Urna meio vazia

Rafael Bordalo Pinheiro. Levantar-se-á. O dia dos reis. Gravura do Zé Povinho, no jornal O António Maria, 6 de janeiro de 1881.

A música do duo Air é boa receita para a espera dos resultados de umas eleições decididas pela política e pela pandemia. Durante a campanha, destacaram-se os moralismos e os atos de fé. Nada se ganha em confundir política e moral. São domínios distintos. Nenhum grande vulto político da história da humanidade ficou conhecido pela moral ou pela transparência. Pense-se, por exemplo, em Alexandre, Dario, Ramsés, Augusto, Carlos Magno, Isabel I de Espanha, Napoleão, Lincoln, Bismarck ou Churchill, para não convocar outros demasiado óbvios. Desconfio de moralismos políticos e de políticas moralistas. Os políticos entenderam por bem inverter a ordem das coisas, subordinando as eleições à governabilidade em vez de subordinar a governabilidade aos resultados eleitorais. Em consonância, diagnósticos e projetos programáticos resultaram ofuscados por declarações de virtudes e boas intenções. E comentários, muitos comentários, sobre as insignificâncias do dia. De todas as campanhas que presenciei, no País e no estrangeiro, esta é aquela em que menos me reconheci. Lamento, porque sou apreciador de campanhas eleitorais. Neste contexto, nem alguns minutos após o fecho das urnas, ouso prever os resultados. É melhor continuar a ouvir música, de preferência temas pouco votados a moralismos transparentes, tais com Alpha Beta Gaga, Sexy Boy ou Talisman.

Air. Alpha Beta Gaga. Talkie Walkie. 2004. Binaural Live. Live performance for La Blogothèque. Paris, 2016.
Air. Sexy Boy. Moon Safari. 1998. Vivid LIVE 2017, Sydney Opera House.
Air. Talisman. Moon Safari. 1998. Binaural Live. Live performance for La Blogothèque. Paris, 2016.

Tags: , , , , , , ,

Leave a Reply

%d bloggers like this: