Sombras

Alexey Bednij
Por causa dos milagres que os apóstolos faziam, as pessoas colocavam os doentes nas ruas, em camas e esteiras. Faziam isso para que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Multidões vinham das cidades vizinhas de Jerusalém trazendo os seus doentes e os que eram dominados por espíritos maus, e todos eram curados. (Acto dos Apóstolos, capítulo 5, versículos 15 e 16).
Perguntei ao meu rapaz, que anda nas engenharias, se era possível tocar a sombra dos outros. “Não, a sombra não é um concreto. Mais, quando pensas que estás a tocar a sombra de outra pessoa é a tua própria sombra que estás a tocar”. O meu rapaz é assim: um quase engenheiro que pensa. Mas a minha vocação são as “ciências moles”. Não diz a Bíblia que o apóstolo cura os enfermos com a sua sombra? Se o milagre se faz pela sombra, não pode o toque da sombra ser erótico? Doutor Freud, o toque na sombra alheia é susceptível de provocar prazer?
Ando a escrever um artigo pontuável. Um artigo “duro” e tenso, que me vai envenenar os próximos dias. Resta-me espalhar disparates no Tendências do Imaginário. Seguem um anúncio em que a sombra se revolta, L’ombre, da Chanel (1993), e duas canções de Mike Oldfield, Shadow on the Wall e Moonlight Shadow, ambas do álbum Crises (1983).
Marca: Chanel. Título: L’ombre. Produção: Pac. Direcção: Jean-Paul Goude. França, 1993.
Mike Oldfield. Shadow on the Wall. Crises. 1983.
Mike Oldfield. Moonlight Shadow. Crises. 1983.
Gosto deste conceito de sombra, e das “ciências moles”.