Camisola com faíscas
O Álvaro Domingues é uma inspiração abençoada. A crónica “Paisagem eléctrica com rebanho” (Público, 09/03/2019) baralha qualquer algoritmo de ideias.
Um rebanho apascenta à sombra de painéis fotovoltaicos. Talvez a lã se destine a uma nova produção de camisolas Thermotebe, as únicas com “características turboeléctricas”, capazes de resistir ao arrefecimento global. O algodão já não engana. Respeitando determinadas proporções no fabrico, a lã destas ovelhas faz faíscas.
As camisolas Thermotebe deixaram de se produzir há cerca de 20 anos, tendo alcançado nos anos oitenta um sucesso internacional espantoso (https://observador.pt/2015/02/15/tem-frio-isso-e-porque-ja-nao-existe-thermotebe/). Com a ajuda dos painéis fotovoltaicos e a boa vontade das ovelhas, reúnem-se condições para voltar a investir na produção de camisolas Thermotebe, com o lema: “Thermotebe, a camisola amiga do ambiente”.
As características das camisolas Thermotebe não são “turboeléctricas”, como diz o anúncio, mas sim “triboeléctricas”. “Tribo-” é um prefixo de origem grega que significa atrito. Ver, por exmplo, em https://dicionario.priberam.org/triboelectricidade
Em rigor, não é a electricidade estática que protege do frio, mas sim o facto de a camisola ser isoladora térmica. O que acontece é que quase todos os materiais que são isoladores do calor são também isoladores da electricidade. As duas características são quase indissociáveis. Sendo isoladoras da electricidade, a qual se acumula no corpo sob a forma de cargas estáticas, as roupas triboeléctricas dão estalidos quando se despem. Às escuras podem mesmo ver-se pequenas faíscas.