Os Olhos de Santa Luzia
Hoje é dia bem aventurado. Não me perguntem a razão. Dedico-o a Santa Luzia, “a Santa Luzia dos meus amores” (Conjunto Maria Albertina).
Santa Luzia (ou Lúcia) é uma virgem mártir cristã do séc. III. Por ordem do Imperador Diocleciano, um soldado arrancou-lhe os olhos e entregou-lhos numa bandeja. Nesse momento, surgem-lhe novos olhos, ainda mais bonitos. A santa foi decapitada.
Nos séculos XV e XVI, era costume pintar Santa Luzia a segurar uma bandeja com dois olhos pousados (ver, por exemplo, figuras 3 a 7).

03 Master of the Legend of Saint Lucy. The Virgin Mary Among the Virgins. Last quarter of the 15th century.

04 Master of the Legend of Saint Lucy, The Virgin Mary Among the Virgins (detail), last quarter of the 15th century,
Francesco del Cossa (c. 1430 – c. 1477) dispensa a bandeja; a Santa segura com a mão esquerda os dois olhos, como se estes fossem uma flor. Um efeito de mestre. Não estivessem os nossos olhos habituados ao surrealismo, e o espanto seria outro. Os olhos vêem consoante viram.
Com a devida contrição, a propósito de Santa Luzia, permito-me convocar o Conjunto Maria Albertina. Não é por nada, mas estou convencido que, a seu tempo, venderam, em Portugal, mais discos do que os Pink Floyd.
Conjunto Maria Albertina. Santa Luzia.