague, KB, 76 F. C. 1200.

Na Idade Média, organizava-se uma missa em honra do burro (ver Tolos e Burros). Os “fiéis” zurravam, zurravam quanto podiam. O Clemencic Consort reconstituiu uma versão dos respectivos cânticos. Seleccionei a quarta e última parte do disco: Procession. VALE A PENA OUVIR! Este vinil do Clemencic Consort é um dos meus tesourinhos consistentes.

Clémencic Consort. La Fête de L’Âne. IV: Procession. 1979.

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  1. No tempo em que os burros cantavam | Tendências do imaginário - Setembro 3, 2018

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