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Homenagem (29.11.2022)

Depois da homenagem, resta o registo com quase três horas de duração. Recomendava-se a montagem do vídeo com cortes, colagens, focagens e legendas, mas o software habitual teimou em encadear erros e abalar a paciência. É verdade que o original pesava mais de 25 GB. Segue, portanto, o registo integral, bruto, da câmara de filmar, apenas convertido a um formato vinte vezes menos pesado (1,36 GB).

Torna-se assim possível visionar a sessão a modos como sentado no lugar fixo da câmara, com a vantagem de saltar ou rever esta ou aquela passagem. Infelizmente, o som podia ser melhor, designadamente nas intervenções com recurso ao microfone. Foi esquecimento não colocar o microfone da câmara de filmar na mesa. Tal como uma fotografia de um filme perde nitidez, a gravação através de uma câmara de filmar de um som emitido por colunas perde qualidade porque as ondas são distintas.

Agradeço a iniciativa do Departamento de Sociologia, da Câmara de Melgaço e do Centro de Estudos Comunicação e Sociedade, a disponibilidade do Museu de Arqueologia Diogo de Sousa, as intervenções de Alexandra Lima, Carlos Veiga, Manoel Baptista, Madalena Oliveira, Moisés Martins e Álvaro Domingues, a interpretação do Francisco Berény Domingues, a presença do Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço e a dedicação da Rita Ribeiro, do Joaquim Costa e da Alice Matos.

Anexo o vídeo com quase toda a sessão. A parte em falta, com as primeiras danças do Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço e a receção por parte da direção do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, está disponível no seguinte link: https://tendimag.com/2022/12/05/grupo-etnografico-da-casa-do-povo-de-melgaco-inicio-da-homenagem/.

Homenagem ao Professor Albertino Gonçalves. Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, 29.11.2022. Desde a abertura pelas entidades organizadoras até ao encerramento pelo Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço

Índice
Abertura:
Joaquim Costa (Departamento de Sociologia) – 00:.0:40
Carlos Veiga (Departamento de Sociologia) – 00:05:10
Manoel Baptista (Câmara de Melgaço) – 00:18:33
Madalena Oliveira (Centro de Estudos Comunicação e Sociedade) – 27:24
Apresentação:
Moisés de Lemos Martins (Universidade do Minho) – 00:37:38
Moderação:
Alice Matos (Departamento de Sociologia) – 01:06:36
Lição “O Olhar de Deus na Cruz: o Cristo Estrábico“:
Albertino Gonçalves – 01:08:30
Momento musical:
Francisco Berény Domingues (Guitarra) – 01:49:09
Testemunho:
Álvaro Domingues (Universidade do Porto) – 02:02:52
Oferta:
Daniel Noversa (Doutoramento em Estudos Culturais) – 02:14:28
Apresentação do livro Sociologia Indisciplinada
Rita Ribeiro (Departamento de Sociologia) – 02:16:22
Dança (2ª parte):
Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço – 02:22:24

(re)encontro

O Departamento de Sociologia da Universidade do Minho, a Câmara de Melgaço e o Centro de Ciências em Comunicação entenderam por bem dedicar-me um momento de convívio na próxima terça, dia 29 de novembro, às 17:30, no museu D. Diogo de Sousa, em Braga. Suspeito que será mais uma festa do que uma cerimónia, menos fim de percurso e mais uma nova fase: “o primeiro dia do resto da vida”. Estou, em boa hora, aposentado, mas não arrumado. Intervêm Carlos Veiga, Manoel Batista, Madalena Oliveira e, em particular, Moisés de Lemos Martins, Álvaro Domingues, Rita Ribeiro, o Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço e Francisco Berény Domingues. Alice Matos e António Joaquim Costa aceitaram moderar. Pelo meio, ensaiarei corresponder com um pequeno arremedo de aula para enganar saudades. Após a apresentação do livro Sociologia Indisciplinada, será servido um alvarinho de honra, com roscas de Melgaço.

