Morrer a rir

Philippe de Champaigne. Still Life With a Skull, c. 1671. Neste quadro, estão representadas três componentes da existência: a vida, a morte e o tempo.
O homem é o único animal que ri (Aristóteles). “Rir é apanágio do homem” (François Rabelais). “O riso é satânico, é, por isso, profundamente humano” (Charles Baudelaire). Mas o riso não é apenas apanágio do homem, é um expoente da vida humana. O riso é uma das marcas mais eloquentes da vida. “Rir é viver profundamente” (Mílan Kundera). “Estamos neste mundo para rir. Não o poderemos fazer no purgatório e no inferno. E no paraíso isso não seria conveniente” (Jules Renard). Sabemos que caminhamos para a morte e, perante esta ocorrência inelutável, a única ferramenta que nos resta é o riso (Umberto Eco).
Apanágio, expoente e adjuvante da vida humana, o riso opõe-se à morte. Mas o grotesco tem artes de dobrar o mundo e aproximar, assim, os extremos. O riso e a morte acabam por se entrelaçar. Nas imagens em que a morte ri ou em expressões como “morrer de riso”. A morte risonha e o riso da morte.
Neste anúncio, o protagonista não morre de riso, morre a rir, vítima de um acidente mortal. Estamos perante uma forma atravessada de humor. O riso é contagioso. Toma-se-lhe o pulso e o gosto. Mas neste anúncio, mal o riso emerge, é logo cortado pela raiz. Fica preso no elevador das sensações. O acidente é cómico. Condiz com os preceitos de Henri Bergson. Mas o riso entalou-se na porta: metade fora, cor-de-rosa; metade dentro, amarelo. Este Armchair, da Paramount Comedy, é peça de humor macabro. Memento mori! (Carregar na imagem para aceder ao vídeo).
Marca: Paramount Comedy. Título: Armchair. Agência: Red cell spa. Itália, 2005.
Ainda que macabro, valha-nos o humano de uma boa gargalhada!