A morte saiu à rua

Triunfo e Dança da Morte. Clusone. Dornai. Séc. XV.

Triunfo e Dança da Morte. Clusone. Dornai. Séc. XV.

Os gatos têm sete vidas, mas os homens têm mais mortes. A publicidade aposta no tópico da morte. Regressa o espantalho esquelético que a todos abraça sem pudor. Uma morte louca, sinistra, próxima, digital, embalsamada no tempo.

António Sampaio. Espantalho crucificado.

António Sampaio. Espantalho crucificado.

A morte é o nosso fantasma de estimação. Somos uma sociedade mortífera, não porque se mate ou morra mais, mas porque andamos com a sombra da morte na ponta do nariz. É certo que a Idade Moderna esconjurou a morte do quotidiano, mas ela nem por isso deixa de nos dar a mão e de nos guiar como nos frisos das igrejas medievais. Na vida como no ecrã, a morte, essa assombrosa sedutora, dança, dança nos videojogos, nos anime, nos filmes, nas séries televisivas, nos telejornais, nos nossos muitos medos.

George Grosz. Exequias. Dedicado a Oskar Panizza, 1918.

George Grosz. Exequias. Dedicado a Oskar Panizza, 1918.

O anúncio The man who died the most on movies surpreende com uma avalanche de sequências de mortes. Espera-se que, graças ao cómico, a catarse aconteça: rir da morte. Mas quem costuma rir não é o homem, mas a morte, a “morte risonha”. O nosso riso desbota até ficar amarelo. A morte sai à rua, como nos quadros de James Ensor, Otto Dix ou George Grosz. A morte adora um pé de dança. Dêmos-lhe música: “A morte saiu à rua”, de José Afonso (1972) e “The Untouchables: Death Theme”, do álbum Yo-Yo Ma plays Ennio Morricone (2004).

Anunciante: French Health Department AD. Título: The man who died the most on movies. Agência: DDB, Paris. Direcção: Alexandre Hervé. França, Junho 2015.

José Afonso. A morte saiu à rua. 1972.

“The Untouchables: Death Theme”, do álbum Yo-Yo Ma plays Ennio Morricone (2004).

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One response to “A morte saiu à rua”

  1. Beatriz Martins says :

    E, porque hoje é dia para pensar na vida, ainda que reconheça a análise que faz, permita-me passar a opinião que tenho sobre a morte! – A morte, é o único estado igualitário para a humanidade. Ainda que por processos diferentes, e mais cruel para uns que para outros, na realidade, é o único estado que ninguém tem poder sobre, isso, a meu ver, é a maior igualdade humana. O mais magnífico é que, enquanto vivos, acreditamos na vida e não na morte!

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