Venha! Se é antigo aluno, traga, propiciando-se, um docinho para saborear o reencontro: um charuto, de Arcos de Valdevez; uma queijada, de Barcelos; uma sameirinha ou uma tíbia, de Braga; um miguelito, de Cabeceiras de Basto; um caminhense ou cerveirense, de Caminha ou Cerveira; uma passarinha ou um sardão, de Guimarães; uma fatia de bucho doce, de Melgaço; um biscoito de milho, de Paredes de Coura; um magalhães, de Ponte da Barca; uma castanhola, de Ponte de Lima; uma rocha do pilar, da Póvoa de Lanhoso; um beneditino, de Terras do Bouro; um sidónio ou uma bola de Berlim, de Viana do Castelo; uma broinha de amor, de Vila Verde… Com alvarinho, tudo cai bem!

Discursos da montanha

Em 2021, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou Melgaço por ocasião do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço (ver https://tendimag.com/2022/08/02/a-ave-o-casal-e-a-lapide/). Sábado, dia 6 de agosto, foi a vez do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva (ver notícia da Rádio Vale do Minho: https://www.radiovaledominho.com/cinema-melgaco-tem-sabido-utilizar-este-recurso-fantastico-reconhece-o-presidente-da-ar/). Na quinta, dia 4, não parei de discursar na montanha: às 14:30 na inauguração de exposição Uma Paisagem Dita Casa, em Lamas de Mouro; ás 16:30 na mesa redonda Quem Somos os que aqui estamos?, em Castro Laboreiro; às 21:00 na apresentação, também em Castro Laboreiro, do documentário Mulheres da Raia, de Diana Gonçalves. No primeiro evento, tive o ensejo de descobrir uma calvície que mal imaginava (ver figura 1). No último, tive o prazer de reencontrar, como parceiro de mesa, o David Barbeito, atual presidente da junta da freguesia de Cristóval, então funcionário da Câmara que, há quase quarenta anos, me ajudou a resgatar os documentos municipais dos séculos XVIII e XIX que se amontoavam espalhados pelo chão numa arrecadação húmida do rés-do-chão junto com as máquinas e os materiais das obras. Muitas escadas subimos e outras tantas descemos, a carregá-los para os armários e as estantes do Salão Nobre e das Finanças. Associaram-se a esta missão o Álvaro Domingues e o Armando Malheiro. Entre os “despojos”, encontrou-se o foral de D. Manuel! Creio que esta iniciativa marcou, pelo menos simbolicamente, o início de uma política cultural sustentada que passou a distinguir o concelho de Melgaço.

O insólito normal

Fotografia de Álvaro Domingues

No anúncio City Bike, da Mate, os contextos e os movimentos territoriais inesperados cruzam-se num misto de estranheza e familiaridade. Lembram o livro Paisagens Transgénicas, de Álvaro Domingues (Museu da Imagem, 2021). O anormal é normal.

Mate. City Bike. Prudução: Quad Productions. Direção: Greg Ohrel. Canadá, Junho 2021.

Abrir a porta

Fotografia de Álvaro Domingues (Volta a Portugal, 2017)

Não sei porque escrevo, nem para quem! Não escrevo para convencer, nem sequer para seduzir. Não sou um almocreve de ideias e sentimentos. Escrevo porque me dá prazer! Com ironia e uma pitada de poesia. Gosto de dar ao mundo letras que dançam desequilibradas. Escrevo enquanto me dá prazer. Já me preocupei com as coisas e as pessoas. E pouco aprendi. As pessoas, as pessoas são fantásticas. Andam tão ocupadas. E eu a ruminar à sombra como uma vaca grávida! A ponte une mundos; a porta separa-os, mas liga e desliga. Já não estou onde estou. A porta é uma tentação. Acontece cair em melancolia, mas esta melancolia não presta, não vem de dentro mas de fora. Não aprecio a melancolia azeda, esgrimida, mas a melancolia destilada, que pinga gota a gota, depois de muito penar no alambique.

Hoje, o meu amigo faz anos, os mesmos que eu. Creio que ainda gosta destas músicas. As duas primeiras remontam aos tempos de estudante. A terceira é especial. Acompanhou-nos numa viagem entre Monção e os Arcos de Valdevez, pela estrada de Sistelo. A música é amiga da memória.

Brigada Victor Jara. Marião. Eito Fora. 1977.
Sérgio Godinho. Paula. Os Sobreviventes. 1972.
Vivaldi Concerto in C major RV 443 (largo). Intérprete: Lucie Horsch.

