Translucidez
“Demasiada luz ofusca” (Blaise Pascal)

Esta breve e ligeira reflexão foi estimulada pela leitura do texto “Quando vigiado se torna vigilante”, de Pedro Rodrigues Costa, e por dois anúncios. No meu caso, os anúncios publicitários revelam-se, muitas vezes, fontes de inspiração. Os anúncios “Data Auction”, da Apple, e “Storytel’s 1954″, da agência B-Reel Stockholm, são acompanhados pelo vídeo musical ” Every Breath You Take”, dos Police.
Vivemos numa sociedade da informação, para utilizar a noção adotada, entre outros, por Alain Touraine (La Société post-industrielle, 1969) e Daniel Bell (The coming of post-industrial society, 1973). A informação ter-se-ia tornado recurso preponderante, cuja produção, posse e circulação passaria a marcar a configuração e a vida das sociedades contemporâneas. Este alcance exponenciou-se com o incremento das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação). A informação representa um poder cuja distribuição é desigual, não só em termos de posse e acessibilidade, mas também em termos de meios, modos e possibilidades de uso e mobilização. Desigualdade que parece não diminuir com o aumento da informação. Com a tendência para a generalização da vigilância, o abuso do escrutínio e o desígnio de transparência, todos passamos a vigilantes vigiados e validadores validados. Esta banalização da vigilância, caraterística dos regimes totalitários, insinua-se como uma ameaça aos regimes democráticos. Se uma sociedade totalmente transparente, sem privacidade e com escrutínio absoluto, não se assevera possível, perfila-se, não obstante, como limite para o qual propendem os totalitarismos. Constitui, aliás, sua vocação.
“Quem vigia o vigilante?”