O estendal

Fotografia de Álvaro Domingues

Há olhares que vêem e outros que cativam. Cativam o espanto, a vitalidade e a turbulência. A fotografia renova o olhar cansado. O fotógrafo é um alquimista, um pintor de verdades. Esta fotografia foi tirada para os lados de Almada. O Álvaro Domingues percorre todas as estradas do País, numa espécie de rota do presente insólito.

Um silo e um estendal: o pequeno e o grande, o infantil e o monstruoso, o afecto e o objecto. Em tempos de responsabilização e estetização empresarial, o silo ostenta uma pintura minimalista gigantesca. Lembra a Street Art. No estendal, três peluches. A fragilidade do mundo exposta ao ar livre. Uma alegoria do tempo: o passado, de pernas para o ar e de costas voltadas; o presente, pendurado pelas orelhas; e o futuro, a alucinação de olhos arregalados. Uma fotografia constrói um mundo, propõe um mapa mental. Em cima, à esquerda, vislumbra-se um aglomerado de prédios. Na margem, parece um apêndice do silo visitado por transportadoras. Convém não cortar as asas à imaginação para não cortar as pernas ao pensamento.

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