O estendal

Fotografia de Álvaro Domingues

Há olhares que vêem e outros que cativam. Cativam o espanto, a vitalidade e a turbulência. A fotografia renova o olhar cansado. O fotógrafo é um alquimista, um pintor de verdades. Esta fotografia foi tirada para os lados de Almada. O Álvaro Domingues percorre todas as estradas do País, numa espécie de rota do presente insólito.

Um silo e um estendal: o pequeno e o grande, o infantil e o monstruoso, o afecto e o objecto. Em tempos de responsabilização e estetização empresarial, o silo ostenta uma pintura minimalista gigantesca. Lembra a Street Art. No estendal, três peluches. A fragilidade do mundo exposta ao ar livre. Uma alegoria do tempo: o passado, de pernas para o ar e de costas voltadas; o presente, pendurado pelas orelhas; e o futuro, a alucinação de olhos arregalados. Uma fotografia constrói um mundo, propõe um mapa mental. Em cima, à esquerda, vislumbra-se um aglomerado de prédios. Na margem, parece um apêndice do silo visitado por transportadoras. Convém não cortar as asas à imaginação para não cortar as pernas ao pensamento.

Camisola com faíscas

Fotografia: Álvaro Domingues.

O Álvaro Domingues é uma inspiração abençoada. A crónica “Paisagem eléctrica com rebanho” (Público, 09/03/2019) baralha qualquer algoritmo de ideias.

Um rebanho apascenta à sombra de painéis fotovoltaicos. Talvez a lã se destine a uma nova produção de camisolas Thermotebe, as únicas com “características turboeléctricas”, capazes de resistir ao arrefecimento global. O algodão já não engana. Respeitando determinadas proporções no fabrico, a lã destas ovelhas faz faíscas.

As camisolas Thermotebe deixaram de se produzir há cerca de 20 anos, tendo alcançado nos anos oitenta um sucesso internacional espantoso (https://observador.pt/2015/02/15/tem-frio-isso-e-porque-ja-nao-existe-thermotebe/). Com a ajuda dos painéis fotovoltaicos e a boa vontade das ovelhas, reúnem-se condições para voltar a investir na produção de camisolas Thermotebe, com o lema: “Thermotebe, a camisola amiga do ambiente”.

Thermotebe. Portugal.

A montanha mágica

02. Albert Bierstadt. A Storm in the Rocky Mountains, Mt. Rosalie, 1866

02. Albert Bierstadt. A Storm in the Rocky Mountains, Mt. Rosalie, 1866.

É costume opor-se a cultura e a natureza. Quase toda a natureza é cultura. Um povo pode nunca se ter deslocado a determinada montanha, não lhe ter feito o mínimo arranhão, percorre-a, no entanto, com as suas crenças e o seu imaginário. Eleva-a, por exemplo, a um lugar mítico. O ser humano acolhe, deste modo, a natureza naquilo que a cultura tem de mais crucial: o sagrado.

Os quadros de Albert Bierstadt (1830-1902), norte-americano nascido na Alemanha, lembram as palavras de Álvaro Domingues:

“As montanhas, outrora lugares de assombração e de cavernas de dragões, eram, no imaginário do antigamente, os ossos da terra, os ligamentos sem os quais tudo se desconjuntaria, os ninhos das tempestades, o reino das nuvens, a origem das águas, os tesouros de minério, um axis mundi, uma montanha cósmica entre a Terra e o Céu” (Álvaro Domingues, Volta a Portugal, 2017, p. 54)-

As montanhas de Albert Bierstadt:

Cegonhas

 

Álvaro Domingues. Bestiário do imobiliário 2

Fotografia de Álvaro Domingues.

“Somos as cegonhas eléctricas (…) No tempo em que as crianças não percebiam nada de sexo e reprodução, o nosso emprego era transportar bebés no bico. Com a quebra da natalidade, as normas de segurança no transporte de crianças e as incubadoras, ficámos sem emprego. O resto adivinha-se: desde que nos tornamos sedentárias metemo-nos a comprar uma casa que não há como pagar. Ficou para o banco. Que se lixe. Sempre que passamos em cima, cagamos nele” (Álvaro Domingues, Bestiário do Imobiliário II. Punkto (https://www.revistapunkto.com/2013/05/bestiario-do-imobiliario-ii-alvaro_3.html).

Cegonha, escultura na Catedral de Estrasburgo

Cegonha, escultura na Catedral de Estrasburgo.

