Correr ao ritmo da vida
A era digital alterou o trabalho, desenraizou-o. Perdeu local, horário e fronteira. As plataformas eletrónicas impõem-se como dispositivo de agenda e disciplina. São para a organização do trabalho atual o que a cadeia foi para o fordismo. Não há modo de desligar! Vêm estes desvarios a propósito de um anúncio a uma universidade: The University of Western Australia. Destaco dois eixos. Primeiro, a ideia, corrente, de que a luta pelo sucesso reside, principalmente, numa competição consigo próprio (a protagonista corre sozinha). Não se mover é parar o mundo. Segundo, a universidade deve estar em concomitância com o seu tempo (a protagonista corre no mundo actual). Nem atrás, nem à frente. Em sincronia. O impossível mora no presente à espera de ser conseguido. Há universidades que se querem à frente do seu tempo, tentadas a surfar muito à frente das ondas, porventura, no areal. Não desfazendo, este ímpeto visionário tem proporcionado um truculento caldo de asneiras. De tanto erguer a cabeça, descura-se onde pôr os pés. A University of Western Australia ocupava, em 2014, a posição 88 no Academic Ranking of World Universities (a Universidade do Porto situava-se entre 301 e 400). Estar no seu tempo não significa estar parado. O anúncio, com a ajuda da música, tem, aliás, um ritmo alucinante.
Marca: The University of Western Australia. Título: Pursue Impossible. Agência: The Brand Agency Perth. Direcção: Grant Sputore. Austrália, Maio 2015.
Mas será necessário correr? Continuar a avançar também pode ser em marcha, respeitando o ritmo de cada um. A tartaruga também venceu à lebre…