A Teia

René Magritte. Au Seuil de la Liberté. 1937.

René Magritte. Au Seuil de la Liberté. 1937.

Dizem os sábios que a liberdade é um estado e a libertação, um acto. Afirmam, também, que tendemos a sentir o acto, mas não o estado. À libertação opõe-se a opressão. A liberdade aumenta com a libertação e diminui com a opressão. Na segunda metade do século XX, viveram-se momentos de libertação: a descolonização, a emancipação da mulher, a independência dos países de Leste, a queda do muro de Berlim, a fragmentação da Jugoslávia e a independência de Timor Lorosae. Nas últimas décadas, não se vislumbram sinais expressivos de libertação (a não ser que se considere a Primavera Árabe uma libertação). Ao nível global, o aumento da opressão é-nos servido diariamente na bandeja mediática. Ao nível nacional, o Estado regulador cerceia as margens de liberdade, nos actos, nas palavras e nas omissões. O seu zelo estende-se a esferas outrora consideradas privadas ou íntimas. A autonomia é condicionada pela normalização, pela programação e pelo controlo. Há quem, no início dos anos 2 000, se sinta menos livre do que há três décadas atrás. Os ímpetos libertadores dos anos sessenta enrolam-se agora numa teia sem princípio nem fim. E os computadores? E a Internet? E o tribunal de Haia? E as ONG? Na verdade, o que capacita pode não libertar.

Marca: Yves Saint Laurent. Título: Femmes Modernes. Agência: CLM & Team. França, 1973.

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One response to “A Teia”

  1. Beatriz Martins says :

    Nesta teia toda, fico-me pela ação!

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