Fazer anos num único dia
Faço anos. Aproveito, nos intervalos da festa, para ruminar. Como um burro, naturalmente. Quem não faz anos? Até os mortos, sobretudo quando são célebres.
Para os pré-modernos, chegar aos trinta e cinco era uma bênção, que importava celebrar com uma acção de graças. E os pós-modernos, que festejam? Mais um passo rumo ao indizível? Hoje, o interesse do aniversário reside na sua comemoração.
A gravura anónima do séc. XIX arruma os anos por dezenas. Até aos trinta, tudo é aceleração e ascensão; aos cinquenta, tudo é curva e inflexão. Acena-se à juventude e abre-se a porta à velhice. É a hora de investir no envelhecimento activo e nas clínicas anti-ageing.
Estou empenado das costas. Mal me consigo mexer. Como diria Paul Watzlawick, o corpo fala. Inconveniente, não se cansa de lembrar a idade. É de bom-tom gostar daquilo que somos. O espelho, pelos vistos, partiu. Sem alternativa, não há como escolher o destino.
Os amigos têm-me mimado. Para além do razoável. A todos agradeço. Um abraço.
Tenho a certeza que não é para além do razoável… 🙂 Mais uma vez parabéns!