A Profilaxia da Luxúria (Para maiores de 18 anos)
Hans Sebald Beham (1500-1550) é um gravurista alemão. Com o irmão, Barthel Beham, e o primo, Georg Pencz, foi considerado herege, “pintor sem Deus”, e expulso, em 1525, da cidade de Nuremberga pelos luteranos. O motivo residia na sua simpatia por Thomas Müntzer, o discípulo mais indigesto de Martinho Lutero. Hans Sebald Beham volta a ser expulso da cidade, em 1528, acusado de plágio de um desenho inédito de Albrecht Dürer.
As gravuras de Hans Beham são ousadas em matéria de sexualidade. Mas a prática não era rara. Por exemplo, as ilustrações do Romance da Rosa ultrapassavam-nas em fantasia e evidência. Configuram um apelo a Sodoma e a Gomorra? Hans Sebald Beham era religioso, cristão temente de Deus. Gravou dezenas de imagens de santos. Não existiam ateus no tempo de François Rabelais (Lucien Febvre). Ainda menos entre os seguidores de Thomas Müntzer, “teólogo da revolução” (Ernst Bloch).
Estas imagens querem-se profilácticas. Não seduzem, esconjuram! Mostram o mal, para o evitar. Quanto mais chocantes, mais eficazes. Caso contrário, como explicar a profusão de diabos nas iluminuras medievais? A profilaxia pela imagem precedeu a catequese pela imagem. “Para maior glória de Deus”. Os desígnios do Senhor são insondáveis…
Nas gravuras de Hans Sebald Beham, o corpo nu não vale pelo nu mas pela carne pecadora, irredutível ao nu estético e depurado da antiguidade clássica e do renascimento italiano.