A mulher real
A publicidade da Dove (Unilever) distingue-se pela recusa da imagem estereotipada da mulher cuidadora ou sexy. Esta rejeição depressa se transformou numa causa e numa campanha rumo a uma nova definição da mulher. O anúncio Image_Hack Case Study compila e contrasta imagens de “mulheres belas” e imagens de “mulheres reais”. Muitas “mulheres reais” apresentam-se numa pose “assumida” e “robusta”, por vezes, “guerreira”. Há poucas décadas, dir-se-ia, com sobranceria machista, uma pose masculina. Imagens semelhantes foram propagadas em vários regimes do século XX. Até nos selos as estampavam! Sexy women? Observe uma “mulher bela” e uma “mulher real”; é difícil separar as águas: os caminhos da sexualidade são insondáveis.
A Dove pretende trabalhar em rede, sobretudo com empresas e agências de publicidade: todos são poucos para espalhar a palavra. A Dove não abraçou apenas uma missão, encontrou um filão. Afigura-se-me que está a montar um dispositivo, do qual, tão cedo não sairá. Um dispositivo disciplinar. Um dispositivo que disciplina o olhar através de uma di-visão da realidade centrada na figura da “mulher real”. As campanhas da Dove lembram, até certo ponto, as campanhas da Benetton, embora menos abrangentes, porque confinadas às relações de género, mais precisamente, à representação da mulher.
Para um comentário alargado do anúncio Image_Hack Case Study, ver http://www.adweek.com/creativity/how-dove-is-hacking-photography-to-change-the-way-advertising-depicts-women/.
Marca: Dove. Título: Image_Hack Case Study. Agência: Mindshare, Denmark. Director criativo: Kenneth Kaadtmann. Dinamarca, Abril 2017.
2 responses to “A mulher real”
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- Março 21, 2022 -
Belo apanhado, e não menos interessante reflexão ( para variar) 🙂 . Verdade, difícil separar as águas. Não é menos verdade que as atividades exercidas na atualidade pela mulher, podem ao longo dos anos, alterar o corpo feminino (para mais robusto) . Do mesmo modo, que tudo não passa de pré conceitos de género, sim. Afinal, se há homens, que se transformam fisicamente em look de mulher, parece-me que há um exagero na caraterização da mulher/masculina, só porque se propõe exercer atividades tidas como masculinas. E, o meio termo? A mulher não tem que deixar de ser feminina, para não ser mulher/objeto, gosto de ser mulher, para tal, não tenho que ser nem homem, nem mulher objeto. Simone de Beauvoir, tornou-se para mim, num ícone sobre o assunto, feminista, intelectual, etc. Mas no feminino nas particularidades, das quais aprecio. Fumava, usava gravata, contudo, não deixou de ser uma mulher apaixonada, e que valorizava pequenos acessórios femininos, a saia, o turbante, os anéis, a elegância feminina. Calculo que é por aí, não sejamos radicais, o facto de a mulher adquirir direitos sociais, não é implicativo que recuse ser mulher.