Alívio

Os anúncios Casket (caixão) e Buried (sepultado), para o laxativo Prunelax, aproximam-se do cúmulo do grotesco. Um disgusto, duas piadas curtas a tresandar mau gosto. O tema, a disenteria, propicia-se. Num escasso minuto (2X30s), convocam os principais tópicos do rebaixamento, do “baixo material e corporal”:
Lugares rasteiros e de absorção – a terra, o túmulo, o caixão, o corpo, o nariz, o ventre e os pés;
Protagonistas – o cadáver, a velha, a coveira, o cego (defeituoso) e o animal (cão);
Fenómenos e práticas – diarreia, flatulência, pestilência, lambidela, exumação, queda, susto, pavor, alívio e riso.
Um dos traços mais caraterísticos do grotesco consiste no cotejo dos opostos. Neste caso, o enquadramento funciona como contraste: remete para símbolos valorizados pelo imaginário coletivo: a igreja, o sagrado religioso; a floresta, o santuário natural. Como diz o provérbio: “No melhor pano cai a nódoa”.
Obscuros, macabros e quase demoníacos, estes dois anúncios da Prunelax sugerem uma mudança na estratégia de marketing e publicidade. Uma inversão na imagem da marca. “Prunelax relaunches using ‘dark humour’ in disruptive new campaign” (Campaign Brief: https://campaignbrief.com/prunelax-relaunches-using-dark-humour-in-disruptive-new-campaign-via-five-by-five-global/ ). Meses antes, os anúncios evidenciavam-se leves, luminosos e quase angélicos (ver vídeos 3 e 4). Casket e Buried foram publicados nos meses de agosto e setembro; Say Goodnight To Constipation e Overnight Relief , em março e junho. A alusão a uma viragem estratégica resume-se a uma hipótese relativamente fundada. Carece, contudo, de mais informação. Existem leituras alternativas plausíveis. Por exemplo, os primeiros anúncios são de origem australiana, os segundos norte-americana, o que não é inócuo. As marcas podem adotar políticas de publicidade distintas consoante os momentos mas também as filiais e as agências. Convém desconfiar das causalidades únicas e lineares.
Humor frutado
“L’homme n’est ni ange ni bête, et le malheur veut que qui veut faire l’ange fait la bête” (Blaise Pascal, Pensées).
“O homem nem é anjo nem é besta, e o infortúnio dita que quem quer fazer de anjo faz de besta”.
Humor macabro destilado nos alambiques da consciencialização rumo a uma prevenção provavelmente eficaz entre os humanos. Qual será a opinião dos vermes?
Anunciante: Canadian Cancer Society. Título: Operating room. Agência: Rethink. Direcção: Michael Schmidt. Canadá, Janeiro 2015.
Morrer a rir

Philippe de Champaigne. Still Life With a Skull, c. 1671. Neste quadro, estão representadas três componentes da existência: a vida, a morte e o tempo.
O homem é o único animal que ri (Aristóteles). “Rir é apanágio do homem” (François Rabelais). “O riso é satânico, é, por isso, profundamente humano” (Charles Baudelaire). Mas o riso não é apenas apanágio do homem, é um expoente da vida humana. O riso é uma das marcas mais eloquentes da vida. “Rir é viver profundamente” (Mílan Kundera). “Estamos neste mundo para rir. Não o poderemos fazer no purgatório e no inferno. E no paraíso isso não seria conveniente” (Jules Renard). Sabemos que caminhamos para a morte e, perante esta ocorrência inelutável, a única ferramenta que nos resta é o riso (Umberto Eco).
Apanágio, expoente e adjuvante da vida humana, o riso opõe-se à morte. Mas o grotesco tem artes de dobrar o mundo e aproximar, assim, os extremos. O riso e a morte acabam por se entrelaçar. Nas imagens em que a morte ri ou em expressões como “morrer de riso”. A morte risonha e o riso da morte.
Neste anúncio, o protagonista não morre de riso, morre a rir, vítima de um acidente mortal. Estamos perante uma forma atravessada de humor. O riso é contagioso. Toma-se-lhe o pulso e o gosto. Mas neste anúncio, mal o riso emerge, é logo cortado pela raiz. Fica preso no elevador das sensações. O acidente é cómico. Condiz com os preceitos de Henri Bergson. Mas o riso entalou-se na porta: metade fora, cor-de-rosa; metade dentro, amarelo. Este Armchair, da Paramount Comedy, é peça de humor macabro. Memento mori! (Carregar na imagem para aceder ao vídeo).
Marca: Paramount Comedy. Título: Armchair. Agência: Red cell spa. Itália, 2005.
Move on to hell
Um anúncio indiano fantasmagórico: sete palmos abaixo da terra, procuram-se óculos!
Anunciante: Fastrack. Título: Move on to hell. Agência: Fisheye Creative Solutions, Bangalore. Índia, Dezembro 2012.
Corta!
Corta! Corta! Corta! Estas cenas de filmagem comportam tantos cortes que sobram apenas as cabeças. Humor brasileiro desinibido e macabro. Trata-se, no entanto, de ficção: o vídeo é brasileiro e retalha corpos; não é português, nem adapta salários.
Marca: São Paulo Creative Club. Título: Gold Magic. Agência: Borghierh/Lowe Prodigo. Direção: Vellas & Laga. Brasil. Abril 2012.