Homens e Bestas

A associação entre as morfologias humana e animal remonta, pelo menos, à Antiguidade. Às respetivas afinidades corresponderiam semelhanças ao nível das tendências de carácter. Por exemplo, nariz em forma de bico de corvo significaria descaramento; de galo, luxúria; e de águia, generosidade. Por sua vez, olhos de carneiro revelam depravação; os de cervo, espiritualidade; e os de burro, loucura. Pelos vistos, Aristóteles navegou por estas águas, particularmente férteis durante a Idade Média, período em que as fronteiras entre reinos, incluindo o humano e o animal, se esbatem e o hibridismo se propaga na decoração das igrejas, nos romances, nos livros de horas e, a partir do século XV, nos grotescos. Giambattista della Porta (1535-1615), sábio italiano renascentista associado, por muitos, à história da câmara escura, dedicou-se, entre várias atividades, à fisiognomonia. Em 1586, publicou De humana physiognomonia, que comporta quatro livros. Provém de esta obra a maior parte das imagens que seguem. Pode consultar-se e “descargar” a edição de 1644 (Della fisionomia dell’huomo), agora com seis livros, no seguinte endereço da Bibliothèque nationale de France: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k51316f.r=Giambattista+della+Porta.langPT. Sobre estas “fisiognomonias”, a principal referência da História da Arte parece-nos ser Baltrusaitis, Jurgis (1995), Les Perspectives dépravées. Tome 1: Aberrations, Paris, Flammarion. Do ponto de vista da sociologia, pode consultar-se Dumont, Martine (1984), “Le succès mondain d’une fausse science: la physiognomonie de Johann Kaspar Lavater”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº54, pp. 2-30.

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  1. Chuteiras bestiais | Tendências do imaginário - Agosto 15, 2014

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