Os bebés, dizia-se, vinham de França no bico das cegonhas. A cegonha é o símbolo de Estrasburgo. Segundo a lenda, “sob a catedral de Estrasburgo, existia um lago, o Kindelsbrunnen, nome que podia ser traduzido por “poço das crianças”. Neste lago, as almas das crianças por nascer esperavam para vir ao mundo. Um gnomo gentil pegava a alma do recém-nascido com a ajuda de uma rede de ouro e entregava-o, de seguida, à cegonha para que ela pudesse entregá-lo aos pais. Os pais que desejassem um filho deviam colocar alguns pedaços de açúcar no rebordo da sua janela de modo a cativar a cegonha” (Pourquoi dit-on que les cigognes apportent les bébés ?: https://www.youtube.com/watch?v=I0cc6K_Lxlc).

Do outro lado da fronteira, na Alemanha, existe uma versão com um teor mais mitológico:

“A cegonha é a mensageira da deusa Holda, encarregada de reincarnar as almas dos defuntos nos nascituros. Nas grutas ou perto de um ponto de água, “elfos” resgatavam as almas das profundezas da terra, que a deusa reincarnava em nascituros que a cegonha levava, em seguida, aos pais” (Pourquoi dit-on que les cigognes apportent les bébés ?: https://www.youtube.com/watch?v=I0cc6K_Lxlc).

Imagem do filme Cegonhas. 2016.

Imagem do filme Cegonhas. 2016.

Com o tempo, os relatos míticos sofrem alterações. No anúncio Cegonha, da Volkswagen, o carro novo é o bebé que a cegonha terá trazido e do qual não se separa. A mulher também parece estar grávida. Conjugam-se assim dois nascimentos: o mecânico e o humano.

Marca: Volkswagen. Título: Cegonha. Agência: AlmapBBDO (São Paulo). Direcção: Claudio Borrelli. Brasil, Julho 2018.

Se me encomendassem um print para acompanhar este anúncio, não andaria longe do seguinte: o carro com fraldas electrónicas, a cegonha no capot em pose de Vitória de Samocrácia; o pai, ao volante, confuso; a mãe, ao lado, como uma Vénus de Willendorf; no banco traseiro, os filhos, mais um lugar vago para a próxima cegonha.

Filmes do Homem / A cumplicidade dos objetos

Filmes do Homem. Identidade, Memória, Fronteira.. 2018. Catálogo.

Filmes do Homem. Identidade, Memória, Fronteira.. 2018. Catálogo.

De 30 de Julho a 5 de Agosto, ocorre, em Melgaço, o Festival Filmes do Homem, organizado pela Câmara Municipal e pela associação Ao Norte. “Um evento de referência no território nacional e internacional”. Além do cinema, o Festival contempla outras actividades, tais como a fotografia. Articula-se, entre outras entidades, com o Museu do Cinema, o Espaço Memória e Fronteira, a Torre da Menagem, a Casa da Cultura, a Porta de Lamas e o Museu de Castro Laboreiro.

Melgaço, um dos municípios mais envelhecidos do País, insiste em ser dinâmico e ambicioso. Colaboro com os Filmes do Homem desde a origem. Nos últimos anos, foi incluída uma exposição de fotografia. O Álvaro Domingues  e eu próprio temos escrito os textos para os catálogos. No dia 30 de Julho, pelas 19:30, na Casa da Cultura, vão ser lançadas publicações com as fotografias e os textos correspondentes a três exposições.

Para aceder ao pdf do Catálogo dos Filmes do Homem, de 2018, carregar na imagem acima ou no seguinte endereço: file:///C:/Users/Utilizador/Downloads/Cat%C3%A1logo%20Filmes%20do%20Homem.pdf

Para aceder ao pdf do texto “A cumplicidade dos objectos”, carregar na imagem abaixo (uma mulher a preparar a terra) ou no seguinte endereço: Albertino Gonçalves. A cumplicidade dos objectos. Exposição Pedra e Pele, de João Gigante. Filmes do Homem 2018.

A amanhar a terra. Exposição a Pedra e a Pele. João Gigante. Filmes do Homem, 2018.

A amanhar a terra. Exposição A Pedra e a Pele. João Gigante. Filmes do Homem, 2018.