Urna meio vazia

A música do duo Air é boa receita para a espera dos resultados de umas eleições decididas pela política e pela pandemia. Durante a campanha, destacaram-se os moralismos e os atos de fé. Nada se ganha em confundir política e moral. São domínios distintos. Nenhum grande vulto político da história da humanidade ficou conhecido pela moral ou pela transparência. Pense-se, por exemplo, em Alexandre, Dario, Ramsés, Augusto, Carlos Magno, Isabel I de Espanha, Napoleão, Lincoln, Bismarck ou Churchill, para não convocar outros demasiado óbvios. Desconfio de moralismos políticos e de políticas moralistas. Os políticos entenderam por bem inverter a ordem das coisas, subordinando as eleições à governabilidade em vez de subordinar a governabilidade aos resultados eleitorais. Em consonância, diagnósticos e projetos programáticos resultaram ofuscados por declarações de virtudes e boas intenções. E comentários, muitos comentários, sobre as insignificâncias do dia. De todas as campanhas que presenciei, no País e no estrangeiro, esta é aquela em que menos me reconheci. Lamento, porque sou apreciador de campanhas eleitorais. Neste contexto, nem alguns minutos após o fecho das urnas, ouso prever os resultados. É melhor continuar a ouvir música, de preferência temas pouco votados a moralismos transparentes, tais com Alpha Beta Gaga, Sexy Boy ou Talisman.
Lição de moral
O anúncio The Book, do United Overseas Bank, propõe uma comovente lição de moral: 1) não devemos apropriar-nos do que pertence a outrem; 2) o valor sentimental suplanta o valor pecuniário; 3) esta sabedoria deve passar de pais para filhos. Apostado no valor da honestidade, o anúncio lembra as fábulas de Esopo e de La Fontaine. Lembra, também, as histórias dos livros da escola primária: A Carochinha e o João Ratão, o rato do campo e o rato da cidade; São Pedro e a ferradura; as unhas dos candidatos a emprego e outros ensinamentos do género. A retórica das boas maneiras prosseguia no ciclo preparatório com uma disciplina chamada, creio, civilidade.
De pé, colados às carteiras, olhos postos no poder, entoávamos as nossas cantorias:
“Vamos cantar com alegria
E começar um novo dia
Para nós o estudo só nos dá prazer
E faremos tudo, tudo para aprender.
Não encontrei a letra desta canção na Internet. Creio que não a sonhei. Cantar, não a canto, que espanto o gato. Mas, ideologias à parte, não convém apagar a memória que à memória pertence. No que me respeita, vou compassar uma nova cantiga a caminho da Universidade: vamos cantar com alegria e começar um novo dia…
Marca: United Overseas Brank – UOB. Título: The Book. Agência: BBH (Singapura). Singapura, Fevereiro 2018.
A moral e o riso
“Sair para fora, cá dentro” é um dos meus lemas preferidos. Graças à Internet, também vou ao Brasil, cá dentro, no âmbito de um projecto aliciante e inovador em torno da moral e do riso.
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O quinto cavaleiro do Apocalipse
Sábado, tenho uma comunicação em Coimbra sobre as danças da morte medievais e as imagens das embalagens de tabaco actuais. Percorri o ferro velho anti tabaco. Encontrei, entre outros, estes dois anúncios
Odeia alguém? Encoraje-o a fumar. Fumar mata! Aguente o fardo até que o fumo faça efeito. Qual é a moral?
Marca: The Anti Smoking Society. Título: Couple. Agência: Mountainview. Reino Unido, 2000.
Os fumadores caem aos molhos que nem tordos. Acidente? Predestinação? Justiça? Fumar mata. Avulso ou por atacado. Qual é a moral?
Marca: Smokenders. Título: Balcony. Agência: McCann Erickson Johannesburg. África do Sul, 2003.