Chuteiras bestiais

Tudo me lembra alguma coisa. Idade a mais, criatividade a menos. Sintonizo-me com a sociedade em que dizem que vivo. Nenhuma outra a sucede. É a última; e não avança. É tão “após”; e tão pouco “antes”! Pós-industrial, pós-colonial, pós-moderna, pós 11 de Setembro… Os milenaristas, os iluministas, os modernos e os marxistas erguiam a cabeça e viam a ponta do nariz. Entretanto, acabaram-se as grandes narrativas, a prevalência dos projectos e, até, a própria história. Somos a primeira sociedade orgulhosamente órfã do futuro! Consta que agarramos o presente… O presente não se agarra, vive-se. Faz-se. Para além da idade e da falta de criatividade, vivo nesta sociedade da repetição. Nestes moldes, recordar pode parecer  um desperdício. Quem não espera o futuro não tem por que se sentar no passado.


Marca: Adidas. Título: Instinct takes over. Internacional, Agosto 2014.

Vêm estes depautérios a propósito do último anúncio da Adidas: Instinct Takes Over. Em sequência acelerada e sincopada, o futebolista turco Mesut Özil é associado a diversos animais, cuja potência simbólica reverte para as chuteiras Predator. Pois, o anúncio lembra-me coisas antigas. Lembra-me as gravuras de quatro artistas, todos com um artigo no Tendências do Imaginário:

Giambattista della Porta (1535-1615): http://tendimag.com/2012/08/26/homens-e-bestas/
Ticiano Vecellio (c. 1485-1576): http://tendimag.com/2012/08/27/homens-e-bestas-2/
Peter Paul Rubens (1577-1640): http://tendimag.com/2012/08/29/homens-e-bestas-3/
Charles Le Brun (1619-1690): http://tendimag.com/2012/09/03/homens-e-bestas-4-charles-le-brun/.

Por estranho que pareça, recordar também pode ser uma forma de tomar balanço.

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One response to “Chuteiras bestiais”

  1. Beatriz Martins says :

    De facto, como após, se não vivemos o antes?

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