A Leiteira, DALL-E e Vermeer

Dall-E é uma nova aplicação capaz de alterar ou expandir autonomamente quadros. A Nestlé ilustra-a aplicando-a no anúncio Outpainting, com um belo efeito, à célebre pintura de Johannes Vermeer: A Leiteira (c. 1660). Maravilhas das sempre novas tecnologias!
“Quem disse que os robôs não têm imaginação? DALL-E [bem batizado: WALL-E + Dali] representa a inteligência artificial que adquirirá certamente importância no futuro. Já tinha deslumbrado os internautas quando foi lançado ao produzir imagens de incrível precisão e beleza artística. Mas o tempo passa e as ideias avançam! DALL-E decidiu expandir seu campo de atuação, para deleite dos curiosos e das vanguardas!
Até agora, o princípio era o seguinte. Esta inteligência artificial baseia-se no estudo de milhares de obras já existentes para poder criar novas imagens a partir de instruções textuais. Os resultados, muito estéticos e coerentes, já ofereciam uma renderização digna dos melhores pintores.
Desta vez, DALL-E regressa com um recurso completamente novo que talvez abale a criação digital contemporânea. Intitulada “Outpainting”, esta funcionalidade permite adicionar elementos dentro de uma imagem. É a inteligência artificial que imaginará por si mesma os elementos a adicionar. Este poder criativo dota-a de uma grande liberdade que pode conduzir a resultados inusitados e poéticos! O ambiente inicial da obra é assim transformado ou embelezado com um novo visual. E ainda não é tudo! Pensa que as performances incríveis desta inteligência artificial se limitam a pinturas de grandes pintores? Pois não. Este recurso também deve funcionar para fotografias. Este software pode ser uma ajuda substancial de edição.” (Arts in the City, DALL-E: a inteligência artificial que pinta imagens misteriosas: https://www.arts-in-the-city.com/2022/09/08/dall-e-lintelligence-artificielle-qui-peint-des-tableaux-mysterieux/. Consultado em 17.09.2022).
Voar sem dar cabeçadas no céu




Gosto do artista belga Jean-Michel Folon (ilustrador, pintor e escultor, 1934-2005). Também gosto do cantor francês Yves Duteil. Gosto de ouvir Duteil a cantar Folon. Sam ambos criativos, joviais, sensíveis e ternurentos. Apraz-me recuperar dois pequenos vídeos com gravuras de Folon: Comme Dans Les Dessins de Folon, de Yves Duteil; e Levitar, que montei em 2013, com a música Emmanuel, de Michel Colombier.
Estou a chamar as minhas cabras

Volvidos quarenta anos, reencontrei uma amiga graças ao Tendências do Imaginário e ao Facebook. Publicou livros de poesia. Retenho o poema “Estou a chamar as minhas cabras”, humano e cósmico, um apelo e uma voz das raízes num imaginário que lembra Castro Laboreiro.
estou a chamar as minhas cabras
o dia fecha-se
um canto de pássaro já levanta as sombras
a cancela rangepesa-me o silêncio
por isso chamo as minhas cabrasos aloendros trazem -me aquele aroma
veio a coruja
e os lamentos a açoitar o ventovou chamar as minhas cabras
conto os grãos aligeiro os medos
levo-te na minha cesta
envolto no pão com passas
para oferecer àquele penedosão as águias que já lá vêm
e as colinas tombam
é tudo um segredochamarei as minhas cabras
quando a noite cantar
e trouxer consigo a lenda
dos lobos brandos e montanheirosfoge-me a voz
alongo o ouvido em quebrantoiria chamar as minhas cabras
na ventania errantee a música alisando as fragas
as luas rodopiando
os silvos cortam o ar
chamandosão as minhas cabras
dançando
os montes sulcando à procura de mimfui chamada pelas minhas cabras
a noite abre-se
a memória do mundo ecoou no tempo
e o silêncio viveé uma flor
que chama pelas minhas cabras
elas me levaramno monte me deitarei
eu e as minhas cabras(Almerinda Van Der Giezen)
Galeria de imagens: Caprinos (carregar nas figuras para as destacar).









Para a eternidade


Como suplemento ao artigo Ação de graças, acrescento o texto, erudito mas acessível, dedicado que Erwing Panofsky (1892-1968) dedica ao quadro Alegoria da Prudência, de Ticiano: “A Alegoria da Prudêcia de Ticiano – um pós-escrito”, capítulo 4 do livro Significado nas artes visuais, editado pela primeira vez em 1955 e traduzido em português pela Editora Perspectiva, em 1991. Erwing Panofsky é um dos mais influentes historiadores e sociólogos da arte. Recordo que Pierre Bourdieu redigiu o posfácio da publicação francesa do seu livro clássico Architecture Gothique et Pensée Scolastique (Éditions de Minuit, 1967).
Por seu turno, para acompanhar o pdf do texto de Panofsky, acrescento o Andante, do Concerto para Piano nº2, de Dmitri Shostacovich (1906-1975), uma música que cuido levar comigo para comover o tédio do além, da eternidade.
A cadeira vazia e o espírito de Van Gogh

And I wonder if you know
That I never understood
That although you said you’d go
Until you did
I never thought you would(Don McLean. Empty Chair. 1971)
Um anjo sem repouso

Ela é ela, a mulher, um anjo livre que voa sem repouso, ano após ano.
Para brindar, uma canção inesquecível, na versão mais célebre, de Elvis Costello (She, Notting Hill, 1999), e na versão original, de Charles Aznavour (Tous les visages de l’amour, tradução em francês de She, Seven faces of woman, 1974).
Mãos exiladas

Há mais de um ano que não dava um passeio. Hoje, visitei o Museu D. Diogo de Sousa, atraído pela valiosa Coleção Bühler-Brockhaus. Vale a pena! Creio que também vale a pena espreitar, pelo prazer visual, o vídeo Mãos Exiladas e a respetiva galeria de imagens, com desenhos de Albrecht Dürer e esculturas de Auguste Rodin.
Galeria de imagens: Mãos Exiladas – Dürer & Rodin

























Perfeitamente divino e perfeitamente humano
Divino, perfeitamente divino, e humano, perfeitamente humano, a natureza de Cristo em três pinturas de Antonello da Messina (1430-1479): a anunciação (a Virgem Maria lendo); a infância (no colo da Virgem Maria); e o calvário (Ecce Homo: Jesus chorando). O arco da salvação, desde a anunciação do menino Jesus, Deus feito homem, ao Cristo crucificado, o homem que vence a morte. Mas chora!



It’s the Music, Stupid!

Não se consegue a harmonia quando todos cantam a mesma nota (Doug Floyd).
O anúncio The best moments are those we spend together, do Palácio das Artes Müpa, em Budapeste, coaduna-se com a vocação musical da Hungria. Acrescento dois excertos do filme O Violinista do Diabo (2013), dedicado a Niccolò Paganini.