Sociologia sem palavras 4. À americana

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Há Festa na Aldeia é o primeiro filme de Jacques Tati (1949). Com a festa, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. As pessoas mergulham numa metamorfose efémera. O carteiro é, neste filme, um caso extremo. Ludibriado por dois malandros, com a cumplicidade dos conterrâneos, o carteiro persegue a ilusão de ser carteiro à americana, num filme pautado pela diversidade de tempos e de ritmos sociais.
Jacques Tati promove, com subtileza, uma crítica acutilante à sociedade moderna. A última cena do vídeo é uma farpa feroz à irracionalidade da racionalidade técnica: um homem está no fundo de um poço; o carteiro envia-lhe a carta num balde; e prossegue o giro…
O filme dedica vinte minutos ao giro do carteiro à americana. A alucinação acaba com um mergulho em profunda água fria. Foi-se o “sonho americano”, resta “todo o tempo do mundo”, um tempo plural, descontraído e distraído.
Uma pequena nota: a estreia do filme foi adiada quase um ano devido aos protestos dos carteiros franceses.

Jacques Tati. Jour de Fête. França. 1949.

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One response to “Sociologia sem palavras 4. À americana”

  1. Fernando Peixoto says :

    Ironia, humor, sátira!
    Uma referência incontornável que nos guia pelos caminhos de uma modernidade difusa. Ilusão, sonho ou simplesmente o homem na sua natureza mais recôndita.
    A vida em estado (quase) puro…

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