Aspirações
“Expliquemos previamente a natureza complexa do riso carnavalesco. É, antes de mais, um riso festivo. Não é, portanto, uma reacção individual diante de um ou outro fato “cómico” isolado. O riso carnavalesco é em primeiro lugar património do povo (esse carácter, como dissemos, é inerente à própria natureza do carnaval); todos riem, o riso é “geral”; em segundo lugar, é universal, atinge a todas as coisas e pessoas (inclusive as que participam no carnaval), o mundo inteiro parece cómico e é percebido e considerado no seu aspecto jocoso, no seu alegre relativismo; por último, esse riso é ambivalente: alegre, cheio de alvoroço, mas ao mesmo tempo burlador e sarcástico, nega e afirma, amortalha e ressuscita simultaneamente” (Bakhtin, Mikhail, A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, São Paulo, Hucitec, 1077, p.10).
No grotesco, todos riem de tudo e de todos. Tudo é risível, nomeadamente o sagrado e o poder político. Nada permanece estável, o riso grotesco é um agitador e um baralhador do mundo. O alto é rebaixado. Tudo o que se mostra fixo é deslocado para os lugares mais inesperados. O detergente Cif no Cristo Redentor, do Rio do Janeiro, um aspirador associado a um exorcismo, outro a uma tentativa de suicídio, uma pastilha elástica liberta a Estátua da Liberdade, em Nova Iorque.
Primeiro, os aspiradores, máquinas anormalmente intrusas. Amanhã, as estátuas.
Marca: Electolux. Título: Suicide. Agência: Lowe (Shangai). Direcção: Liang Quing Song. China, 2006.
Marca: Dirt Devil. Título: The Exorcist. Produçao: Filmakademie Baden-Wurttemberg. Direcção: Andreas Roth. Alemanha, 2011.
Gosto particularmente da imprevisibilidade do Grotesco, assim como da deslocação de lugares fixos.