Flores do Mal
“O mal é como uma mula: obstinado e estéril.”
(Victor Hugo)
Os maus sentimentos não nos largam. Pecamos por pensamentos, palavras, actos e omissões. As molas da maldade disparam rápido e com outro alcance. Vivemos tempos em que o mal e o bem se misturam num tango confuso. Os anjos descem ao inferno para um banquete com os demónios, incorrendo num dos sete pecados capitais: a gula (anúncio The Feast of the Third Kind).
Marca: Le Boeuf. Título: The Feast of Third Kind. Agência: Toy Agency, Paris. Direção: Simn Ritzler. França, Junho 2013.
Somos intolerantes ao excesso de doçura ou de inocência, atirando-as às flores do purgatório (anúncio Sally). A maldade existe. Quem sustentar o contrário, para o presente ou para o futuro, pode tornar-se perigoso. Quem não teve, na última semana, um gesto, um pensamento ou um sentimento eivado de maldade merece um santuário.
Marca: Bournville. Título: Sally. Agência: Ogilvy & Mather Mumbai. Índia, Junho 2013.
O mal percorre-nos. Nada que a publicidade ignore. A publicidade publica-se, mas também se consome. E o consumo é criativo. A publicidade conhece bem os seres humanos, tanto ou mais do que os centros científicos, os meios de comunicação, as sete artes ou as tribunas políticas. Interage com o social e o humano há séculos, ininterrupta e intensivamente, com os melhores profissionais e especialistas. Estuda-os, estimula-os, influencia-os e escuta-os. Sabe que o mal vende e que a aposta na maldade compensa. Todos somos excelentes violinos com cordas desafinadas, emocionalmente funestas. As flores do mal, podemos não as semear, mas não resistimos a cheirá-las. Entre o anunciante e o consumidor, a maldade é partilhada e, cada vez mais, ritualizada. Salivamos, pavlovianamente ou não, perante o desfile da perversidade e do infortúnio (anúncio Swim).
Os vídeos que mais circulam na internet não são os mais artísticos ou os mais generosos, mas os mais pérfidos. Para ilustrar este tópico, seleccionei quatro anúncios recentes. O último anúncio (Silence the Troll), excessivo na assunção da maldade, lembra o filme de Stanley Kubrick, A Laranja Mecânica (1971), uma obra-prima do género (ver trailer da reedição do 40º aniversário).
Marca: V Energy Drink. Título: Silence the Troll. Agência: Albion London. Direção: Adam Gunser. Reino Unido, Junho 2013.
Stanley Kubrick. A Laranja Mecânica. 1971. Trailer da reedição do 40º aniversário.