Senilidade intelectual

Ontem, fiz uma comunicação, hoje, outra, sobre “a música do inferno no imaginário medieval”. Tema insólito, indício, quem sabe, de senilidade intelectual. Ninguém acredita na existência do inferno. Ainda menos, na música do inferno. Mas o inferno existe no imaginário e na experiência do mundo. Século após século, a pegada do inferno é incomensurável.

Em jeito de ponte entre a Idade Média e os nossos dias, a comunicação culmina com o trailer do videojogo Agony (2018). O inferno teima em aquecer as nossas almas. A descida ao inferno no videojogo Agony é um tormento vertiginoso. A banda sonora condiz: arrisca desagradar. Mas, apesar das novas tecnologias, pouco se distingue das pinturas medievais. Atente-se no inferno do tríptico O Juízo Final (1467-71), de Hans Memling. O mesmo tormento, a mesma turbulência, as mesmas vertigens.

O “regime da palavra” anda esquisito. Nunca tantos falaram tanto para dizer tão pouco. Um excesso de formatação e de ladainha na Metrópolis do espírito. Uma orfandade do sentido. A ciência está muito regrada, à espera dos robots inteligentes. Nunca pensei que a ciência ingurgitasse tanta burocracia. Uma incontinência para colmatar uma avaliação que analisa as obras como melões na feira e uma perspectiva de desenvolvimento futuro que não se enxerga.

Albertino Gonçalves e Fernando Gonçalves

Agony. Videojogo. 2018.

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