A causa e a coisa
Fazer de conta que o mundo começou ontem ou recomeça hoje é um erro. Um erro de miopia. O recurso a causas para vender coisas é um subterfúgio tão antigo quanto a própria publicidade. Lançado em 1940, o anúncio Le Colis Africain, da marca Artic, pode ser encarado como um protótipo:
“Por tudo quanto é mundo, os belgas enviaram testemunhos da sua generosidade”; o Comité “para o bem-estar dos indígenas da nossa colónia” assume como “objectivo enviar a cada um dos pobres negros o que de melhor existe na Bélgica para refresco sadio: um chocolate gelado Artic”.
Não obstante a antiguidade do dispositivo, os anúncios que vendem coisas com causas não deixaram de inovar. Evoluiu a técnica, bem como a arte do eufemismo e da embalagem, capaz de sublimar o acto de vender coisas com causas em gesto magnânimo de responsabilidade social. Aderimos, hoje, a coisas com causas com refrescado gosto e grata vontade.
Marca: Artic. Título: Le Colis Africain. Bélgica (Luxemburgo?). 1940.