Pedagogia de choque
Do ponto de vista do cidadão moderno, os atropelamentos são inadmissíveis. Demasiada imprudência, distracção e morte. A publicidade destaca-se como um dos principais meios de prevenção. Há várias formas de dissuadir o peão imprevidente: acidentes tecnicamente estetizados ou dramatizados; mortos faladores; desespero dos pais das vítimas; anjos salvadores… Predominam os anúncios que chocam e assustam. É o caso do Stunt piétons, da canadiana SAAQ (Société de l’Assurance Automobile du Québec). O anúncio recorre ao choque e ao susto. O desvio é o caminho mais avisado. Os acidentes e as vítimas, reduzidas a esqueletos, reconhecem-se no ecrã de um aparato técnico. A simulação de uma realidade pode ter mais impacto do que a própria realidade.
A pedagogia do choque e do medo não é apanágio dos regimes e das instituições totalitárias. Mais ou menos eficaz, configura um discurso do poder. A pedagogia do choque e do medo esmera-se, mas, muitas vezes, sem grandes resultados. Por exemplo, contra o tabaco ou o álcool. Tudo indica que a pedagogia do choque e do medo também é apanágio das sociedades democráticas. A prudência não está associada ao medo? O medo não sensibiliza?
Marca: SAAQ. Título: Stunt piétons. Agência: Lg2. Direcção: Olivier Labonté Lemoyne. Canadá, Novembro 2018.