Filhos do Apocalipse

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Zdzislaw Beksinski

Em Portugal, no 15 de Agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora, ocorre uma espécie de inflamação da humanidade. Gente por todo o lado. Uma espécie de solstício de verão no calendário social. Um clímax da efervescência colectiva, votada ao esmorecimento dos próximos meses. É dia de festas; não é dia de trevas. Mas é de trevas que vou falar.

No último artigo, A Sereia Académica (https://tendimag.com/2018/08/13/a-sereia-academica/), figura uma pintura de HR Giger. Quem vê HR Giger, recorda Zdzislaw Beksinski (1929-2005), um dos principais, senão o principal, artista polaco contemporâneo. Classificou-se a si próprio, numa primeira fase, como barroco e, em seguida, como gótico. Não obstante, é um expoente da arte grotesca, o mais estranho e visceral que se pode conceber. As suas obras, além de desconcertantes, são tenebrosas. Na sua pintura, o morrer sobrepõe-se à morte, num mundo moribundo, sem remissão. Um mundo em que nem sequer a morte redime. As figuras, simultaneamente mortas e vivas, são amálgamas, fluídas e deformadas, de carne, ossos, ramificações e excrescências. O ser humano supera os objectos e as máquinas porque, para além da obsolescência, tem a sina de morrer, de ir morrendo. Passe a incongruência, está condenado a sobreviver, a penar, aquém e além, antes e depois da morte. A dilaceração estende-se aos animais e aos objectos: catedrais e prédios em ruínas; carcaças de carros, autocarros e tanques de guerra; cemitérios de objectos no calvário.

Zdzislaw Beksinski faleceu em 2005, esfaqueado até à morte por um vizinho a quem negou um empréstimo de cerca de 100 dólares. Foi um artista prolixo. A página da Wikiart inclui 707 obras. Beksinski fez questão em não dar título às suas obras, bem como resistiu ao mínimo contributo para a respectiva interpretação. A maior parte das suas obras não está datada. Segue meia centena de pinturas desordenadas e sem título. Um excesso de imagens arrepiantes, passíveis de gelar o riso do próprio diabo. Apesar do incómodo, vale a pena uma visita.

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